(Os olhos tristes, de velho, estão lá. Também os vejo ao espelho, recordando os olhares prolongados daqueles que me olham, como eu olhei em tempos, com pena.)
Quando eu tinha a tua idade, jovem…
- Vocês, os velhos, só falam de amor no passado.
- Não há amor na velhice. Há coisas parecidas, mas não há amor na velhice. Há o amor pelos filhos, há um amor muito forte pelos netos, mas não há esse amor de que falas.
- E a paixão? O amor carnal... o desejo morreu? Já não ama a velha que dorme na sua cama ao seu lado?
- Isso é o amor dos jovens…
- É uma parte importante do amor, de qualquer amor... de qualquer tempo, faz parte da vida de um casal.
- O que é esse amor contra o tempo? Já vivemos tanto tempo juntos que ultrapassámos o amor. Amor é algo que sentes por algo que é exterior a ti e não algo que faz parte de ti. Aquilo que sinto é mais do que amor, é um amor maior do que possas imaginar, jovem.
- Mas é amor!
- Nenhum velho diz que ama a mulher com quem está há cinquenta anos. Nem precisa. Ninguém suporta cinquenta anos. Antes disso alguém morre, alguma coisa acontece que os separa. Mas para um casal estar junto na velhice é preciso algo maior, algo que sobrevive ao tempo, algo que nem vale a pena ser mencionado, um amor que não é amor.
(Olhou para mim com desprezo, com a arrogância de jovem que é a mesma dos velhos. E o tempo continua, lutando inevitavelmente contra mim. Um dia hão-de vir para aqui os jornais, as rádios e as televisões festejar o meu centésimo aniversário - já falta pouco - e eu garanto-vos que os mando foder. Estão a festejar o quê?)
(João Freire)
Para o tema "Velhice" num desafio da "Fábrica de Letras".
03/03/2008
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21 comentários:
Muito obrigado pela visita, espero que se repita! Não garanto é que aprenda nada, mas, fico com essa esperança...
Grande texto...quem sou eu para comentar as palavras de um velho...( para mim,um sabio!) Talvez um dia se tiver essa sorte, conseguirei perceber porque nao se ama alguem que esta do nosso lado a 50 anos. Apenas me fez pensar, que talvez haja um amor, para nos desconhecido, nao superior ao amor jovem...mas diferente!
A verdade e que cada vez menos, se encontram casais juntos a 50 anos...se o estao por rotina, estabilidade ou acomodaçao nao sei...mas o que mais se pratica hoje me dia e a separaçao, o divorcio...por motivos cada vez mais futeis!
Amor...e aguentar as diferenças, complementar dois corpos e duas almas...lutar juntos pelo mesmo...criar e gerar uma vida...afastar a individualidade e principalmente respeitar o espaço de cada um!
Se isso for conseguido...sera raro o motivo que separe este amor...que provavelmente ainda esta junto daqui a 50 anos!
Apesar de nao ter percebido a tua ultima parte do texto...gostei da ideia
By FasHion
Para "a minha vida pouco doce", continuarei a ir ao blogue porque gosto da forma como escreve e não precisava de agradecer, ainda para mais trantando-me por você. Deve ter lido o último texto e pensado que eu era um velho igual ao do texto! Vou com muito prazer.
Para a Fashion, se estiveres com alguém durante cinquenta anos, vais saber sem dúvida e apenas a razão pela qual o amor de que falamos agora, ainda na nossa juventude, não é o mesmo que sentirás nessa altura. É um amor diferente, como tu dizes, mas melhor porque é mais profundo, mais sábio, como as pessoas, os velhos, que o praticam. A última parte refere-se ao desprezo que sinto pelas notícias referentes à comemoração do centésimo aniversário das pessoas. Não vejo razão para festejarem na televisão, sempre com incredulidade, o facto da pessoa ter chegado aos cem anos. Os cem devem ser festejados como os outros noventa e nove e não como uma surpresa na luta contra a morte.
Li e penso que o amor entre um casal quando chega a uma determinada altura, não é preciso ser dito. Mas eu gostaria que daqui a 30 anos o meu marido continua-se a dizê-lo. Coisas de Jovem? Parabéns pela escolha.
Gostar, todos gostariam, Olga, mas a realidade é que pior. A ver vamos, como dizia o cego.
Eu acredito no amor eterno... portanto 50 anos não é nada!
Beijinho*
Só acreditar não basta, Lala, é preciso procurá-lo constantemente e tratar dele como se se tratasse de algo muito sensível... como decerto saberás. Ainda que seja difícil de consegui-lo, acho bem que o procurem (procuremos).
