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31/03/2012

Em tempo de guerra, a primeira vítima é a verdade


Foi por volta do meio-dia de 1 de Fevereiro de 1968 que o General Nguyen Ngoc Loan executou sumariamente um prisioneiro Viet Cong nas ruas de Saigão, durante a Ofensiva de Tet. Quase por acaso, Eddie Adams, um fotógrafo da AP, captou a fotografia que viria a ser uma das mais icónicas da guerra e a perfeita analogia para o desconforto que tal guerra causava entre a opinião pública mundial. (Também há o vídeo, captado por Vo Suu para a NBC).
O que a fotografia e o vídeo mostram à primeira vista é o à vontade do General, um esgar de raiva do soldado que observa no canto esquerdo e o medo patente no rosto do jovem indefeso, com as mãos algemadas, perante uma indiferença generalizada dos que os circundam, num acto de total desumanidade e desrespeito pelos mais básicos valores e direitos humanos. Mas a realidade nunca é bem assim. Não se sabe ao certo o nome da vítima (frequentemente apontada como Nguyem Van Lem), mas, independentemente do seu nome, sabe-se que era um 'oficial' norte-vietnamita, que comandaria uma brigada da morte, que tinha sido apanhado a matar não só oficiais sul-vietnamitas, próximos do general Loan, como as respectivas famílias.
"O general matou o Viet Cong; eu matei o general com a minha câmara. As fotografias são a arma mais poderosa no mundo, as pessoas acreditam nelas, mas as fotografias mentem, mesmo sem manipulação. Elas são apenas meias-verdades... o que a fotografia não disse foi: o que é que você faria se fosse o general naquela altura e lugar, naquele dia quente, e apanhasse o dito mauzão depois dele matar um, dois ou três americanos?"
Eddie Adams
Para o desafio de Março da Fábrica de Letras, subordinado ao tema "Fotografia"


*Citação de Boake Carter


Nine Inch Nails - The Great Below

03/12/2011

A liberdade de sonhar

"I have no idea to this day what those two Italian ladies were singing about. Truth is, I don't wanna know. Some things are best left unsaid. I'd like to think they were singing about something so beautiful it can't be expressed in words, and it makes your heart ache because of it. I tell you those voices soared, higher and farther than anybody in a grey place dares to dream. It was like some beautiful bird flapped into our drab little cage and made these walls dissolve away, and for the briefest of moments, every last man in Shawshank felt free."


Os condenados de Shawshank - Sull'Aria (As bodas de Fígaro) de Mozart

04/08/2011

Comentário político de alto gabarito





É só isto. Acho que são parecidos.

07/05/2011

Um pouco de patriotismo não faz mal a ninguém. *

"Em resposta à anunciada intenção da Finlândia não alinhar no empréstimo da União Europeia a Portugal, eis um vídeo capaz de levantar o moral de qualquer português. E onde não faltam umas quantas alfinetadas aos nossos amigos finlandeses..."




* Mesmo que no final nos saiba a muito. O pessoal não está habituado...

P.S. (depois de aturada discussão noutras plataformas) - É certo que tem incorrecções, inexactidões, suposições, etc e tal, e tem alguns aspectos que podem ser conotados com uma perspectiva demagógico-nacionalista (se estiverem muito inclinados para aí. Muito inclinados, mesmo), mas é convicção dos autores deste blogue que a política tem pouco interesse no que à comédia e a vídeos engraçados diz respeito e o ponto principal a reter é esse: é um vídeo engraçado. Claro que também apreciamos o facto deste vídeo assentar em informação sobre Portugal que muita gente desconhece de facto, alguma até colocada numa perspectiva negativa, como o facto de sermos o país com mais títulos de um "desporto que não se pratica em mais lado nenhum" ou o facto de sermos o único país que nunca ganhou o festival da Eurovisão, naquilo que poderá ser visto como uma crítica às nossas próprias representações...  Mas se olharmos para este vídeo como algo simples, que alia até algum conhecimento a um fino humor - veja-se o exemplo da secção respeitante ao vinho Rosé, "We invented Rosé, we sell Rosé, we don't drink Rosé" -, ganharemos mais, até porque aprendi uma ou duas coisas que desconhecia ao ver este vídeo. A discussão relativamente ao futuro de Portugal é uma reflexão pertinente, claro, mas não é este vídeo o culpado da situação a que chegámos e os criativos que o fizeram não serão os inimigos do desenvolvimento de Portugal... mas cada um com a sua.

30/04/2011

Incendiários

Através da arte, da política, da manifestação social, da loucura, do desespero. O mais difícil é acender o rastilho.
 
(Este vídeo pode ser considerado demasiado gráfico e violento)




