01/07/2007

Para uma perspectiva diferente

A ideia de Carl Sagan em ver o nosso mundo como um “pálido ponto azul” na vastidão do espaço pode fornecer alguma perspectiva sobre a forma como vivemos nele.



Conseguem identificar o planeta terra?



Imagens: JPL/NASA.

O excerto seguinte foi inspirado pelas imagens anteriores, feitas após sugestão de Sagan, pela Voyager 1 em 14 de fevereiro de 1990. Enquanto a nave espacial saía da nossa vizinhança planetária para as franjas do sistema solar, os engenheiros espaciais fizeram-na girar em seu redor para um último olhar ao seu planeta. Voyager 1 encontrava-se aproximadamente a 6.4 mil milhões de quilómetros de distância e 32 graus acima do plano da eclíptica quando capturou este retrato de nosso mundo. Travado no centro dos raios claros dispersos (resultado de tirar a fotografia tão perto do sol), a terra aparece como um ponto minúsculo da luz, um crescente de 0.12 pixel em tamanho.



"Olhe outra vez para aquele ponto. Aquilo é aqui. Aquilo é casa. Aquilo somos nós. Nele se encontram todos os que você ama, todos os que você conhece, todos aqueles de quem você ouviu falar, todos aqueles seres humanos que alguma vez existiram, vivendo suas vidas. O agregado de toda a alegria e sofrimento, os milhares de confissões religiosas, as ideologias e as doutrinas económicas, cada caçador e cada peça de caça, cada herói e cobarde, cada criador e destruidor da civilização, cada rei e camponês, cada par novo no amor, cada mãe e pai, a criança esperançosa, o inventor e o explorador, cada professor da moralidade, cada político corrupto, cada “superstar,” cada “líder supremo,” cada santo e pecador na história da nossa espécie viveram lá: num monte da poeira suspenso num raio de sol.

A terra é um palco muito pequeno numa arena cósmica muito vasta. Pensar dos rios do sangue derramados por todos aqueles generais e imperadores de modo que, na glória e no triunfo, pudessem transformar-se nos semhores momentâneos de uma fracção de um ponto. Pensar nas crueldades infinitas visitadas pelos habitantes de um canto deste pixel nos habitantes mal definidos de algum outro canto desse mesmo ponto e em como são frequentes seus enganos, quão ansiosos estão por se matarem um ao outro e como ferve o seu ódio.

A nossa postura, a nossa auto-importância, a ilusão de que nós temos alguma posição privilegiada no universo, são desafiados por este ponto da luz pálida. Nosso planeta é apenas um grão na obscuridade cósmica que nos envolve. Na nossa obsuridade, em toda esta vastidão, não há nenhuma sugestão de que a ajuda virá de outra parte para nos conservar.

A terra é o único mundo conhecido que permite abrigar a vida. Não há, pelo menos no futuro próximo, outro para o qual a nossa espécie possa migrar. Visitar, sim. Assentar, ainda não. Gostemos ou não, para já a terra é onde marcamos a nossa posição.

Diz-se que a astronomia nos torna mais humildes e nos forma o carácter. Não há talvez nenhuma demonstração melhor da loucura a que chega o convencimento humano do que esta imagem distante de nosso mundo minúsculo. Para mim, esta imagem sublinha a nossa responsabilidade em negociar uns com os outros de forma mais amável e preservar e estimar o pálido ponto azul, o único repouso que nós conhecemos sempre."

Carl Sagan, "Ponto azul", 1994

Para o desafio de Outubro da Fábrica de Letras, subordinado ao tema "Viagens".

5 comentários:

Catsone disse...

Caríssimo, e enfiar na mente tacanha do Ser Humano esse sentido de pequenez. Nós não somos nada, somos pós; toda a ciência, inteligência, feitos, conquistas, hão de ficar esquecidos num futuro longínquo para nós mas curto para os tempos cósmicos. Nós seremos efémeros como um peido inodoro de um recém-nascido. Não sobrará nada já que a memória um dia desaparecerá.
Há, por isso, que viver cada dia como se fosse o último, abraçar, beijar e amar o mais possível e cagar para todo o resto.

Utópico disse...

Alguém que perca apenas alguns minutos a pensar naquilo que somos, naquilo que a terra representa na imensidão do Universo apenas pode chegar à conclusão que toda a ganância, toda a maldade, toda a inveja não fazem sentido nenhum no nosso mundo e que todos deveriamos trabalhar em conjunto para uma vida hamoniosa.

No entanto o ser Humano é mesquinho, é maldoso e não compreende que num Universo tão vasto de certeza que não somos os únicos, de certeza que o Universo e que este não roda em torno de nós e que tudo existe porque nós existimos.

Nós somos tão pequeninos que nos deveríamos unir para viver em harmonia com vista a alcançar o bem geral, e não de apenas alguns.

Sandra disse...

Viajar é tudo bom. Bela participação. Estamos ai contigo.
http://sandrarandrade7.blogspot.com/
Vou te esperar na Interação para compartilharmos dessa bela viagem..
Até mais,
Sandra

Sandra disse...

Também escrevi algo assim, neste mesmo pensamento venha e confira

http://sandrarandrade7.blogspot.com/
Vou te esperar na Interação para compartilharmos.
Sandra

Johnny disse...

Catsone, depende do recém-nascido :)

Utópico, nunca um nickname esteve tão bem entregue