Johnny depois de cinquenta anos de convivência há mais que amor mas, há amor. O que não há é paixão mas amor não falta. Além do amor há amizade, companheirismo e carinho. Pode não se dizer que se ama mas demonstra-se em cada atitude o que é ainda melhor. A tua abordagem sobre este assunto, a convivência de um casal depois de muitos anos juntos, é pertinente. Eles querem-se e mimam-se apesar de se calhar no meio refilarem um com o outro, afinal ficaram rezingões com a idade. Beijinhos
Eu sei que há, Mary! Há um amor que não é amor, ou, como tu dizes, "há mais que amor mas, há amor", "não há é paixão mas amor não falta", "além do amor há amizade, companheirismo e carinho", "pode não se dizer que se ama mas demonstra-se em cada atitude", "eles querem-se e mimam-se apesar de se calhar no meio refilarem um com o outo, afinal ficaram rezingões com a idade", ou seja, tal como eu digo e penso :)
gostei do texto,
parabéns *
Muito obrigado, Juliana.
50 anos de casamento e depois?
Paixão...
Amor carnal...
Desejo...
Amor!
Existe amor sim...pelos filhos, pelos netos, e o outro amor o amor pela companheira de tantos anos...
Para que se quer uma paixão quando se tem um grande amor?
E o desejo... insistem em pensar que os mais velhos não praticam sexo... praticam menos do que outrora, mas fazem-no ainda... só que nem todos confessam.
O "teu velho" é mto radical e nada romântico... espero que tu quando lá chegares não sejas como ele!
apesar de tudo gostei deste "Amor que não é bem amor"
beijinhos
Mz, o velho do texto só discordará da parte da paixão e do amor carnal, porque tudo o resto que descriminas ele fala, dizendo que sente isso, mas sem lhe chamar amor, porque no entender dele será um amor diferente do que aquele que o jovem fala, mas ele lá diz "algo maior". Quanto à paixão, ao amor carnal e ao sexo, penso que são coisas diferentes e se tenho a certeza de que o sexo existe e existirá, terei mais dúvidas na parte da paixão e do amor carnal, mas combinamos e vimos aqui discutir os dois quando estivermos nos oitentas, lá para o ano 2060, está bem?
para a minha velhice gostava de ter a paixao dos jovens, o desejo carnal dos adultos e o amor que nao é amor mas mais que isso tudo... complicado? basta tentar e encontrar a pessoa que nunca deixe morrer a chama e estima-la como se nao houvesse amanha.. :) o problema é a (quase) inexistencia de pessoas certas...
Pessoas certas há muitas, amaterasu, o problema é em que é que serão certas. Penso que será mais uma questão de incompatibilidade entre pessoas certas :)
hmmm... ou será má escolha da pessoa supostamente certa? mas que no final acabas sempre por bater com a cabeça na parede? devido ás nossas características particulares que nos tornam em seres únicos é impossível uma compatibilidade a 100% porque ninguém é igual a ninguém... mas com a pessoa "certa" essas incompatibilidades passam ao lado.. acredito no complemento... existirá sempre alguém que nos magoa e nos faz cair, mas temos sempre a eterna esperança utópica que a pessoa certa está algures á nossa espera... é isso que faz sonhar...mesmo que a pessoa seja a certa só por instantes, ate que se revele a errada... e aí lá voltamos nós á busca novamente da pessoa certa..
Pensar que existe uma pessoa certa já torna a vida difícil a qualquer um que pretenda ser, vá lá, quase certo. Haver uma ideia daquilo que as pessoas têm de ser, influencia essas pessoas negativamente. O melhor será procurar alguém que nos faça feliz e cujas particularidades sejam as certas para suportarmos. Tem defeitos, mas são aqueles defeitos certos, do género que eu suporto, porque encaixes perfeitos não existem... existem tachos e panelas, rotos e descosidos, cada um com o seu par, mas nunca encaixam perfeitamente... nem podem... nem devem, acho eu.
discordemos então :) cada um com a sua visão... não podemos ser todos moldados do mesmo barro.. isso não teria piada nenhuma :D
Por "não podermos ser todos moldados do mesmo barro" é que é impossível haver pessoas certas. Mas tudo depende da definição de "pessoa certa", claro, e assim acaba a discussão sem ninguém mudar de opinião... sem ninguém admitir que o outro... está certo.
P.S. - Eu é que estou certo.
eu é que estou certa... :)
Síndrome da Pu... da mania, é o meu diagnóstico :)
P.S. - Este conheço-o bem, porque também sofro dele.
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