É difícil ser sincero. Penso até que será impossível. Mesmo a pessoa com as melhores intenções não negará a utilidade de uma mentira inocente, de uma verdade que se esconde para não magoar, de um segredo que se mantém apesar da pertinente pergunta o querer revelar. Quantas vezes te escondi o que queria dizer com medo que não respondesses da mesma forma? Quantas vezes não te falei à espera que dissesses tu a primeira palavra? Queria saber o que nunca soube, chegar a uma conclusão sobre o que sentias e elaborei jogos na minha cabeça para descobrir tudo. Menti, escondi, fugi, fiz tudo aquilo que não devia em busca daquilo que achava ser certo. Tentei descobrir-me e descobrir o mundo, mas nada vi para além da desconfiança. O que alcancei? Claro que ainda não sei nada ou sei pouco. Sei que é difícil mostrar o que vai dentro de nós. Não queremos parecer frágeis, não queremos magoar os outros. E aquilo que vai cá dentro muda tanto. Como é que podemos ser sinceros com os outros se às vezes não conseguimos ser sinceros connosco? Aquilo que eu sinto hoje não é o que eu senti ontem e não é certamente o que eu sentirei amanhã. A verdade é que por muito que queiramos ser sinceros nunca o conseguimos ser na totalidade porque nestas coisas não há verdades absolutas. Os sentimentos mudam, a nossa maneira de ver o mundo também muda e temos demasiadas dúvidas sobre tudo. Não sabemos sequer quem somos, apenas o que fomos. Mas claro que também há um lado útil nisto tudo. A incapacidade de sermos sinceros mantém tudo em aberto. As portas nunca estão verdadeiramente fechadas se não temos chaves para as encerrar, mesmo que às vezes seja o melhor a fazer. Talvez um dia consiga ser sincero, sentir por dentro o que passo para fora. Talvez seja essa a finalidade do Homem, aquilo que dizem de se encontrar, sem jogos, sem máscaras, sem mentiras. Por agora, só sei que é complicado. Não sei porque é assim e nem gosto que seja assim, mas é e, por isso, quem sabe?
(João Freire)
03/02/2008
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