11/03/2011

Revolucionários reaccionários

Faz-me muita confusão Irrita-me que apareçam cada vez mais vozes contra a manifestação de dia 12. Não me estranha que haja gente contra, porque uma pessoa vai aprendendo ao longo da vida que há gente para tudo, mas, concorde-se ou não com a manifestação, não se pode certamente fazer dela aquilo que ela não é, ou seja, uma manifestação de uma geração contra as outras gerações. Poderá discutir-se isso, eu tenho argumentos importantes nessa discussão, mas que toda a gente perceba que isso não é o que interessa discutir agora.
Tem-se assistido nos últimos dias a vários debates sobre a manifestação e em todos eles relevaram, não o estado do país nem a questão dos recibos verdes ou as possíveis soluções para alguns desses males que afectam, maioritariamente, os jovens, e também os outros cidadãos, numa transversalidade geracional que deveria envergonhar toda a gente, mas sim o escalonamento do sofrimento por geração ao longo dos diferentes períodos históricos que vão desde o passado vivo mais longínquo ao presente."Quem sofre(u) mais?" Perguntam os vários analistas e comentadores, baseando-se nos dados mais irrefutáveis. Não respondem, concordando no entanto que, seja a geração que for, não será certamente a geração dos 30.
E o que se pode dizer a isto?
Têm razão. Podemos dizer que sim, que provavelmente têm razão e que não é a geração dos 30 que está "mais" à rasca. E depois podemos perguntar o que é que isso interessa? O que visam conseguir com esta contra-manifestação? Se são os velhos sem pensões ou com pensões tão baixas que têm de andar no meio do lixo à procura de comida que estão à rasca ou se são os nossos pais e tios de 40/50/60 anos "muito jovens para a reforma, muito velhos para aprender um novo ofício", concordaremos que mais do que uma questão geracional é uma questão nacional, e, sendo assim, não deveriam também eles juntar-se à manifestação?
A sério que não percebo esta corrente reaccionária que vem desde o Marcelo Rebelo de Sousa, passando pelo Miguel Sousa Tavares, até à Constança Cunha e Sá, sem esquecer os jornalistas que se desviam do que é essencial e que não fazem as perguntas difíceis, todos eles contestatários do Governo, e que vêm agora reagir contra quem quer fazer alguma coisa ao nível dessa contestação.
O nome da manifestação não será o mais correcto, por ventura. Concordo plenamente, mas há que convir que foi meia dúzia de pessoas a tomar o primeiro passo e a fazer alguma coisa para que a situação mude, independentemente da sua capacidade de Marketing e mobilização. Campanhas apelativas e demagógicas, que apelam a tudo e todos, são feitas pelos partidos (veja-se o caso do Tea Party, nos Estados Unidos), mas será isso o mais desejável? É isso que querem? Para quê discutir miudices quando se pode aproveitar este movimento para discutir coisas importantes. Quem faz birra afinal? Onde está o mal de haver uma manifestação de pessoas insatisfeitas que querem pedir aos governantes que trabalhem mais e melhor, que querem apresentar soluções, que querem dizer para contar com eles? Haverá mal algum em pressionar o governo para que tome medidas, mesmo que se facilite o despedimento dos célebres "in" do sistema contratual, para acabar com os recibos verdes dos que estão "out"? Haverá mal algum se as pessoas exigirem, como se vê na Suíça, um tecto nas reformas e nos salários de toda a gente e das empresas públicas, a fim de aumentar as pensões mais baixas, por exemplo? Haverá mal na sugestão do fim das empresas municipais que sugam dinheiro e contraem empréstimos a fim de esconderem as dívidas municipais, para aumentarem os sacos coloridos que escondem e dividem entre amigos? Eu acho que não, mas há pessoas, muitas pessoas, infelizmente, que continuam a ver o desenvolvimento social de um país ao nível do poder conquistado e não do partilhado. Ou se manifestam contra o que está mal e apresentam soluções ou acham que está tudo bem, mas não critiquem quem está a fazer alguma coisa POR SI E PELO PAÍS só porque não gostam da retórica ou dos cartazes quando cada vez mais se assistem a episódios, que são sintomas de quebras sociais que tendem a agravar-se e a fazer ruir o espírito social e comunitário de um país com consequências imprevisíveis.
E porque não sair agora e aproveitar para ajudar a contestar, surgindo com ideias, apoiando as dos outros, criticando as ideais erradas, quase como se se tratasse de um amigo bêbado que vai para a pancada, e ajudar nos protestos e ajudar o amigo bêbado que apesar de trôpego, tem alguma razão? E afinal, quem estará a fazer uma birra?

(João Freire)



P.S. - Post baseado num comentário a um post, com um texto que anda a circular na net, num blogue que sigo e do qual gosto.

01/03/2011

Dos parvos e parvas ao risco de dispersão

Haverá parvos que estudaram e são escravos? Claro que sim. Haverá parvos a escrever para o Destak? Claro que sim. O bom da parvoíce é o seu pendor democrático e maleável. Cabe em todo o lado, ataca todo o tipo de gente, e não é raro ver pessoas sãs a tomar atitudes parvas. Não são parvas mas fazem parvoíces. Claro que a linha entre uma deontologia e ontologia da parvoíce é ténue e por vezes indecifrável, mas quero acreditar sinceramente que no caso do editorial da Isabel Stilwell foi apenas um texto parvo. É a generalização que me custa e eu que estudei a ciência da generalização importo-me com esse aspecto, pois quando se diz que “se estudaram e são escravos, são parvos de facto”, está-se a colocar toda a gente que estudou e se encontra em precariedade no mesmo saco, desde logo os parvos, que existirão também, e os outros que, tendo gasto “o dinheiro dos pais e o dos nossos impostos a estudar”, aprenderam muita coisa mas não conseguem entrar no mercado de trabalho, por muito que procurem. Claro que não são escravos no sentido literal da palavra, nem sequer estão queimados do sol, pois trabalham, não andam de tanga, recebem algum dinheiro e até têm alguns luxos, como o direito à manifestação e à Internet, e perdoe-se os jovens e os “Deolinda” que a conduziram ao engano do sentido da palavra escravo. Terão utilizado uma palavra exagerada para designar uma preocupação que não tem nada de exagero. A verdade é que muita gente estudou o caparro durante anos, pensando que essa via podia permitir-lhe uma vida melhor, para no fim descobrir que essa vida não chegaria tão facilmente. E ninguém compreendia esse facto. O aumento exponencial de licenciados contrapunha-se a um tempo não muito longínquo em que todos os Doutores se empregavam ao sair das Universidades. Esse é que era o tempo dos verdadeiros Doutores, que ainda hoje utilizam esse vocábulo como nome próprio. Agora, mesmo procurando, indo a consecutivas entrevistas, chorando, lutando, arranjando outros trabalhos, consegue-se, mas demora mais tempo, custa mais e recebe-se menos, ao abrigo de contratos que não oferecem regalias nenhumas, mantendo os Licenciados à tangente do mercado de trabalho real. Mas não se pense que é só a precariedade ou uma dor de crescimento dos jovens, que são os jovens a lutar por si. Não, a ferida vai mais fundo. É certo que é um movimento propulsionado pelos jovens, um movimento que nasce na comunicação entre os jovens, mas é um movimento de partilha, de partilha de histórias de indignação que afectam a todos, das crianças aos velhos, um movimento que comunga da constatação de que caminhamos para algo pior e de que é preciso fazer algo quanto antes. Assim nasce uma manifestação. Mas o que farão os jovens, perguntar-lhes-ão debaixo dos holofotes, debaixo de sorrisos, enquanto os vêem a gaguejar com os cartazes na mão cheios de reivindicações avulsas. E a resposta terá de ser: nada! Não temos de fazer nada, ninguém, para além dos políticos, tem de fazer nada, para isso os elegemos. Podemos ajudar, podemos discutir soluções e levá-las ao conhecimento de quem de direito, podemos continuar a trabalhar para aumentar a produtividade do país, mesmo naqueles empregos de merda que nos sufocam, mas nós não temos de governar. Há no entanto algo que podemos fazer e esse terá de ser o objectivo da manifestação que se avizinha. Há que mostrar que há muita coisa mal, que ninguém está satisfeito e que eles têm de governar melhor, e é esse o único “basta” que pode ser gritado dia 12, lembrando-lhes que têm de governar para o povo e não apesar do povo. A verdade é que a democracia, nos moldes em que se tem apresentado em Portugal, não tem funcionado (basta ver uma discussão parlamentar para perceber isso). Todos nós estamos habituados a trabalhar com pessoas de quem não gostamos, debaixo de ideias que não defendemos, mas todos fazemos o nosso trabalho, trabalhando para o sucesso da nossa organização e da tarefa que temos em mãos. Mas na política isso não acontece. Não há clareza, não há rumo, não há transparência e não há seguramente um compromisso político pelo bem comum. O poder, mais do que uma ferramenta, é o objectivo – é essa a ideia que passa para os cidadãos – e, quando se alcança, o poder não se usa em favor do bem comum, mas apenas e só em favor… E isso é que tem de acabar, é isso que basta e é esse grito que importará fazer dia 12..


