01/04/2008

Um dia deixo de dizer um dia

1 comentário:

Anónimo disse...

A memória do meu menino...

construcção
Amou daquela vez como se fosse a última


Beijou sua mulher como se fosse a última


E cada filho seu como se fosse o único


E atravessou a rua com seu passo tímido


Subiu a construção como se fosse máquina


Ergueu no patamar quatro paredes sólidas


Tijolo com tijolo num desenho mágico


Seus olhos embotados de cimento e lágrima


Sentou pra descansar como se fosse sábado


Comeu feijão com arroz como se fosse um príncipe


Bebeu e soluçou como se fosse um náufrago


Dançou e gargalhou como se ouvisse música


E tropeçou no céu como se fosse um bêbado


E flutuou no ar como se fosse um pássaro


E se acbou no chão feito um pacote flácido


Agonizou no meio do passeio público


Morreu na contramão atrapalhando o tráfego





Amou daquela vez como se fosse o último


Beijou sua mulher como se fosse a única


E cada filho seu como se fosse o pródigo


E atravessou a rua com seu passo bêbado


Subiu a construção como se fosse sólido


Ergueu no patamar quatro paredes mágicas


Tijolo com tijolo num desenho lógico


Seus olhos embotados de cimento e tráfego


Sentou pra descansar como se fosse um príncipe


Comeu feijão com arroz como se fosse máquina


Dançou e gargalhou como se fosse o próximo


E tropeçou no céu como se ouvisse música


E flutuou no ar como se fosse sábado


E se acabou no chão feito um pacote tímido


Agonizou no meio do passeio náufrago


Morreu na contramão atrapalhando o público







Amou daquela vez como se fosse máquina


Beijou sua mulher como se fosse lógico


Ergueu no patamar quatro paredes flácidas


Sentou pra descansar como se fosse um pássaro


E flutuou no ar como se fosse um príncipe


E se acabou no chão feito um pacote bêbado


Morreu na contramão atrapalhando o sábado



Chico Buarque