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22/08/2014

What we've got here is failure to communicate


E de repente os moderados é que são os maus da fita.
Obrigam-me a escolher um lado num conflito onde não há inocentes, onde não há leituras simplistas a fazer. Escolher lados numa questão que é marcadamente religiosa é aprofundar diferenças e entrar em modo tribal de "nós contra vós", modelo que, como se vai vendo, não consegue mais do que incendiar os ânimos favorecendo o surgimento de actos de violência de ambos os lados.
Parece-me honesto dizer que mais facilmente escolheria Israel. Somos obrigados a escolher um Estado democrático em desfavor de um Estado terrorista, que é o que a faixa de Gaza, com o Hamas ao leme, é. Escolhidos pelo povo ou não - 44,45% dos votos -, os terroristas mandam em Gaza e, mandando, determinam a política anti-israelita (eufemismo para política de destruição do Estado de Israel) acima de todos os outros interesses, incluindo os seus próprios e os da população, ou seja, mais do que um Estado Palestino, o Hamas quer o fim do Estado Israelita e isso nota-se na forma como gere a Coisa Pública. Na realidade, todo ou quase todo o dinheiro que Gaza recebe - até mesmo o que o Ronaldo enviou para a construção de escolas e hospitais - é invariavelmente desviado para a máquina de guerra terrorista, seja na forma dos famosos túneis ou das armas que recebem (via esses mesmos túneis) e pouco ou nenhum dinheiro é utilizado na organização social, política e jurídica do país. Ao contrário, Israel é um país democrático, uma república parlamentar no médio oriente (!?), considerado pelas organizações mundiais como um país desenvolvido. Seria importante que os humanistas de algibeira  que tanto criticam Israel retivessem isto. Israel tem o direito de se defender e é isso que tem feito (e bem) ao longo de muito tempo, mostrando uma maior preocupação com os interesses dos seus cidadãos. Há, portanto, uma diferença moral inegável entre os dois lados. E é precisamente aqui que começam a surgir as dúvidas em relação ao comportamento de Israel, pois se há essa diferença moral relevante, Israel não se pode dar ao luxo de fazer aos palestinianos o mesmo que critica no Hamas. É certo que o Hamas usa a população como escudo e arma, que provoca o conflito, deturpa as informações, a comunicação e as imagens e que depois recorre à vitimização, apelando à misericórdia internacional, mas também é verdade que o povo palestino tem legítimas aspirações, aspirações essas consagradas nas mesmas resoluções que originaram a criação do Estado de Israel, aspirações que vão desde o desbloqueio de Gaza e desocupação da Cisjordânia ao acesso a recursos essenciais. E Israel não pode esquecer isto quando bombardeia  pouco discriminadamente Gaza porque isso faz com que perca a opinião pública internacional que tende a imortalizar os atentados contra inocentes e não pode também e sobretudo porque não funciona. Sublinhe-se esta última parte. Poderá até funcionar a curto prazo e brevemente, perante o esmagamento quase total do Hamas e de Gaza, mas nunca funcionará a longo prazo e bastará que passem uns meses para os ataques recomeçarem, no mesmo formato ou noutro, num ciclo de vingança pelos mortos do conflito anterior que se repete ad eternum. Exige-se a Israel e aos indefectíveis do seu lado que assumam isso, que assumam que há inocentes genuínos para além das mulheres e crianças com armas, que há palestinianos de Gaza que não apoiam o Hamas nem o terrorismo e que só querem viver em paz e que assumam que acreditam tanto nisso como acreditam que do seu lado há Judeus extremistas que constroem colonatos como estratégia de anexação na Cisjordânia. E assumindo isso é mais fácil ver que a solução passa pela pela negociação quase burocrata das questões que os separam. Claro que não é fácil. Por um lado, os muçulmanos moderados não abundam e a sua doutrina de conquista e expansão não facilita um entendimento, mas basta olhar para a história das religiões para vermos que também o judaísmo evoluiu da ortodoxia para uma vertente mais cultural ou espiritual, se quisermos. Só assim virá a desmilitarização de gaza, o fim do Hamas e a co-habitação, tal como sucedeu com os egípcios e os jordanos, porque, convenhamos, ambos os povos derramaram demasiado sangue para abdicarem daquela terra e, independentemente da racionalização possível sobre quem chegou primeiro ou quem tem mais direitos para lá estar, a terra pertence-lhes.
Por tudo isto e muito mais, talvez não seja preciso escolher um lado. A paz não é uma ponte que se percorre de um lado para o outro mas sim uma ponte que se constrói. De facto, se olharmos para o que está em causa e se formos democratas, não ligarmos às tretas religiosas e se apoiarmos uma solução de dois estados, formos contra o Hamas, contra os colonatos e a ocupação, então, até podemos ser dos dois lados.