(João Freire)

12/02/2011

Mind The (generation) Gap - Uma revolução diferente

Houve um tempo em que o sistema educativo de Portugal funcionava, um tempo em que as crianças aprendiam na escola a identificar os rios todos de Portugal de Norte ao sul, da nascente à foz - contando com os afluentes, claro -, assim como os nomes das províncias de aquém e de além-mar e sabiam a tabuada de trás para a frente e de frente para trás, de cor e salteado.
Uma quarta classe bem tirada nesse tempo equivaleria hoje a uma licenciatura.
Era um país melhor, num tempo melhor, com gente melhor lá dentro, com trabalho, saúde e dinheiro.
Tretas!
Foi nessa altura que nascemos.
Esse mundo era o nosso país, orgulhosamente fechado, onde tudo era produzido e tudo era consumido, onde todos os que arranjavam trabalho, de aprendizes a mestres, garantiam um emprego para a vida, com direitos e regalias, uma família, um carro e uma casa.
Com a liberdade, um estado social ao nível dos melhores, e Portugal na bolina rumo ao desenvolvimento.
Tínhamos tudo à mão de semear, uma mão beijada, sem trabalho nem esforço e tudo graças a essas gerações que tinham combatido lá fora e cá dentro por nós, seus filhos e netos, e pela liberdade e prosperidade de Portugal. E nós, esses mesmos filhos e netos, não lhes dávamos o devido valor. Não sabíamos nada, diziam. Crescemos em Portugal com esse estigma, mas apenas estávamos desinteressados. Estudámos até tarde sem nos preocuparmos em ter um trabalho aos 20 e uma família constituída aos 30, ouvíamos música e saíamos à noite com os amigos, a geração dos doutores e engenheiros que não sabia o que era a vida real.
Entretanto o mundo real transformava-se e Portugal acompanhava essa transformação. A adesão à CEE, os fundos europeus, a moeda única, o mercado global, um castelo de cartas apoiado em nada que viria a desmoronar-se.
A geração que conquistara tanta coisa perdera tudo. A escola que os ensinara tão bem não os preparara para este novo mundo para lá de Vilar-Formoso, cheio de tecnologia e informação, o trabalho que tanto cultivaram era deslocado para um país longínquo e a vida que planearam desde a infância fugia-lhes debaixo dos pés para nunca mais voltar.
Os jovens por outro lado habituavam-se facilmente a este novo mundo de telemóveis, Internet e recibos verdes (a precariedade sempre fizera parte da vida profissional deles). Os novos trabalhos pareciam feitos à medida deles.
Uma geração de Doutores e Engenheiros a trabalhar no atendimento ao cliente, a servir mesas, a distribuir panfletos nas caixas de correio, a vender de porta-a-porta, até a trabalhar na agricultura! E sempre a precariedade.
Os mais velhos, incapazes de lutar neste novo mundo que lhes fugiu ao controlo, demasiado velhos para trabalhar e ainda longe da idade da reforma, olham agora para os seus direitos adquiridos com alívio, reformando-se mais cedo, afundando ainda mais o sistema que conduziram desde o seu apogeu à falência, à custa de uma geração cheia de deveres mas que nunca terá os mesmos direitos.
Mas há uma revolução que se avizinha. Não será a revolução de golpe-de-estado que vemos anunciada a cada dia quando sobe a gasolina ou se instalam os pórticos nas SCUT, mas uma mais importante, uma revolução moral, apolítica, assente em valores filosóficos e não económicos.
Nunca perceberam que o nosso desinteresse era condescendente.
E será esta geração, a geração que vos serve às mesas, atende os telefones e lhes vende o pacote de TV, telefone e Internet a protagonizar essa revolução, fazendo o seu trabalho, o melhor que sabe, mostrando-se preparada para fazer qualquer coisa, em qualquer lugar, em qualquer condição, ocupando passo-a-passo os lugares de poder de um mundo que já não é o país, um mundo tecnológico, interligado, que exige os mais variados conhecimentos, um mundo no qual a tabuada terá pouca importância e a nascente do rio Mondego não terá nenhuma… e fá-lo-emos muito melhor, a recibos verdes, se for preciso, para lhes pagarmos as reformas.

(João Freire)

Revolution - Jim Sturgess

03/02/2011

Coisas que vou aprendendo nestes dias

Sobre a Justiça
Os julgamentos resolvem-se sempre com uma refeição e um acordo entre a defesa e a acusação A diferença entre o sistema português e, por exemplo, o americano, é que neste último a refeição acontece antes da papelada, do tempo perdido e do dinheiro gasto.

Sobre festivais
Super Bock Super Rock (SBSR) ou Optimus Alive? Até agora, o SBSR está à frente.

