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27/08/2023

Os químicos da felicidade

Habituámo-nos a estar sozinhos. A ideia de uma relação para a vida toda entre um homem e uma mulher que víamos nos filme e livros já não nos parece atraente e a facilidade de uma relação à medida que podemos pesquisar facilmente nos telemóveis de acordo com parâmetros pré-estabelecidos, é muitas vezes apenas aparente. As vontades muitas vezes não coincidem, a individualidade impera, surgem novas complicações que vão desde o simples iniciar da conversa, passando pela consideração que agora temos de ter com os pronomes, o género, a sexualidade, o tipo de alimentação, a filiação política entre milhares de outras coisas para as quais estamos mal preparados e que causam mais ansiedade do que interesse. É por isso que muitas vezes perdemos mais tempo na escolha do que na conversa e no desenvolvimento das ligações em si e apostamos mais em procurar pessoas para momentos, seja para viajar, para sexo casual, orgias, swinging, para jogar Quiz Planet ou apenas para conversar do que para relações a longo prazo. E mesmo quem acha que procura relações 'tradicionais' muitas vezes pondera se não estará melhor sozinho, porque dormir acompanhado parece uma boa ideia até que nos lembramos que tínhamos uma cama só para nós e porque a ideia de ter roupa ou pêlos espalhados por todo o lado assusta qualquer um, mas também porque, com tanta escolha à nossa disposição, é mais difícil aceitarmos qualquer comportamento por mais pequeno que seja que não compreendemos ou do qual não gostamos. E é por tudo isto que, apesar de contraditória, neste mundo tão ligado, parece haver uma tendência para a solidão. A solidão é cómoda. Não temos de nos preocupar com ninguém, partilhar nada, ajudar ninguém, fazer compromissos, nem sequer arriscar conhecer os familiares e se é verdade que não temos as regalias desse tipo de relações, também é verdade que não temos as complicações e arranjamos alternativas, chamemos-lhes sucedâneos da felicidade, seja a família, amigos, animais de estimação, o trabalho, as idas ao ginásio, as partilhas que fazemos nas redes e aplicações sociais ou o onanismo, claro, e que nos permitem as doses diárias daqueles químicos que nos fazem sentir bem.

(João Freire)

13/02/2012

Uma grande anedota

- "I have one joke about God. I'd like to try it on you."
- "Go for it!"
 - "OK. So a guy commits suicide. And he goes to heaven, ok? And he gets to heaven. And God greets him there, and the guy said, «I'm so surprised I'm here. First of all, I thought there was no God. Second of all, I thought if you killed yourself, you know, you were damned forever.» God said, «You know, that's a complicated issue. Everybody at least thinks about ending it, you know, killing themselves at some point.» And God says, «Even I've thought of it.» The guy said, «Can I ask, why didn't you do it?» And God said, «What if this is all there is?»


No vídeo (que vale a pena ver na íntegra) a anedota começa ao minuto 5:10.

10/11/2011

Toda a gente deveria ter cancro

Toda a gente devia estar perto de morrer. Claro que depois tinham de sobreviver, senão não adiantava de muito, mas estar perto da própria morte sem ser por uma conceptualização longínqua que normalmente acontece aos outros, de certeza que seria recompensador para muita gente. Muitos continuariam a ser as mesmas bestas, mas de certeza que haveria mais pessoas... melhores pessoas. Este senhor que fala aqui em baixo é uma dessas pessoas melhores do que a maioria. Vejam tudo que vale a pena e lembrem-se que ele é uma pessoa normal, como qualquer um de nós, com a sua família, amigos, mas com um cancro incurável, numa corrida contra o tempo e todas as paredes de tijolo,para realizar todos os seus sonhos de infância.



Para o desafio de Novembro da Fábrica de Letras, subordinado ao tema "Sonhos".

