Foi ela que telefonou. Quero que fique bem claro este ponto. Não fui eu que a convidei para jantar, nem fui eu que falei na serra da estrela, de um restaurante e uma cabana, e na costa vicentina. Confesso que pensei em ligar-lhe, dizer-lhe qualquer coisa, mas à primeira vista ela parecia inatingível. No entanto ela ligou (continuam a acontecer-me coisas inacreditáveis no que concerne ao amor. Penso que já tive esta sensação três ou quatro vezes. Não é mau!) e com um telefonema veio um jantar, ou melhor, aquilo que seria um jantar. Na realidade estivemos nas ruínas de um castelo a conhecermo-nos melhor. Ela pediu para me beijar, fizemo-lo e depois continuámos nisso até casa dela. Com o primeiro beijo as primeiras dúvidas, desde logo minhas porque é costume duvidar daquilo que não conheço, e as dela, porque sentia as minhas. Não consigo evitar apaixonar-me pelo que já conheço e não pelo que quero conhecer. Há quem pense que é bom ou mau. Para mim tanto me faz. Pouco tempo depois veio a minha viagem, uma ausência anunciada que começou connosco no carro numa dificuldade enorme para nos despedirmos e largarmos. Ela disse que ia sentir muitas saudades e não mentiu. Sentiu. Por lá recebi a notícia que ela estava com dor de dentes e maus pensamentos - concerteza relacionados - mas que sentia muito a minha falta e que estava aborrecida por eu não lhe responder com a assiduidade pretendida. Teriam passado dois dias. No regresso o fim. Do lado dela as dúvidas que se tornaram um argumento irreversível, do meu as mensagens que ela não recebeu, várias, suficientes para atenuarem a dúvida crescente, mas que nunca foram recebidas sabe-se lá pela graça de que força; as recordações da viagem em forma de um caderno de esboços, um postal e um anel que não foram entregues e as promessas de uma certeza descoberta pela ausência. Apenas ficou o afastamento simples e inócuo, como eu. Só quando perco o que tenho é que lhe sinto a falta.
(João Freire)
Air - All i need
Recordado para o tema "Paixão" num desafio da "Fábrica de Letras"
23/10/2008
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20 comentários:
"Só quando perco o que tenho é que lhe sinto a falta."
Não somos todos assim?
Não.
Preferia ser como aqueles que pensam assim, tipo:
"O Rover está sempre parado, é a Gasolina, já é velhote, gasta dinheiro em IUC, em inspecções e seguro, por isso vendê-lo foi uma boa decisão"
E não assim:
"O Rover está sempre parado, é a Gasolina, já é velhote, gasta dinheiro em IUC, em inspecções e seguro, por isso vendê-lo foi uma boa decisão, MAS..."
E três letras fazem muita diferença.
"Saliva no umbigo"....profundo!mas siceramente nao consigo encontrar ligação com a historia:)
É um jogo que eu faço com a minha memória da história, algo que só faz sentido para os participantes na história... um momento que ficou e que liga o resto, nem que seja só na minha cabeça.
=) interessante... será que só damos meso valor quando perdemos??
Beijo*
não sei se só daremos valor quando perdemos, mas que damos MAIS valor... falo por mim quando digo com toda a certeza que sim.
Eu também já pensei que "Só quando perco o que tenho é que lhe sinto a falta."´... mas deixei de acreditar nisso. Porque agora obrigo-me a dar valor ao que tenho...
claro que tudo tem o seu reverso da medalha...
Eu também fiquei curiosa com o título, mas afinal, NADA!!!
Johnny, tu andas a ler as nossas paixões arrebatadoras, cheias de pormenores escaldantes e tu não abres os jogo.
:)
Su, claro que há o reverso e até podemos achar que sentimos a falta, mas quando voltamos a ter voltamos a sentir o porquê de não ter resultado... as paixões tornam o ser-humano num animal muito estranho e até contraditório.
MZ, se eu te explicasse tu ias perder o respeito que tens (tens?) por mim. Um cavalheiro nunca conta. Fica só nos traços gerais, sem fazer juizos de valor... ou prestação ou o que quer que seja. Ninguém tem o direito de violar a privacidades das pessoas... nem mesmo eu!
E o texto tem a ver com...?
You can't do this! Excuse meee! O_o
Ginginha, tem a ver com o inicio da paixão e com o fim da mesma... as merdas do costume.
E é sempre assim...quando perdemos algo, seja o que for, é que o valorizamos.
Eu acho que a distância, a distância física real e prolongada, é muitas vezes inimiga do amor.
Sim Hyndra, acho que concordo com essa coisa da distância ser inimiga do amor... embora às vezes a distância também sirva de desculpa para a falta de amor...
Não poderia também ser assim:
"O Rover está sempre parado, é a Gasolina, já é velhote, gasta dinheiro em IUC, em inspecções e seguro, por isso vendê-lo foi...foi... oh meu Deus! Acho melhor ir buscá-lo de volta!"
Claro na esperança de que ainda esteja no stand...se já tiver novo proprietário... é rezar para ainda não esteja muito apaixonado pelo carro... ou o carro pelo novo dono!
Parece-me que estou para aqui a complicar muito esta cena toda...
palavrasloucas, reparei agora que há outro factor a ter em conta: o que vem depois do Rover, ou seja, nestas coisas, de carros e de amores, depende muito do que vem a seguir... no meu caso... até porque ainda vou vendo o Rover e desfrutando dele ;), achjo que não há esse "oh meu Deus! Acho melhor ir buscá-lo de volta", até orque começo a achar que nestas coias não há que correr atrás do que não quer ser apanhado... (e nos atirou fora) ou do que atirámos fora... e não devemos apanhar de novo!
Obrigado pelos comentários.
Concordo plenamente contigo!
muitas vezes atiramos fora, não devemos apanhar de novo... mas muitas vezes até queremos!!! Só que por mil e um motivos, entre eles o orgulho, acabamos por perder...
Ou não... pode simplesmente não valer a pena!
Concordo plenamente contigo!
muitas vezes atiramos fora, não devemos apanhar de novo... mas muitas vezes até queremos!!! Só que por mil e um motivos, entre eles o orgulho, acabamos por perder...
Ou não... pode simplesmente não valer a pena!
Vais certamente gostar da Célia Cruz que é a Rainha da Salsa cubana... se tiveres oportunidade de ouvir DLG "la quiero a morir"... acho que se enquadra no teu post!
Da Célia gosto, claro, mas dos outros... têm muita pinta para eu gostar deles :)
iiiiiiiiiiiiiii, só agora reparei que o meu último comentário não era para este post, mas para o outro do dia 13 de Maio... esse sim tinha a ver com Cuba.
Como comentei os dois praticamente ao mesmo tempo... deu nisto.
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