Sobre o acordo ortográfico
Alguma comunicação social diz que há problemas no Egipto, outra parte diz que há problemas no Egito e há outra parte ainda que, mais precavida nestas discussões, diz que há problemas no Cairo.

Sobre o Facebook
 Tenho recebido avisos de que fui inscrito em grupos de várias pessoas, na sua maior parte grupos elogiosos, como "top" "amigos", etc. Não sabia que a constituição desses grupos era pública. Felizmente que não pus em prática a constituição dos meus grupos "amigos" e "pessoas que não interessam nem ao menino Jesus".

Sobre passeios
Já passeei com cães, já passeei com sobrinhos, mesmo bebés... mas o sorriso delas é sempre mais aberto quando nos vêem de braço dado com a avó.


No Hay Problema - Pink Martini Orchestra

23/01/2011

Fernando Nobre

No programa "Grandes Portugueses" ficou em 25º lugar. Dos vivos, não sei se inclua Mário Soares, só Mourinho, Pinto da Costa e Eusébio ficaram à frente. Nenhum destes se candidatou. Todos reconhecemos o seu trabalho à frente da AMI (Assistência Médica Internacional), a sua coragem, o seu carácter e a sua frontalidade. Sendo assim, uma vez que tivemos a oportunidade de eleger um grande cidadão para Presidente da República, porque é que não o fizemos?
Há uma onda de vozes que se ouve a gritar por políticos novos, por pessoas novas fora das esferas partidárias e dos interesses económicos, mas quando surge a oportunidade de fazer alguma coisa por isso ninguém faz nada. Grita-se por revolução, mas é um grito inócuo, um grito vazio que tem por objectivo o nada. É a revolução pela revolução. Sem ideias nem ideais não há revolução que aguente. Para mim faz sentido uma revolução se for para meter lá pessoas como o Fernando Nobre.
Fernando nobre andava perdido na campanha, Fernando Nobre não sabia falar... Fernando Nobre era mais um. Não era assim.
Fernando Nobre cometeu erros nesta campanha, acho até que nem se fez acompanhar das melhores pessoas, não sabendo capitalizar a enorme vontade de mudança nos discursos, debates e nas suas aparições políticas. Fosse eu a escrever-lhe os discursos e ganhava... mais uma décima ou outra percentual pelo menos. Poder-se-á dizer que cometeu erros de táctica política, tentando combater no meio do lodo em que os outros se embrenhavam quando toda a gente o queria ver distanciado dessa luta, mas uma coisa são erros de formas de fazer política, outra completamente diferente são as pessoas. Numa eleição pessoal o que deve contar, ainda mais do que as ideias porque essas têm de ser conjunturais, é a pessoa e das 6 que havia para escolher a melhor era Fernando Nobre. Não concordo com muita coisa no sistema político português, até já explorei muitas dessas coisas com as quais não concordo por aqui, mas tenho a certeza absoluta que Portugal ficaria melhor com Fernando nobre num cargo político, fosse ele o cargo de Presidente ou de Primeiro-Ministro. Foi uma oportunidade perdida.  

(João Freire)

António Pinho Vargas - Dança dos Pássaros

22/10/2010

No meio da estrada também está bem


- Então - disse abruptamente, levantando os braços em desalento, enquanto a senhora saía do carro vermelho.
- Quer pôr o carro ali?
- Sim, quero.
- Eu chego à frente.

E chegou. Chegou dois metros à frente. Ficou óptimo. O espaço vazio à direita é um lugar de estacionamento, aquele espaço vazio lá à frente entre dois carros também é um lugar de estacionamento, até há uma ilha de estacionamento do lado esquerdo (vê-se o cantinho) com muitos lugares vagos, mas o meio da estrada também é uma boa opção. Ficou óptimo! Óptimo! Quase não estorva nada e eu (esta roda aqui no canto inferior) até consegui estacionar onde queria.

O problema não são os políticos, nem os ricos, pois esses são amostras do país. Há os bons, há os maus e há os assim, assim.
O problema disto tudo é... (link)

(João Freire)

01/10/2010

A caça às bruxas

Custa-me aceitar que a crítica generalizada se centre em questões superficiais para tentar resolver a crise económica em que Portugal se encontra. É fácil ver por todo o lado panfletos de contestação aos salários milionários de administradores de empresas e serviços públicos, aos custos assombrosos das viaturas de alta cilindrada que o Estado compra, passando pelos desperdícios de algumas prestações sociais com "quem não quer trabalhar", normalmente referem-se aos ciganos. Haverá algum sentido nessas críticas? Sim... tirando a parte racista./xenófoba da equação, claro que sim, mas eu pergunto qual a importância estrutural dessas questões?

Tudo o que é social implica uma história. O ser-humano funciona com histórias porque é a melhor forma de compreender, interpretar e, se quiser, agir sobre a realidade que o envolve. Para o fazer, o actor social tem de encontrar personagens, heróis, vilões, e depois uma trama na qual os possa inserir. Os heróis são sempre fáceis de encontrar num mundo do faz-de-conta, porque heróis das nossas histórias somos todos, mas os vilões vão variando conforme a trama se desenrola e as informações que nos rodeiam (normalmente filtradas por comentadores políticos ou desportivos) ecoam na nossa cabeça. Um vilão de ontem (os Bancos, os especuladores financeiros e imobiliários e os agentes da bolsa) pode facilmente ser substituído pelo vilão de hoje (Sócrates e o seu Governo). Simplificando, junta-se tudo no mesmo e identifica-se o problema nos ricos. Normalmente as generalizações simplistas acabam sempre com identificações de problemas simplistas e soluções que seguem inevitavelmente pelo mesmo caminho. Foi assim com as bruxas, foi assim com os judeus, terá sido assim com muitas outras coisas. Agora, corremos o risco de fazer o mesmo com os ricos e eu não tenho razão nenhuma para defender os ricos, mas parece-me acima de tudo que não tenho razão para os criticar só pelo facto de o serem. Ser rico não é crime. Crime é roubar, corromper, abusar de um qualquer estatuto para obtenção de lucro e é crime quando é perpetrado por um rico ou um pobre. 