21/09/2011

Youth is wasted on the young... wealth is wasted on the old



Acredito que caminhamos para melhor. Nascemos boas pessoas, morremos boas pessoas. Pelo meio somos péssimas pessoas. Claro que os bebés também são péssimas pessoas, assim como os velhos, mas tanto uns como os outros têm desculpa: os primeiros porque não têm capacidade de decisão e os segundos porque garantiram ao longo da vida o direito a sê-lo - afinal, a velhice é um posto. Já os adultos, não têm desculpa, são péssimas pessoas não tanto por tomarem decisões erradas mas mais por não as tomarem. Porquê? Dúvidas e certezas. Ambas nos falham. As dúvidas paralisam-nos, as certezas acomodam-nos. Alienados ou viciados... entorpecidos pela e para a vida, conformismo na altura em que se abririam mais possibilidades. Conformando-se, os adultos tornam-se amargos e invejosos. Por isso são más pessoas! Há sempre espaço para melhorar, muito desse espaço depende da capacidade de tentar e falhar, ou seja, de escolher. Ninguém acerta sempre, ninguém erra sempre, temos sobretudo de arriscar. No fim, logo se verá.



*A citação foi ouvida e vista na entrevista de Jools Holland, no seu programa Later with Jools holland, com Eddie Vedder e Mike McCready, dos Pearl Jam. Traduzida, ficará "a juventude é desperdiçada nos jovens... a riqueza é desperdiçada nos velhos."

11/09/2011

I went to brush something off my cheek and it was the floor*

Talvez seja necessário bater no fundo quando se está a chegar ao fundo. O fundo pode ser um catalisador de uma recuperação em grande. Há qualquer coisa de reconfortante na constatação de que nada pode ficar pior do que está e isso alarga os nossos horizontes. Só quando sacudimos o pó e olhamos à volta é que tomamos o assunto nas nossas mãos e fazemos alguma coisa para sair do buraco onde nos metemos, procurando as melhores possibilidades, arranjando soluções, descobrindo caminhos e atalhos que nos levem de novo ao cimo e à luz. Muita gente é ajudada quando está à beira do fundo e nunca chega a esse fundo regenerador, na realidade, cada vez é mais difícil bater no fundo, porque numa sociedade tão bem inter-ligada através de meios de assistência e comunicação omnipresentes, qualquer pessoa que não nos conhece para além do que superficialmente mostramos através de letras e imagens num ecrã está disposta para uma palavra de ânimo, para uma mãozinha que nos segura e apoia antes de cairmos. A pena, a caridade influem negativamente nas pessoas na medida em que as acomodam à vida que levam, habituando-as a uma sobrevivência pacífica na dependência, à estagnação na miséria, a deixarem-se estar. Mas a revolta é precisa, a indignação é precisa e estarmos fartos de algo é o primeiro passo para mudarmos. Muita gente emigrou, acabou relações, despediu-se do emprego, deixou algum vício [ou até entrou em incumprimento, se levarmos a coisa para a escala macro-económica. Avé Islândia], porque não havia outra solução, seja porque foram encostados à parede por familiares ou amigos, por uma condição médica, o que seja! Ou até simplesmente porque interiormente essa situação atingiu níveis de insustentabilidade insuportáveis.
Às vezes o nosso caminho passa por buracos, uns mais fundos outros menos, mas só atravessando esses buracos nós mesmos podemos seguir em frente.

Alice In CHains - Down in a Hole


Reaproveitado para o desafio de Janeiro da Fábrica de Letras, subordinado ao tema "Metamorfose

*A citação foi ouvida e vista no programa No Resevations de Anthony Bourdain. O Google diz-me que o seu autor é Raymond Chandler. Numa tradução livre, quererá dizer algo como "ia para sacudir alguma coisa da minha face e era o chão."