Guns N' Roses - Civil War

16/05/2012

Façam o que fizerem, façam-no bem.

Muita gente se aborrece com a vida, com o trabalho e as rotinas diárias, ignorando que a maior parte da nossa vida é preenchida com essa mesma vida corriqueira e, sobretudo, com as pessoas que a preenchem. Se queremos ser felizes temos de tornar esse grande bocado da nossa vida no melhor possível, dispensando talvez as fantasias que nos acenam de longe. O que estes jovens fizeram, para além do momento youtube, foi tornar o dia daquelas pessoas que estavam a ouvir um dia um bocadinho (muito) melhor. Palmas para eles.

04/01/2012

As melhores músicas de 2011

Toda a gente gosta destes desafios em corrente... ou não! Eu também não gosto, mas agora lembrei-me de publicar isto e através de um desafio em corrente ver se descubro alguma coisa interessante. A ver se funciona...
Para participar têm de escolher cinco músicas que descobriram no ano 2011. Podem não ter sido editadas nesse ano, mas ter sido ouvidas apenas nesse ano.

1º - Soulsavers - Revival


2º - The Naked and Famous - Young Blood


3º - Márcia com JP Simões - A pele que há em mim


4º - We trust - Time (Better not stop)


5 º - Awolnation - Kill your Idols


Menção honrosa para Sing Along dos Blue Man Group (com Dave matthews), Percussion Gun, dos White RabbitsGimme Shelter, na versão dos Playing for Change, That Look You Give That Guy, dos Eels e a Mr. Carousel, de Noiserv.

Lanço o desafio à Pronúncia do Norte, à Brown Eyes, à Por entre o luar, à ipsis verbis, ao pinguim, à Briseis, à Catarina, à Fê-blue bird, ao Catsone, à Vita C, ao Moyle,  à Maria, à Mz, à caminhante, ao Dylan, ao Cirrus, à Anouc e a todos os colegas bloggers (nomeadamente aqueles que deixaram de escrever) que quiserem publicar as suas escolhas musicais do ano.

21/12/2011

Across the Universe



Acordou com um bem estar inexplicável e algumas considerações avulsas sobre o tempo, esse rolo compressor que nos esmaga docemente. Depois sentiu um odor de antigamente, uma mistura de cheiros das brincadeiras, locais e pessoas da sua infância que se enleava com a memória de alguns acontecimentos perfeitamente casuais, como daquela vez em que caíra da bicicleta. Perseguiu essa mistura odorífica até à rua, sorrindo enquanto se preparava, com a imagem da bicicleta vermelha e a cicatriz que ainda o acompanhava, como se algo familiar o esperasse lá fora, mas nada apareceu. Apenas trapaças do seu cérebro. Por fim olhou o céu. Viu nos traços de condensação deixados pelos aviões as possibilidades que sempre o animavam, inspirou profundamente e sorriu. 