Fig.1
Hoje vi isto (Fig.1). Interessa-me pouquíssimo. Alguns salários estarão inflacionados, outros estarão justos mas as pessoas que lá estão podem não ser competentes e outros salários podem ser justíssimos para a função em causa e as pessoas que lá estão podem ser competentíssimas. Mas isso acontece em todos os trabalhos e em todas as funções. Fazer um pano de amostra com uns nomes e uns números, como se de um cartaz "procura-se" do longínquo oeste americano se tratasse, ´insinuando que aqueles ordenados dariam para pagar o salário de 58 mil pessoas, parece-me demagógico e ineficaz. Ninguém se importa se essas o mereceriam, ninguém se importa sequer que o salário médio de um desses funcionários públicos (900 euros) pudesse pagar a alimentação de 900 crianças na Somália. Servirá este quadro para espicaçar as pessoas? Talvez, mas ainda é preciso espicaçar alguém?


Há nestas coisas um risco de dispersão. Se criticarmos a compra de um carro de 134 mil euros, deixamos de criticar a compra de dois submarinos por uma soma total de mil milhões de euros. Focamos o acessório, como se o acessório fosse determinante.

O sistema político, social e económico de Portugal é grande e precisa de se alimentar. Para se alimentar tem de aumentar. Quanto mais aumenta, mais precisa de se alimentar. É só isto.
O chamado Estado Social português é dos mais generosos da Europa, poder-se-ia dizer até que é dos mais avançados, mas é desajustado à realidade portuguesa. Não é o dinheiro dos administradores que paga o sistema, não é seguramente o dinheiro de carros de alta cilindrada topo de gama (Citroën diesel, etc.) que paga o sistema.  O que paga o sistema é a produtividade do país. Quando essa produtividade é baixa ou quase inexistente, das duas uma, ou reduz-se o sistema, baixando/congelando salários, reduzindo benefícios ou aumenta-se o sistema, criando novos impostos, injectando capital e investindo. Quem está preparado para perder as regalias que tanto lhe custaram a ganhar? Ninguém! ninguém quer deixar de receber aquilo a que tem direito. Da mesma forma, ninguém quer pagar mais impostos, ninguém quer pagar as auto-estradas ou gasóleo a 1 euro e 50, e por isso todos abusamos do sistema. De certa forma, acabamos também por ser culpados.

Haverá soluções. Eu, por exemplo, imagino que a criação de mais alguns escalões de IRS poderia ajudar no equilíbrio das contas públicas - servindo também para ir buscar algum dinheiro aos mais ricos, para agrado do Robin dos Bosques que há em todos nós -, assim como acho necessária  a reformulação da função pública, nomeadamente no que concerne aos seus recursos humanos e à rede autárquica, exigindo-se muito mais rigor na criação e gestão das empresas municipais, por exemplo, acho até que em alguns casos poderia proceder-se à diminuição da duração de algumas prestações sociais, como o subsídio de desemprego, e à revisão ou mesmo abolição de outras, como o "subsídio de natalidade" e o "rendimento de inserção", e veria com bons olhos que se cancelassem algumas das grandes obras. Serviriam? Não sei, mas são hipóteses válidas e mais prementes que assentam na estrutura de um estado mais realista. depois viria a revisão institucional, depois viria a redução dos 230 deputados para os 180, depois viria a reformulação do sistema eleitoral... depois viria o controlo dos salários dos gestores e das viaturas oficiais, depois viria...

Quanto às críticas que se fazem ao Governo, partilho a grande maioria. Sócrates é um incompetente, rodeado por incompetentes, que hão-de ser substituídos por outros incompetentes, mas admitindo até que haverá certamente alguma competência (eu até concordo com algumas das novas medidas anunciadas) e até acredito que esses incompetentes às vezes tenham acessos de competência e queiram fazer o melhor pelo país, mas partilho a revolta social, partilho por exemplo todas as críticas relativas à prossecução do plano da alta velocidade e até me disporia a uma manifestação com o mote "Ok, nós pagamos mais impostos, mas vocês não vão para a frente com essa merda do TGV" (a minha ideia de contrato social), mas não alinho nisso dos carros de alta cilindrada e dos salários dos administradores.

Na realidade não há histórias com heróis e vilões bem definidos, nem tão pouco uma história com início, meio e um fim inevitavelmente feliz para sempre. Na realidade, vai-se andando, tentando melhorar sempre, participando, ajudando, sugerindo, reclamando quando há razão para tal e exigindo o que de direito, porque esse é também o nosso direito... e dever.

Quando era novo... quando era mais novo, costumava dizer em jeito de brincadeira pré-eleitoralista que não gostava do Comunismo porque o Comunismo não gostava de ricos e eu contava vir a sê-lo. Substituindo a referência mais antiga por uma mais recente: Francisco Louça, ainda conto vir a ser rico, mas conto também vir a ser uma pessoa melhor, independentemente daquilo que tenha ou não no banco.

(João Freire)