08/09/2011

A necessidade de ocupar o cérebro ou tudo aquilo que fazemos para agradar às mulheres

Procuramos durante toda a vida manter o cérebro ocupado, mesmo que o façamos sem saber. É impossível vivermos sem fazermos nada, é impossível existir alguém que consiga estar meros minutos sem fazer nada e é por isso que existem televisões nos quartos e livros nas cabeceiras das camas… e é por isso que procuramos constantemente alguém com quem compartilhar essas mesmas camas. Dêem-me alguém que esteja uma hora sentado num quarto e eu apresento-lhes um insano. Nada tão perigoso como um homem deixado a sós com os seus pensamentos. Perseguimos, queremos, desejamos milhentas coisas mas só o fazemos para saciar o nosso cérebro, acalmando-o... Amansando-o! Assim surge a música, os livros, as viagens, o desporto, a escola, o trabalho, o amor, a família, os amigos, a religião, assim surge tudo. Senão morríamos devagarinho, numa espiral de depressão impulsionada pelos nossos pensamentos avulsos que nos anularia até à morte. A vida e aquilo que se chama de felicidade faz-se da superação de etapas bem definidas que se foram cristalizando à custa dessa necessidade de ocupação, mas também se faz de experiências novas que vamos acumulando para estimular esse vórtice de sensações e reacções químicas que constituem o cérebro. É essa sede voraz que nos move, conduzindo-nos pela rotina, fazendo-nos evoluir até à superação.



P.S. - Alguns dos excertos apresentados não são reais, como por exemplo aquele em que aparece alguém a correr sobre a água, que era uma campanha de marketing, como se pode ver aqui. É impossível que algo com a massa e estrutura de uma pessoa consiga andar sobre a água... já um gato!

25/08/2011

Só me dirijo às pessoas capazes de me entender, e essas poderão ler-me sem perigo.

Alguns pontos que quem me conhece deve(ria) saber.
  1. Para mim, o messenger não é um meio de comunicação sério em que valha a pena ter conversas mais profundas do que um "olá" e "tudo bem". Ou se têm conversas parvas/porcas/cómicas/esquisitas ou não se têm de todo. Por messenger, não se consegue perceber o tom, a linguagem corporal, as insinuações e nuances... nada! (Nota: isto só é verdade se não conseguirem utilizar aqueles bonecos e emoticons todos. Eu só conheço uma pessoa que os utiliza bem, por isso...)
  2. Posso falhar e desiludir em relação àquilo que esperam de mim, mas raramente falho naquilo que sou verdadeiramente. Isto, para além de bonito, é verdade... e verídico!
War - Why Can't we be friends 


*A citação que titula o post é da autoria do Marquês de Sade. O ponto número dois é baseado em algo que eu li mas que não consigo situar em termos de autor.

02/07/2011

Um segredo

É difícil ser sincero. Penso até que será impossível. Mesmo a pessoa com as melhores intenções não negará a utilidade de uma mentira inocente, de uma verdade que se esconde para não magoar, de um segredo que se mantém apesar da pertinente pergunta o querer revelar. 
Quantas vezes te escondi o que queria dizer com medo que não respondesses da mesma forma? Quantas vezes não te falei à espera que dissesses tu a primeira palavra? 
Queria saber o que nunca soube, chegar a uma conclusão sobre ti e o que sentias. E elaborei jogos na minha cabeça para descobrir tudo. Menti, escondi, fugi, fiz tudo aquilo que não devia em busca daquilo que achava ser certo. Tentei descobrir-me e descobrir o mundo, mas nada vi para além da desconfiança. 
O que alcancei? Claro que ainda não sei nada ou sei pouco. Sei que é difícil mostrar o que vai dentro de nós. Não queremos parecer frágeis, não queremos magoar os outros. E aquilo que vai cá dentro muda tanto. Como é que podemos ser sinceros com os outros se às vezes não conseguimos ser sinceros connosco? Aquilo que eu sinto hoje não é o que eu senti ontem e não é certamente o que eu sentirei amanhã. A verdade é que por muito que queiramos ser sinceros nunca o conseguimos ser na totalidade porque nestas coisas não há verdades absolutas. Os sentimentos mudam, a nossa maneira de ver o mundo também muda e temos demasiadas dúvidas sobre tudo. Não sabemos sequer quem somos, apenas o que fomos. Mas claro que também há um lado útil nisto tudo. A incapacidade de sermos sinceros mantém tudo em aberto. As portas nunca estão verdadeiramente fechadas se não temos chaves para as encerrar (mesmo que às vezes seja o melhor a fazer). Talvez um dia consiga ser sincero, sentir por dentro o que passo para fora. Talvez seja essa a finalidade do Homem, aquilo que dizem de se encontrar, sem jogos, sem máscaras, sem mentiras. Por agora, só sei que é complicado. Não sei porque é assim e nem gosto que seja assim, mas é e, por isso, quem sabe?