(João Freire)

Fiona Apple - Across the Universe

16/12/2011

Eddie Vedder & Ben Harper - Indifference



I will light the match this mornin', so I won't be alone 
Watch as she lies silent, for soon that will be gone 
I will stand arms outstretched, pretend I'm free to roam 
Oh, I will make my way through one more day in Hell... 
I will hold the candle 'till it burns up my arm 
Oh, I'll keep takin' punches until their will grows tired 
I will stare the sun down until my eyes go blind 
But I won't change direction, and I won't change my mind 
How much difference does it make? 
Mmm, how much difference does it make? 
I'll swallow poison, until I grow immune 
I will scream my lungs out 'till it fills this room 
How much difference does it make? 
Oh, How much difference does it make? 
Oh, How much difference does it make? 
How much difference does it make?


Para o desafio de Dezembro da Fábrica de Letras, subordinado ao tema "Indiferença."

03/12/2011

A liberdade de sonhar

"I have no idea to this day what those two Italian ladies were singing about. Truth is, I don't wanna know. Some things are best left unsaid. I'd like to think they were singing about something so beautiful it can't be expressed in words, and it makes your heart ache because of it. I tell you those voices soared, higher and farther than anybody in a grey place dares to dream. It was like some beautiful bird flapped into our drab little cage and made these walls dissolve away, and for the briefest of moments, every last man in Shawshank felt free."


Os condenados de Shawshank - Sull'Aria (As bodas de Fígaro) de Mozart

28/09/2011

Soulsavers - Revival

Grande música, grande vídeo... grande Mark Lanegan.



Deixem carregar e lembrem-se: Toda a música que se ouve aqui é com o volume no máximo... ou quase, para não haver ruído e distorção.

21/09/2011

Youth is wasted on the young... wealth is wasted on the old



Acredito que caminhamos para melhor. Nascemos boas pessoas, morremos boas pessoas. Pelo meio somos péssimas pessoas. Claro que os bebés também são péssimas pessoas, assim como os velhos, mas tanto uns como os outros têm desculpa: os primeiros porque não têm capacidade de decisão e os segundos porque garantiram ao longo da vida o direito a sê-lo - afinal, a velhice é um posto. Já os adultos, não têm desculpa, são péssimas pessoas não tanto por tomarem decisões erradas mas mais por não as tomarem. Porquê? Dúvidas e certezas. Ambas nos falham. As dúvidas paralisam-nos, as certezas acomodam-nos. Alienados ou viciados... entorpecidos pela e para a vida, conformismo na altura em que se abririam mais possibilidades. Conformando-se, os adultos tornam-se amargos e invejosos. Por isso são más pessoas! Há sempre espaço para melhorar, muito desse espaço depende da capacidade de tentar e falhar, ou seja, de escolher. Ninguém acerta sempre, ninguém erra sempre, temos sobretudo de arriscar. No fim, logo se verá.



*A citação foi ouvida e vista na entrevista de Jools Holland, no seu programa Later with Jools holland, com Eddie Vedder e Mike McCready, dos Pearl Jam. Traduzida, ficará "a juventude é desperdiçada nos jovens... a riqueza é desperdiçada nos velhos."

