11/11/2017

Ainda sobre os casos de assédio.

Estes crimes e e a sua generalização por todas as áreas, desde o espetáculo ao desporto, passando pela política, afetam transversalmente as comunidades em que se inserem, obviamente, mas, devido à mediatização dos agressores e vítimas, possuem um efeito contaminador que alastra por todo o mundo e na forma como nos relacionamos com o sexo oposto. Claro que existem as vítimas directas destes crimes ou condutas impróprias, cuja vida é marcada para sempre, homens e mulheres, mas há tambem as vítimas colaterais destes actos desprezíveis: as mulheres que deixam de confiar, as pessoas que lidam com a descoberta da sua sexualidade que não se assumem na sua plenitude, as pessoas que têm problemas e que podem pensar duas vezes antes de pedirem ajuda e os homens, aqueles que não praticam nem se revêem naqueles comportamentos e que agora são incluídos no mesmo saco. E é para essas pessoas que importa falar. Isto é para os introvertidos, os totós e os românticos, os bons rapazes, os amigos que estão lá, os simpáticos e respeitadores, aqueles que sempre tiveram dificuldade em falar com as mulheres, os que sofrem de ansiedade e medo de rejeição, de acharem que não são suficientemente bons, os que não saem de casa, os que não gostam de festas, os bichos do mato, os envergonhados e os tímidos, os que instalam o Tinder mas passado meia-hora voltam a desinstalar, aqueles que inevitavelmente agora ainda vão ter mais dificuldades. Continuem estranhos, a estranheza é colorida, interessante e especial. Continuem como são.

(João Freire)