(João Freire - 2008)

Reciclado das catacumbas do blogue para o desafio de Julho da Fábrica de Letras, subordinado ao tema "Segredo".

U2 - The sweetest thing

17/06/2011

Carreira contributiva de felicidade

As pessoas deviam ser felizes. Não sempre, ou melhor, não desde logo, não desde o início, pelo menos, porque isso era capaz de desgastar, mas como um caminho normal, como se de uma reforma se tratasse depois de uma carreira contributiva para a caixa. Claro que íamos recebendo ao longo da vida, mas quanto mais contribuíssemos, mais recebíamos. algo do género do Carma (Karma). Assim seria melhor. E eu lembro-me de pensar que era assim que as coisas funcionavam quando era novo: As pessoas ficariam inevitavelmente mais ricas e mais felizes… isso seria normal. E eu dizia muitas vezes “quando eu for rico”, como se isso fosse um dado adquirido. Mas não é certo. As pessoas não ficam inevitavelmente ricas e felizes como eu pensava. Muita gente vive uma vida inteira sem ser feliz e isso não devia ser permitido. Custa ouvir algumas pessoas no vídeo que se segue dizer que nunca foram felizes, que não se deviam ter casado, que deviam ter feito tanta coisa que ainda não fizeram quando simplesmente já não têm muito tempo. Ainda é tempo, ainda há tempo… mas pouco.



(Também custa ouvir aqueles que dizem que gostavam de ir à Lua, acrescentando de seguida que nunca foram)