11/09/2011

I went to brush something off my cheek and it was the floor*

Talvez seja necessário bater no fundo quando se está a chegar ao fundo. O fundo pode ser um catalisador de uma recuperação em grande. Há qualquer coisa de reconfortante na constatação de que nada pode ficar pior do que está e isso alarga os nossos horizontes. Só quando sacudimos o pó e olhamos à volta é que tomamos o assunto nas nossas mãos e fazemos alguma coisa para sair do buraco onde nos metemos, procurando as melhores possibilidades, arranjando soluções, descobrindo caminhos e atalhos que nos levem de novo ao cimo e à luz. Muita gente é ajudada quando está à beira do fundo e nunca chega a esse fundo regenerador, na realidade, cada vez é mais difícil bater no fundo, porque numa sociedade tão bem inter-ligada através de meios de assistência e comunicação omnipresentes, qualquer pessoa que não nos conhece para além do que superficialmente mostramos através de letras e imagens num ecrã está disposta para uma palavra de ânimo, para uma mãozinha que nos segura e apoia antes de cairmos. A pena, a caridade influem negativamente nas pessoas na medida em que as acomodam à vida que levam, habituando-as a uma sobrevivência pacífica na dependência, à estagnação na miséria, a deixarem-se estar. Mas a revolta é precisa, a indignação é precisa e estarmos fartos de algo é o primeiro passo para mudarmos. Muita gente emigrou, acabou relações, despediu-se do emprego, deixou algum vício [ou até entrou em incumprimento, se levarmos a coisa para a escala macro-económica. Avé Islândia], porque não havia outra solução, seja porque foram encostados à parede por familiares ou amigos, por uma condição médica, o que seja! Ou até simplesmente porque interiormente essa situação atingiu níveis de insustentabilidade insuportáveis.
Às vezes o nosso caminho passa por buracos, uns mais fundos outros menos, mas só atravessando esses buracos nós mesmos podemos seguir em frente.

Alice In CHains - Down in a Hole


Reaproveitado para o desafio de Janeiro da Fábrica de Letras, subordinado ao tema "Metamorfose

*A citação foi ouvida e vista no programa No Resevations de Anthony Bourdain. O Google diz-me que o seu autor é Raymond Chandler. Numa tradução livre, quererá dizer algo como "ia para sacudir alguma coisa da minha face e era o chão."

30/08/2011

Fujam... cá para dentro.

Toda a gente gosta de ver fotografias das férias das outras pessoas. Toda a gente! Ou não...

Uma cabra.


Um jardim.


Uma tentativa de suicídio com mortal encarpado à retaguarda


A foto da praxe!


Um calhau.


Dois calhaus.


Calhaus organizados de forma a impressionar uma mulher.


... um calhau voador, vá.


Um buraco de onde extraem calhaus.


Uma paragem para descansar e uma vaca.


Sumo de lima... ou algo com lima.


Uma estrada ladeada de flores.


Um cão a guardar uma praça.


Montras em Braga... ou Barga.


Uma nuvem esquisita.


Um pterodáctilo.


Mais calhaus.


Água fria.


Um calhau congelado... e com dor de cabeça.


Uma cadela a sacudir a água.


Casal romântico em plena observação de baleias ao largo dos Açores.


Amigos... mais ou menos.


Um chapéu.



The Naked And Famous - Young Blood 


Para o desafio de Agosto da Fábrica de Letras, subordinado ao tema "Fugir".

P.S. - Convém dizer que o mérito das fotos é repartido por Bruno Carvalho (Deco), Luis Filipe (Hulk), Ricardo Dias (Ricardinho) e Inês Vilela, sem alcunha, porque as gajas nunca têm.

30/07/2011

Talvez daqui a dois anos

‎"You have to decide what your highest priorities are and have the courage - pleasantly, smilingly, non-apologetically - to say ‘no’ to other things. And the way to do that is by having a bigger ‘yes’ burning inside. The enemy of the ‘best’ is often the ‘good.’"