21/05/2010

Um cidadão que é Portugal

Tenho vícios. Gasto imenso dinheiro no jogo e nas putas. Não sou pobre, tenho três pessoas a trabalhar em minha casa: uma aspira, outra limpa o pó e a outra ajuda no que for preciso... principalmente quando preciso que leve o Audi para a cidade para emprestar a um dos meus ilustres amigos, uma vez que o BM fica sempre para mim. Dou muito valor às amizades, afinal, muitos deles avisam-me de subsídios e artifícios que eu posso usar para me governar e eu tenho de os recompensar. Quanto aos funcionários, não lhes pago mais do que o ordenado mínimo, mas tem de ser, pois se não o fizesse teria de despedir alguém… e mesmo assim talvez me veja obrigado a prescindir de um deles. Um dos meus amigos disse-me que posso ganhar algum dinheiro, uma quantia suficiente para pagar 75% do ordenado de um funcionário se contratar mais alguém, investindo numa infra-estrutura – estou a pensar numa marquise com um revestimento a painéis foto-voltaicos… acho que há um subsídio qualquer para isso também. Tenho de falar com outro amigo, depois dar-lhe-ei uma parte do que receber.
Ganho dinheiro com o que posso, nomeadamente com o meu olival (três oliveiras) subsidiado a fundo perdido e com a minha frota pesqueira (um aquário em acrílico com uma perca, um robalo, e um peixinho-dourado – dizem-me que assim não se reproduzem mas eu li que os peixes mudam de sexo… eles que se desenrasquem). Dizia eu que ganho dinheiro como posso, desse dinheiro pouco me sobra, tendo em conta que nenhum dos meus filhos trabalha. Tenho três, a miúda dá formação, o mais novo anda num curso de formação, o mais velho é coordenador dos cursos de formação de um instituto regional e todos, apesar de receberem algum dinheiro de uns tios alemães, precisam da ajuda do pai. Perante esta situação de crise eminente, sinto-me forçado a poupar dinheiro. Talvez despeça um dos meus funcionários – até porque vou contratar um para receber o apoio relativo ao investimento que vou fazer –, tenho de diminuir os salários de todos os meus assalariados antes disso, para que possam continuar todos a trabalhar até lá. Tudo para o bem deles. Depois, talvez passe a gastar gasolina normal em vez da Premium, pelo menos um depósito em cada dez, porque a gasolina normal dá cabo dos injectores, mas é imperativo fazer sacrifícios. Espero que estas alterações não venham a por em causa a recepção ao chefe do meu filho, o secretário-geral para a formação profissional, até porque já comprei a loiça nova da Limoges… a crédito, sempre a crédito, porque não há ninguém como eu para regatear juros. Em último caso posso sempre gastar um pouco menos com o jogo e com as putas.

(João Freire)


Archive - Fuck u*


"There's a look on your face I would like to knock out
See the sin in your grin and the shape of your mouth
All I want is to see you in terrible pain
Though we won't ever meet I remember your name

Can't believe you were once just like anyone else
Then you grew and became like the devil himself
Pray to God I think of a nice thing to say
But I don't think I can so fuck you anyway

You`re a scum, you`re a scum and I hope that you know
That the cracks in your smile are beginning to show
Now the world needs to see that it's time you should go
There's no light in your eyes and your brain is too slow

Can't believe you were once just like anyone else
Then you grew and became like the devil himself
Pray to God I can think of a nice thing to say
But I don't think I can so fuck you anyway

Bet you sleep like a child with your thumb in your mouth
I could creep up beside put a gun in your mouth
Makes me sick when I hear all the shit that you say
So much crap coming out it must take you all day

There's a space kept in hell with your name on the seat
With a spike in the chair just to make it complete
When you look at yourself do you see what I see
If you do why the fuck are you looking at me ?

There's a time for us all and I think yours has been
Can you please hurry up 'cos I find you obscene
We can't wait for the day that you're never around
When that face isn't here and you rot underground

Can't believe you were once just like anyone else
Then you grew and became like the devil himself
Pray to god I can think of a nice thing to say
But I don't think I can so fuck you anyway

So fuck you anyway"

* - Reza o mito que esta canção terá sido inspirada e dedicada a George Bush (filho). Não sei se será inspirada, mas fica muito bem dedicada a ele e, já agora, a todos os políticos que se aproveitam e dispõem do poder em benefício próprio sem se importarem com o sofrimento dos outros.


Reaproveitado para o desafio de Janeiro da Fábrica de Letras, subordinado ao tema "Crise"

25/04/2010

Processo Revolucionário em Curso (PREC)

Com mais violência ou menos violência, com mais ou menos revolucionários e reaccionários, com alguns avanços no meio de outros retrocessos, com figuras caricatas, com lutas de poder pelo poder, com mais ou menos corrupção e crimes, mas com muitas suspeitas, o Período Revolucionário em Curso completa hoje 36 anos.
Lá pelo meio estamos nós (como outros* estiveram e não conseguiram) a tentar fazer alguma coisa disto.







*Almirante Pinheiro de Azevedo, talvez o mais caricato exemplo de um período conturbado.

17/02/2010

Fernando Nobre - Presidente da República

Depois de ter falado na questão da margem sul e dos camelos, de ter falado na política de bigode que se vai fazendo por cá, nesse mundo das ideias de Sócrates e dos outros, que é afinal um mundo de nabos no qual as pessoas procuram apoio em vão, depois de ter falado em Adam smith, de ter previsto o pior, explicado o mal maior, depois de ter falado aqui de tudo isto, fiz há pouco tempo um  balanço em que não agoirava nada de bom para o futuro de Portugal. Tornara-me um pessimista democrático, um apolítico que não votava nem fazia intenções de votar no futuro.
Mas hoje recebi uma boa notícia. Não acredito em salvadores, ou melhor, gosto de acreditar em salvadores, mas isso não impede que olhe para esses pretensos salvadores de forma crítica até mostrarem serviço, e ultimamente até me tenho convencido de que, por melhores que as pessoas pareçam, se torna difícil acreditar nas suas boas intenções, pois como se sabe, são elas que pavimentam o caminho até ao inferno. Contudo, pelo que é conhecido, por exemplo aqui e aqui, de Fernando Nobre, só fica bem a qualquer pessoa que acredite numa mudança, apoiá-lo. Eu seguramente que o vou fazer.

Fernando Nobre, fotografia retirada da Internet

12/02/2010

Uma breve história da democracia em Portugal

Mário Soares foi o primeiro. Apoiou-se na fama conquistada após a revolução de Abril, aliou-se depois ao CDS e não durou mais do que três anos, devido a desentendimentos entre os dois partidos que constituíam o governo. Ramalho Eanes nomeia então Nobre da Costa, num período conturbado de constantes Moções de Confiança rejeitadas pela Assembleia da República, que viria a vitimar ainda Mota Pinto, sucedido por Maria de Lourdes Pintasilgo, vítima da dissolução da Assembleia da República. Seguiu-se-lhe Sá-Carneiro, outro coligante, que viria a falecer no contexto que se conhece, sendo substituído interinamente por Freitas do Amaral, e depois por Pinto Balsemão, aquele que seria o primeiro a apresentar a sua demissão ao Presidente-da-República. Segue-se Mário Soares, o omnipresente, num governo a dois com o PSD, que viria a decidir o seu fim antes da chegada do grande e do único a completar, não um mas, os dois mandatos: Cavaco Silva. No entanto, também ele saiu do poder debaixo de críticas relativamente ao controlo da comunicação social, nomeadamente da televisão pública. Louvemos apenas a capacidade de acabar o segundo mandato, pois nunca, até hoje, isso foi conseguido. Guterres, afundado no pântano que ajudou a criar, demitiu-se, abandonando o país mais tarde para um alto cargo nas Nações Unidas. Durão Barroso durou dois anos no país da tanga, fugindo assim que pôde para a Presidência da Comissão Europeia. Santana Lopes nem aqueceu o lugar, apesar de ter deixado no curto espaço de tempo em que esteve à frente do Governo o mesmo rasto de dúvidas e suspeições relativamente à promiscuidade entre a política e os grandes grupos económicos que os outros governantes. Depois veio Sócrates e tudo permaneceu igual, com um primeiro mandato tranquilo, em que as suspeições e o número de casos foram escalando, até ao segundo mandato que agora agoniza e que, de certeza, não vai tardar em capitular.