09/06/2011

Explosões e implosões

Há as pessoas que explodem, não uma explosão literal, como a dos radicais suicidas ou a dos soldados portugueses aos pontapés em granadas na Bósnia (lembram-se?), mas uma explosão emotiva e irracional que nos impele a mudar. Essas explosões ocorrem quando se atingem certos limites, sejam eles de paciência, sofrimento… o que seja, que levam as pessoas a dizer um "basta", um rotundo "foda-se" ou, em alternativa, a partir para a chapada e ninguém pode questionar a capacidade libertadora de ambas. Depois mudam. Mudam de país, mudam de namorada, mudam de atitude perante a vida e isso tanto pode ser positivo, como negativo. Nestas coisas das pessoas nunca há duas iguais nem certezas absolutas (por muito que os livros de auto-ajuda queiram dizer o contrário) e se há pessoas muito contentes com as explosões que protagonizaram, também haverá algumas que não conseguiram mais nada do que afundar-se ainda mais na infelicidade do fracasso, como se de uma explosão de pólvora seca se tratasse... fogo de artifício!
E depois (como há sempre dois tipos de pessoas – garanto-vos que os há e que são só dois), depois, dizia, há as pessoas que implodem… ou melhor, que vão implodindo devagarinho graças a pequenos episódios de descalabro interior. Estas pessoas amargas, que se escondem por detrás do cinismo e arrotos de despreocupação e que têm geralmente um tremelique nervoso no olho, tanto podem ter fracassado em grande, como podem acumular pequenos insucessos psicossociais que os vão envenenando devagarinho enquanto esperam por um antídoto, como se os melhores dias, as soluções para os seus problemas se aproximem sem que façam muita coisa por isso. Às vezes acontece. Lá está, nestas coisas nunca se pode fiar, mas geralmente não. Por isso gosto do primeiro tipo de pessoas (e delas, claro, das pessoas), pessoas que arriscam para avançar, mesmo que antes de avançar dois passos tenham de retroceder um (em jeito do que a Finlândia fez e o Bloco de esquerda queria fazer num nível nacional e político que não é o que eu quero discutir). Por gostar dessas pessoas que explodem, não quero dizer que aconselhe esse modo de vida… não quero sequer dizer que esse seja o meu tipo de pessoa… se pensar bem, raramente explodi… tirando alguns episódios em que queria (o álcool queria)  andar à porrada e mais ninguém quis… mas também não quero dizer de todo que o segundo tipo de pessoa seja melhor, porque “Ficar a olhar com uma esperança ociosa equivale a deixar passar a vida em devaneios”, já dizia o Yann Martel n’A Vida de Pi… mas pensando bem, até um relógio avariado está certo duas vezes ao dia! Mas não sei… Sei que há limites! Sei que os há e que talvez todos tenham um limite. E sei que a forma de lidar com esses limites define aquilo que somos e a vida que levaremos daí em diante. Talvez alguns limites exijam explosões, talvez exijam um pouco de paciência… talvez as explosões devam ser controladas, mas isso do controlo até tem mais a ver com implosões, pelo que talvez…
Talvez, talvez… foda-se! Por agora, atingi o meu limite de escrita.

(João Freire)



Para o tema de Junho de 2011, subordinado ao tema "Os problemas resolvem-se à chapada" , num desafio da "Fábrica de Letras".

02/06/2011

HI5




Para o tema de Junho de 2011, subordinado ao tema "Os problemas resolvem-se à chapada" , num desafio da "Fábrica de Letras".

23/05/2011

A sinceridade é sobrevalorizada II

Mesmo com um bocado de overacting, a ideia é basicamente esta.

17/05/2011

A sinceridade é sobrevalorizada

A sinceridade é sobrevalorizada. Com a sinceridade tudo se perde. O encanto, as possibilidades... a magia do desconhecido! Tem de haver um espaço para o segredo e a mentira, para o que é nosso. Sem justificações, sem razões, só porque sim ou não. Ninguém tem de saber o porquê de não querermos algo. Conformem-se com a honestidade de quem o admite. O fracasso da partilha reside na sua impossibilidade. Nada se ganha com a sinceridade.

Primitive Reason - Hipócrita

19/03/2011

Lições de vida por sociopatas eruditos e taxistas revoltados

Cena do filme "Collateral"



Audioslave- Shadow of the Sun





(Com legendagem, a pedido de várias famílias)

09/03/2011

Uma perspectiva diferente

 

Aquilo somos nós. Ali se encontram todas as pessoas que conhecemos, todos os locais que visitámos e tudo o que aprendemos ao longo do caminho. As memórias de infância, os sorrisos e as lágrimas, os beijos e os pontapés no cú, tudo o que nós somos e sonhamos ser, as nossas crenças e o conhecimento que adquirimos, as virtudes e os defeitos. Ali está a vida, a sua biologia, química e física, a essência e a consciência - algumas vezes inflamada outras vezes oprimida - do que somos, mas sempre essa presença da nossa própria importância que nos enche e nos distancia de tudo e todos os que nos rodeiam, uma força criadora e altamente destruidora, o potencial e a frustração, a arte e a guerra. Dali não saímos. Aquilo também é a nossa alma, o nosso Deus e o céu. Aquele é o nosso tempo. Ali nascemos, ali vivemos e ali inevitavelmente morremos.

(João Freire)

Cinematic Orchestra - To Build a Home


P.S. - Inspirado numa outra perspectiva de Carl Sagan.