Stephen Covey, autor do livro 7 Habits of Highly Effective People

R.E.M. - Every day is yours to win

02/07/2011

Um segredo

É difícil ser sincero. Penso até que será impossível. Mesmo a pessoa com as melhores intenções não negará a utilidade de uma mentira inocente, de uma verdade que se esconde para não magoar, de um segredo que se mantém apesar da pertinente pergunta o querer revelar. 
Quantas vezes te escondi o que queria dizer com medo que não respondesses da mesma forma? Quantas vezes não te falei à espera que dissesses tu a primeira palavra? 
Queria saber o que nunca soube, chegar a uma conclusão sobre ti e o que sentias. E elaborei jogos na minha cabeça para descobrir tudo. Menti, escondi, fugi, fiz tudo aquilo que não devia em busca daquilo que achava ser certo. Tentei descobrir-me e descobrir o mundo, mas nada vi para além da desconfiança. 
O que alcancei? Claro que ainda não sei nada ou sei pouco. Sei que é difícil mostrar o que vai dentro de nós. Não queremos parecer frágeis, não queremos magoar os outros. E aquilo que vai cá dentro muda tanto. Como é que podemos ser sinceros com os outros se às vezes não conseguimos ser sinceros connosco? Aquilo que eu sinto hoje não é o que eu senti ontem e não é certamente o que eu sentirei amanhã. A verdade é que por muito que queiramos ser sinceros nunca o conseguimos ser na totalidade porque nestas coisas não há verdades absolutas. Os sentimentos mudam, a nossa maneira de ver o mundo também muda e temos demasiadas dúvidas sobre tudo. Não sabemos sequer quem somos, apenas o que fomos. Mas claro que também há um lado útil nisto tudo. A incapacidade de sermos sinceros mantém tudo em aberto. As portas nunca estão verdadeiramente fechadas se não temos chaves para as encerrar (mesmo que às vezes seja o melhor a fazer). Talvez um dia consiga ser sincero, sentir por dentro o que passo para fora. Talvez seja essa a finalidade do Homem, aquilo que dizem de se encontrar, sem jogos, sem máscaras, sem mentiras. Por agora, só sei que é complicado. Não sei porque é assim e nem gosto que seja assim, mas é e, por isso, quem sabe?

(João Freire - 2008)

Reciclado das catacumbas do blogue para o desafio de Julho da Fábrica de Letras, subordinado ao tema "Segredo".

U2 - The sweetest thing

17/05/2011

A sinceridade é sobrevalorizada

A sinceridade é sobrevalorizada. Com a sinceridade tudo se perde. O encanto, as possibilidades... a magia do desconhecido! Tem de haver um espaço para o segredo e a mentira, para o que é nosso. Sem justificações, sem razões, só porque sim ou não. Ninguém tem de saber o porquê de não querermos algo. Conformem-se com a honestidade de quem o admite. O fracasso da partilha reside na sua impossibilidade. Nada se ganha com a sinceridade.

Primitive Reason - Hipócrita

30/04/2011

Incendiários

Através da arte, da política, da manifestação social, da loucura, do desespero. O mais difícil é acender o rastilho.
 
(Este vídeo pode ser considerado demasiado gráfico e violento)




22/04/2011

Moullinex - Catalina



São tugas e o novo EP deles chama-se Chocolat.