A história da democracia em Portugal é curta. Seria bom que esse facto explicasse tudo o que de mal se passa no nosso país, nomeadamente na sua componente pública. A verdade é que não se vislumbram melhoras. A promiscuidade entre o poder político e o económico é tal que se alimentam um ao outro – os políticos de amanhã são os altos funcionários das grandes empresas de ontem e os altos funcionários das grandes empresas de amanhã são os políticos de ontem.
Sendo assim, uma democracia que tende a ser uma democracia para toda a gente, apenas o é na base de uma democracia ocidental baseada em demasia na assistência-social, com tudo o que de bom e mau isso acarreta, uma democracia que corre sempre o risco de fomentar a alienação e a não acção, nivelando por baixo, afundando assim um país numa espiral descendente que apenas deixa escapar os bem preparados e os "bem preparados".

Vivemos num país governado pelas informalidades. É a cunha, a mão negra… navegamos na zona da incerteza, numa zona em que o interesse pessoal impera. Assim se explicam os atentados às liberdades pessoais, assim se explicam os abusos de poder e o tráfico de influências, assim se explicam - ao menos isso - todas as suspeições. Não é só quem tem olho que é rei, porque todos vemos o que acontece e todos sabemos o que acontece, mas é sim quem tem olho e poder económico para agir ou para apoiar a acção.
Virá o tempo em que o mercado, depois de regular-se em benefício próprio, devorando tudo à volta, começará a devorar-se a ele próprio, deixando o nada, porque se é verdade que existe uma mão invisível para impedir que a crueldade impere (Adam Smith), também é verdade que essa mão invisível necessita de uma ética de mercado e de um conjunto de valores na sociedade (Adam Smith) que vão escasseando.
Num mundo de globalização total, em que a vida de um país é definida por leis extrínsecas e os números imperam sobre as pessoas, é difícil haver ética, é difícil haver um conjunto de valores que identifique a base do mercado, os clientes, e os seus reguladores. Sem valores, impera a crueldade. Isto é verdade para qualquer país, mas é mais verdade num país com uma curta história democrática.


(João Freire)

Deolinda - Movimento Perpétuo Associativo


Alguns dados, nomeadamente os nomes e ordem cronológica dos Governantes, foram recolhidos da Wikipédia, na página dos Governos Constitucionais de Portugal

16/11/2009

O dia da libertação

(baseado em factos verídicos)

O dia da libertação começou como tantos outros. Era Março e o calor sacudia as almas até à exaustão. O meu turno começara há duas horas e fazíamos a nossa primeira pausa do dia para uma ligeira refeição. Claro que ninguém ligava ao rádio, era apenas um ruído suportável que acompanhava o dia dos trabalhadores, e somente quando um dos sindicalistas começou a esbracejar é que percebemos que alguma coisa se passava.
- A guerra começou - exclamou, anunciando o pior em três simples palavras.
A confusão instalou-se. Alguns, aqueles que não tinham pertences na cidade nem familiares, conseguiram resistir à tentação da histeria, mas outros, como eu, circundavam a refinaria, procurando os chefes de turno ou alguém que lhes permitisse uma hora ou duas de folga. Consegui, mas depressa me avisaram do erro que cometia e de como era melhor ficar ali à espera não sei bem do quê. Diziam para lhes telefonar, para encaminhar os meus para o aeroporto ou para a refinaria, diziam para não sair, que era perigoso percorrer a estrada de volta à cidade e diziam-me que os pretos estavam a matar todos os brancos.
(“Todos” sempre me pareceu demasiado)
E lá fui, carregado apenas de amor pela minha família e de medo pela forma como me matariam. “Seria com uma catana”, pensava, ”Seria com um pau rombo?”
Não voltaria.
Telefonei antes, dizendo à minha mulher que pegasse nas crianças e fosse com os nossos vizinhos para o aeroporto comprar passagens para Lisboa, mas não sabia ao certo se ela obedeceria, derivado a que também ela sentia o peso de deixar a nossa casa, as nossas coisas e o nosso país.
Já no caminho, uns minutos depois de abandonar a segurança da refinaria, um homem maciço mandou-me parar e lembro-me agora de pensar se o atropelava ou não e se tentaria superar a barreira que atrapalhava a passagem ou não.
- Quem é você e o que faz aqui?
Pensei que estava morto, que não tinha sítio para fugir e que tinha sido fraco na hora da morte porque nem sequer tentava fugir ou reagir.
(Que cobarde és, Jaime. Não vais voltar a ver a tua mulher, Jaime, e os teus filhos, Jaime, não vais voltar a ver Setúbal, Jaime.)
Mas ainda não seria ali.
- Temos ordens do general Manhomanha Santos para deixar passar os senhores da Petrogal, mas há comandos espalhados por aí que não sabem disso. Está avisado. Prossiga.
E eu fiquei mais calmo. Deixaram-me e segui até à cidade.
Na cidade nada, apenas ruído de algo que não identificava ao longe.
(Como quando estava fora do Estádio do Bonfim e se ouvia aquele burburinho no interior após uma jogada mais incendiária)
Passei a avenida principal, a praça e o mesmo silêncio. Já no bairro onde morava, com vista para o porto, os portões abertos, lixo espalhado e o mesmo silêncio. Entrei na casa e nada, apenas gavetas abertas, roupa revoltada pela casa e coisas a bater. "Talvez os vizinhos", pensei. Nada.
Deduzi que já tivessem partido e fiquei mais aliviado.
Eu também iria para o aeroporto.
(A empresa lá ficou. Depois ainda tentei telefonar mas já não consegui)
Antes de chegar ao aeroporto, mesmo por estradas travessas, a imagem de Angola, a imagem da libertação de um povo há 500 anos submetido ao poder dos brancos: A terra vermelha, as caras negras, os dentes brancos, o calor, a humidade estavam lá, mas estava principalmente a imagem de uns quantos a gritar “UPA, UPA, UPA” e “Angola vai agradecer” enquanto perseguiam um senhor (talvez o senhor Roberto da mercearia, que tinha uma fazenda, e a sua família) e agitavam as catanas.
Parei o carro.
Claro que não devia ter parado, devia ter continuado mais um ou dois minutos até ao aeroporto. Se tivesse continuado nunca teria a certeza que era o senhor Roberto, que era a sua família e que eram catanas aqueles objectos que os pretos tinham na mão. Lá estava a terra vermelha, as caras negras, os dentes brancos, o calor, a humidade, mas também a raiva, os olhos amarelos, e um menino caído no chão a chorar.
Não devia ter mais de três anos aquele menino que eu já entretera muitas vezes na mercearia, e era ele
(foi ele)
que no dia 15 de Março de 1961, o dia da “Acção”, como lhe chamaram, estava a ser agarrado pelas duas pernas e sacudido com toda a força de um soldado contra o capot de um carro.
O Corpo vivo da criança bateu no carro e morreu instantaneamente, os seus berros deixaram lugar ao silêncio e já só se ouvia o “UPA! UPA” e o choro descontrolado da mãe.
Depois, com uma catana, separaram a cabeça do senhor Roberto do resto do seu corpo e por fim, perante uma mulher destruída por dentro, e ajoelhada no meio de uma rua de Angola, um dos soldados de libertação apontou uma pistola à parte de trás da sua cabeça e disparou. O seu corpo caiu de imediato, não para a frente, mas para o lado.
Guerra é guerra, não tem a ver com cor, não tem a ver com política, não tem a ver com nada.
Para mim a guerra é a memória que aquela mulher teve no último minuto da sua vida.