07/02/2011

Ranulph Fiennes - O aventureiro que cortou a ponta dos dedos com uma Black & Decker porque não conseguiu fazê-lo com uma pequena machada

Não, não é uma gralha. Não quero falar de Ralph Fiennes, nem tão pouco do "Paciente Inglês". Quero mesmo falar deste homem: Ranulph Fiennes. Pouca gente o conhecerá, eu também não o conheceria se não fosse o Top Gear, mas Ranulph Fiennes é, sem dúvida, um dos mais extraordinários aventureiros que já viveram neste mundo.
Já tinha visto esta entrevista e este episódio há algum tempo, mas cada vez que revejo admiro mais o homem, a sua história de vida e, sobretudo, as aventuras que viveu. As histórias que conta e a forma como as conta nesta pequena entrevista - que vale mesmo a pena ver - impressionam qualquer um. Sim, a parte de cortar os dedos é verdade, tudo porque tinha os dedos queimados pelo gelo.
Não sei se é boa pessoa, não sei se cede passagem aos peões nas passadeiras ou se diz boa tarde quando entra nalgum lado, mas desconfio que seja boa pessoa, muito pela parte final da entrevista em que fala, num ambiente de silêncio que contrasta com o resto da entrevista, da sua primeira mulher que morreu há pouco tempo e que ele conheceu desde os seus 12 anos.

"- Terribly sad… last year… your wife died. You’ve been together since you were…
- She was nine, i was twelve, so we knew each other for fourty-eight years.
- Do you think your drive to keep going, even now, with the marathons and so on… and future expeditions... as anything to do with the fact that you just want to keep yourself busy?
- I don’t want to think anymore, don’t have time to think, so the more i can do… It’s good, yes… keep busy!"






Para o tema de Fevereiro de 2011, Loucura, num desafio da "Fábrica de Letras".

13/01/2011

Tanto melhor

"Sou um homem doente… sou um homem mau. Um homem repulsivo, é isso que eu sou. Acho que tenho alguma coisa no fígado. De qualquer modo, não entendo que raio de doença é a minha, não sei ao certo o que me faz sofrer. Não me trato, nunca me tratei, embora respeite a medicina e os doutores. Além do mais, é intolerável como sou supersticioso; enfim, o suficiente para respeitar a medicina. (Sou bastante instruído para não ser supersticioso, mas sou supersticioso.) sim, é por maldade que eu não me trato. Aposto, meus senhores, que isso é uma coisa que não compreendeis. Mas eu, sim! Evidentemente, não serei capaz de explicar-vos a quem ando eu a tramar seguindo deste modo a minha maldade; sei perfeitamente que não ando a tramar os médicos quando recuso tratar-me; sou a pessoa mais bem colocada para saber que isso só a mim prejudica e a mais ninguém. Mesmo assim, se não me trato é por maldade. Dói-me o fígado. Tanto melhor, pois que me doa ainda mais!"

in Notas do Subterrâneo, de Fiódor Dostoiévsky

*Obra integral, em inglês, aqui.

Blur - Out of time

06/01/2011

Da Estupidez

"Todos nós somos, por vezes, estúpidos; por vezes também, somos constrangidos a agir cegamente ou semi-cegamente, de outra forma o mundo pararia; e se alguém retirasse dos perigos da estupidez esta regra: "Abstém-te de julgar e de decidir cada vez que te faltam informações", ficaríamos imobilizados! Mas essa situação hoje muito generalizada, recorda outra que conhecemos há muito, no domínio intelectual. Com efeito, como o nosso saber e o nosso poder são limitados, estamos reduzidos, em todas as ciências, a enunciar juízos prematuros; mas desde que estejamos atentos, como nos ensinaram, para manter este defeito em certos limites e corrigindo-o logo que possível, isso restitui ao nosso trabalho uma certa exactidão."
Robert Musil

Nine Inch Nails - Right Where It Belongs

 Para o tema de Janeiro de 2011, Preconceito, num desafio da "Fábrica de Letras".