19/04/2011

Olhos que não sorriem

A princípio tocou-lhe o corpo jovem com cuidado. Havia muito tempo que as suas mãos gretadas pelo tempo e trabalho sentiam algo parecido. Talvez no tempo da guerra, um tempo em que as cabritas se dispunham a levar aqueles homens pálidos em troca de algum dinheiro.
As cabritas, como chamavam às raparigas que calcorreavam as ruas de Lourenço Marques, Niassa e Nampula, nunca sorriam, mas o seu corpo cor de mel, esse sempre disponível, intoxicaria qualquer um de prazer, fazendo-o esquecer tudo, até a guerra. À noite, no banho, só teria de lavar as partes íntimas com um frasquinho que o exército garantia a todos em remessas mensais para combater qualquer doença e não acontecer algo que o fizesse saltar do barco a caminho de Lisboa, como chegou a testemunhar.
“Sem isto não sou um homem”, ouviu ele uma vez, junto dos seus amigos no convés do “Vera Cruz”, na viagem de regresso, “O que é que eu vou fazer em Portugal?”
Olharam todos e viram um homem no cimo da amurada, num dos pisos mais altos. Dizia muitas coisas, algumas sem sentido e passado algum tempo, quando todos pensavam que não ia saltar, saltou mesmo, sem pénis nem dignidade para o mar que o engoliu rapidamente. O barco não parou.
Apesar disso, desses episódios e de muitos outros de colegas que morreram, ficaram feridos ou malucos, apesar da guerra, apesar de tudo, talvez pelas cabritas, as recordações eram maioritariamente boas. Por isso regressavam amiúde, como se também ele estivesse a regressar àquele momento de uma juventude distante em que podia ter alguém assim a retorcer-se à sua frente e ele sabia exactamente o que fazer. Não que não soubesse, nunca o ouviriam dizer isso, mas o seu corpo já não era o mesmo e ainda que soubesse o que fazer, às vezes não conseguia. Sentia-se velho e envergonhado.
Ela sorria, tocando-lhe no braço com ternura, mas também aquele sorriso lhe parecia falso. Os olhos mortiços não condiziam com os lábios abertos e afáveis, expondo a realidade das suas circunstâncias: uma Puta a foder um velho.
Ele estava de joelhos, entre as pernas abertas dela, que estava deitada de costas, com uma mão a fazer rolos no cabelo e a outra desamparada na cama, esperando-o.
Indiferente à sua prontidão, apertou-lhe a barriga, como se a examinasse, sentido a magreza da sua cintura e a elasticidade da sua pele. Os seus seios pequenos mas cheios descaiam ligeiramente para os lados e ele apertava-os também. “E então, começamos?”, disse ela, num sorriso desafiador, rodando sobre si mesma, voltando-lhe as costas enquanto se apoiava nos cotovelos e joelhos.
Tinha 64 anos, demoraria sempre algum tempo.
Só nunca pensou na sua mulher.
Depois de acabar, com um sorriso que lhe enchia a cara rosada do cansaço, disse num tom cândido que não tinha dinheiro para pagar, mas que agradecia muito aquela experiência que trouxera alguma vida a um homem acabado. “Está a gozar comigo?”, perguntou ela, já sem sorrisos, enquanto se afastava dele, levantava da cama e vestia as cuecas. “Não, querida”, respondeu ternamente, “desculpa, mas não. Sou um pobre agricultor”. A mulher, chateada, acabou de vestir-se rapidamente e saiu, fechando a porta atrás de si à chave com o homem lá dentro, regressando pouco depois, acompanhada de três mulheres e dois homens.
“Não tenho dinheiro!” justificou-se novamente, mostrando a sua carteira vazia.
“Isso é problema seu”, respondeu uma das mulheres, a mais velha, que era conhecida por ser a dona daquele café infame, “e portanto vai ficar aqui até que alguém venha pagar o que deve.”
As outras mulheres, apesar de chocadas, não disfarçaram uma gargalhada cúmplice, olhando a colega que havia sido vítima daquela partida inesperada.
O telefone começou a chamar. Do outro lado, na casa do casal, tocava. O marido não estava e ela raramente recebia chamadas.“Quem seria”, perguntou a si mesma, ao encaminhar-se, tão vagarosamente quanto a sua perna sobrecarregada pelo peso permitia, para a cozinha, onde estava o telefone.“Estou sim?”, atendeu.
Explicaram-lhe tudo. Ela limitou-se a ouvir. Com uma calma exasperante, respondeu que ia a caminho, mas que tinham de esperar um pouco porque ainda tinha de chamar um táxi. Desligou antes de chorar.
“O que é que havia de fazer?” responderia depois, com algum embaraço, perante a incredulidade de toda a vila “Era o meu marido e não o podia deixar lá.”

(João Freire)

GNR - Ao soldado desconfiado


Para o tema de Abril de 2011, subordinado ao tema da Ternura, num desafio da "Fábrica de Letras".

08/04/2011

Três perspectivas sobre a ternura






Para o tema de Abril de 2011, subordinado ao tema da Ternura, num desafio da "Fábrica de Letras".

28/03/2011

Guilty Pleasures....

Gosto disto. Gosto da versão com a Gwyneth Paltrow e os Bonequitos... gosto da versão a solo da Gwyneth Paltrow. E Gosto da original, a que não é censurada e já não se chama Forget You, mas Fuck you. E é um grande vídeo! Quem diria.

Cee-Lo Green - Fuck You

15/03/2011