(João Freire)

Texto subordinado ao tema "Preto & Branco" num desafio da "Fábrica de Letras" .



Publicado anteriormente aqui

26/09/2009

Truísmos de um dia de reflexão

Não gosto de políticos.
Não será só culpa dos ditos. Não gosto de muita gente e por isso os políticos não são excepção.
Sei que é feio generalizar, pelo que assumo a minha fatia de culpa. Mas o desdém com que eu encaro o ofício e as pessoas que o materializam é, se não o maior, um dos maiores ódios que posso nutrir por algo ou alguém e eles não contribuem muito para inverter esta minha opinião.

Por exemplo...
Não gosto de José Sócrates. Essa é fácil. Como diria a canção: “Não sou o único”.
Tudo em Sócrates parece artificial, desde o ar de galã à forma como fala, ou seja, a forma como trata o eleitorado como uma mulher que pretende conquistar: percebendo que as mulheres na faixa etária dos 18 aos 50 gostam de homens responsáveis (com filhos ou animais de estimação) disponíveis… e que têm muita lábia.

Não gosto de Manuela Ferreira Leite porque para além do ar de professora de colégio interno (com paternalismo incluído e tudo), pertence àquele grande núcleo de políticos que nunca sai completamente do espectro partidário, aliás, permanecem mesmo como espectros, aliás, parece mesmo um espectro (se bem que a aparência não possa servir de justificação para não se votar em alguém).

Não gosto de Paulo Portas porque é populista, demagógico, nacionalista e betinho. Tem tudo pensado para dizer o que as pessoas – algumas pessoas! – querem ouvir. Daí o seu sucesso em feiras.

Não gosto de Francisco Louçã porque é parecido ao Paulo Portas, mas com uma agenda diametralmente oposta. Francisco Louçã tem sempre razão – é daquele tipo de pessoas que nunca perde uma discussão, independentemente de ter ou não ter razão. Só difere do Paulo Portas nas feiras que frequenta.

Finalmente: eu até gosto de Jerónimo Sousa, acho que será até um sentimento comum a muita gente, mas ouvi-lo dizer, naquelas entrevistas à moda de teste americano que foram para o ar na SIC há umas semanas, que chora "com alguma facilidade perante situações de violência com os mais fracos" e que
, quando a jornalista (Raquel Alexandra) lhe pergunta se já chorou a ver algum filme, responde rapidamente "Chove sobre santiago", dá-me arrepios de tanto panfletarismo comunista, impossibilitando-me assim de o levar a sério e de o tomar como hipótese de voto.

Ser político é assumir todas as falhas de carácter como virtudes:
- Só os políticos negam a humildade para se diferenciarem dos outros sem serem acusados de gabarolice;
- Só os políticos fazem do apontar o dedo um acto comum sem serem chamados queixinhas;
- Só os políticos evocam o passado em favor de um argumento sem se sentirem rancorosos;
- Só os políticos troçam dos outros políticos sem que ninguém lhes diga que isso é má-educação;
- Só os políticos generalizam qualquer facto como argumento para explicar uma parte sem ninguém lhes lembrar que isso pode ser discriminação;
Mas esta gente nunca ouviu os conselhos das suas avós?

A política, em Portugal, continua a ser a mesma politiquice do início da Democracia.
Sendo assim, enquanto atravessa a fase parva da puberdade, eu abstenho-me de a tentar compreender, recusando-me a participar nas suas aventuras de juventude.
Por estas e por outras, simplesmente não voto.

(João freire)


P.S. - Se ainda votasse na freguesia de onde sou natural, até seria capaz de votar nas eleições autárquicas que se avizinham, porque uma das listas contém gente que eu conheço e sei que vale mesmo pelo que diz.

26/06/2009

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visto primeiro aqui

07/06/2009

Hoje fez-se história




Federer venceu Roland Garros e eu vi!
Se existiam dúvidas, elas desapareceram hoje, dia 7 de Junho de 2009. Federer é o melhor tenista de sempre!
Ah! E parece que também houve eleições.