24/12/2010

E agora, nesta quadra festiva, uma mensagem de Ricky Gervais sobre Deus, religião, fé... e voar.

"Why don’t you believe in God?" I get that question all the time. I always try to give a sensitive, reasoned answer. This is usually awkward, time consuming and pointless. People who believe in God don’t need proof of his existence, and they certainly don’t want evidence to the contrary. They are happy with their belief. They even say things like “it’s true to me” and “it’s faith.” I still give my logical answer because I feel that not being honest would be patronizing and impolite. It is ironic therefore that “I don’t believe in God because there is absolutely no scientific evidence for his existence and from what I’ve heard the very definition is a logical impossibility in this known universe,” comes across as both patronizing and impolite.

Arrogance is another accusation. Which seems particularly unfair. Science seeks the truth. And it does not discriminate. For better or worse it finds things out. Science is humble. It knows what it knows and it knows what it doesn’t know. It bases its conclusions and beliefs on hard evidence ­- evidence that is constantly updated and upgraded. It doesn’t get offended when new facts come along. It embraces the body of knowledge. It doesn’t hold on to medieval practices because they are tradition. If it did, you wouldn’t get a shot of penicillin, you’d pop a leach down your trousers and pray. Whatever you “believe,” this is not as effective as medicine. Again you can say, “It works for me,” but so do placebos. My point being, I’m saying God doesn’t exist. I’m not saying faith doesn’t exist. I know faith exists. I see it all the time. But believing in something doesn’t make it true. Hoping that something is true doesn’t make it true. The existence of God is not subjective. He either exists or he doesn’t. It’s not a matter of opinion. You can have your own opinions. But you can’t have your own facts.

Why don’t I believe in God? No, no no, why do YOU believe in God? Surely the burden of proof is on the believer. You started all this. If I came up to you and said, “Why don’t you believe I can fly?” You’d say, “Why would I?” I’d reply, “Because it’s a matter of faith.” If I then said, “Prove I can’t fly. Prove I can’t fly see, see, you can’t prove it can you?” You’d probably either walk away, call security or throw me out of the window and shout, ‘’F—ing fly then you lunatic.”

This, is of course a spirituality issue, religion is a different matter. As an atheist, I see nothing “wrong” in believing in a god. I don’t think there is a god, but belief in him does no harm. If it helps you in any way, then that’s fine with me. It’s when belief starts infringing on other people’s rights when it worries me. I would never deny your right to believe in a god. I would just rather you didn’t kill people who believe in a different god, say. Or stone someone to death because your rulebook says their sexuality is immoral. It’s strange that anyone who believes that an all-powerful all-knowing, omniscient power responsible for everything that happens, would also want to judge and punish people for what they are. From what I can gather, pretty much the worst type of person you can be is an atheist. The first four commandments hammer this point home. There is a god, I’m him, no one else is, you’re not as good and don’t forget it. (Don’t murder anyone, doesn’t get a mention till number 6.)

When confronted with anyone who holds my lack of religious faith in such contempt, I say, “It’s the way God made me.”

But what are atheists really being accused of?

The dictionary definition of God is “a supernatural creator and overseer of the universe.” Included in this definition are all deities, goddesses and supernatural beings. Since the beginning of recorded history, which is defined by the invention of writing by the Sumerians around 6,000 years ago, historians have cataloged over 3700 supernatural beings, of which 2870 can be considered deities.

So next time someone tells me they believe in God, I’ll say “Oh which one? Zeus? Hades? Jupiter? Mars? Odin? Thor? Krishna? Vishnu? Ra?…” If they say “Just God. I only believe in the one God,” I’ll point out that they are nearly as atheistic as me. I don’t believe in 2,870 gods, and they don’t believe in 2,869.

I used to believe in God. The Christian one that is.

I loved Jesus. He was my hero. More than pop stars. More than footballers. More than God. God was by definition omnipotent and perfect. Jesus was a man. He had to work at it. He had temptation but defeated sin. He had integrity and courage. But He was my hero because He was kind. And He was kind to everyone. He didn’t bow to peer pressure or tyranny or cruelty. He didn’t care who you were. He loved you. What a guy. I wanted to be just like Him.

One day when I was about 8 years old, I was drawing the crucifixion as part of my Bible studies homework. I loved art too. And nature. I loved how God made all the animals. They were also perfect. Unconditionally beautiful. It was an amazing world.

I lived in a very poor, working-class estate in an urban sprawl called Reading, about 40 miles west of London. My father was a laborer and my mother was a housewife. I was never ashamed of poverty. It was almost noble. Also, everyone I knew was in the same situation, and I had everything I needed. School was free. My clothes were cheap and always clean and ironed. And mum was always cooking. She was cooking the day I was drawing on the cross.

I was sitting at the kitchen table when my brother came home. He was 11 years older than me, so he would have been 19. He was as smart as anyone I knew, but he was too cheeky. He would answer back and get into trouble. I was a good boy. I went to church and believed in God -– what a relief for a working-class mother. You see, growing up where I did, mums didn’t hope as high as their kids growing up to be doctors; they just hoped their kids didn’t go to jail. So bring them up believing in God and they’ll be good and law abiding. It’s a perfect system. Well, nearly. 75 percent of Americans are God-fearing Christians; 75 percent of prisoners are God-fearing Christians. 10 percent of Americans are atheists; 0.2 percent of prisoners are atheists.But anyway, there I was happily drawing my hero when my big brother Bob asked, “Why do you believe in God?” Just a simple question. But my mum panicked. “Bob,” she said in a tone that I knew meant, “Shut up.” Why was that a bad thing to ask? If there was a God and my faith was strong it didn’t matter what people said.
Oh…hang on. There is no God. He knows it, and she knows it deep down. It was as simple as that. I started thinking about it and asking more questions, and within an hour, I was an atheist.

Wow. No God. If mum had lied to me about God, had she also lied to me about Santa? Yes, of course, but who cares? The gifts kept coming. And so did the gifts of my new found atheism. The gifts of truth, science, nature. The real beauty of this world. I learned of evolution -– a theory so simple that only England’s greatest genius could have come up with it. Evolution of plants, animals and us –- with imagination, free will, love, humor. I no longer needed a reason for my existence, just a reason to live. And imagination, free will, love, humor, fun, music, sports, beer and pizza are all good enough reasons for living.

But living an honest life – for that you need the truth. That’s the other thing I learned that day, that the truth, however shocking or uncomfortable, in the end leads to liberation and dignity.

So what does the question “Why don’t you believe in God?” really mean. I think when someone asks that they are really questioning their own belief. In a way they are asking “what makes you so special? “How come you weren’t brainwashed with the rest of us?” “How dare you say I’m a fool and I’m not going to heaven, f— you!” Let’s be honest, if one person believed in God he would be considered pretty strange. But because it’s a very popular view it’s accepted. And why is it such a popular view? That’s obvious. It’s an attractive proposition. Believe in me and live forever. Again if it was just a case of spirituality this would be fine.

“Do unto others…” is a good rule of thumb. I live by that. Forgiveness is probably the greatest virtue there is. But that's exactly what it is - a virtue. Not just a a Christian virtue. No one owns being good. I’m good. I just don’t believe I’ll be rewarded for it in heaven. My reward is here and now. It’s knowing that I try to do the right thing. That I lived a good life. And that’s where spirituality really lost its way. When it became a stick to beat people with. “Do this or you’ll burn in hell.”

You won’t burn in hell. But be nice anyway.

(Ricky Gervais)


Retirado daqui, visto aqui.