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De facto, a representação das mulheres na arte, seja na música, no cinema, na pintura ou em qualquer outra forma cultural, já não é - nem devia ser - a epítome de uma mulher submissa, mulher sentimento e emoção, a mulher conquistada, arrebatada, enfim, fraca, mas também não é o da mulher como igual, antes tudo o inverso, cabendo agora ao homem o papel deixado vago pela mulher, pois ele já não conquista mas é conquistado, pelo menos mais activamente, na medida em que elas começam a ter um papel preponderante na aproximação.
Um exercício fácil de fazer é traçar uma linha entre o olhar do homem e o da mulher nas cenas de beijos retratadas nas mais variadas formas de arte, como as que ilustram este texto. Fazendo esse exercício vemos que a linha vai passando de um sentido descendente (o homem olha a mulher de cima para baixo) para um certo nivelamento e até uma inversão dessa mesma linha. Isto denotará uma mudança na imagem social do amor.
Sendo assim, uma vez que já não é o garante da subsistência, o homem aproxima-se inexoravelmente da não existência, do homem que é apenas aceite, o homem objectificado, e que ao contrário da mulher não detém, no seu posto mais fraco, nenhum poder, pois a mulher, mesmo quando se encontrava numa posição inferior no ranking dos géneros, sempre se soube valer de “pérfidos” sistemas para ir aqui e ali dominando algumas áreas da existência humana, estratégia que os homens, por limitações várias e também por estarem ainda numa fase de habituação a esse papel secundário, não conseguem imitar, mostrando-se nitidamente afectados pela sua desvalorização ao mesmo tempo que denotam estranheza na sua situação.
Urge perguntar sobre qual o papel que é esperado dos homens nas sociedades actuais? Que sejam providenciadores, que sejam independentes? Eu acho que ninguém sabe, acho mesmo que as mulheres não conseguirão dizer com certeza absoluta aquilo que querem e esperam de um homem. Ao homem actual restará apenas a solução de ser quase perfeito, de ser cavalheiro, mas respeitar a independência das mulheres, de ser sensível para entender as fraquezas humanas, mas forte para arrebatar paixões, de ser, enfim, aquilo que as mulheres querem que eles sejam a determinada hora, consoante o seu estado de alma, porque de outra forma não conseguem espalhar a sua semente, razão básica pela qual eles se encontram aqui. Vendo bem, essa razão será a única, porque em tudo o resto elas já substituem os homens, perfilhando até algumas das características que mais repudiavam, emulando os seus hábitos e, é claro, as suas consequências.
Recapitulando, se o homem morria mais cedo porque era ele que se expunha aos riscos da caça, da luta, da alimentação desregrada e dos hábitos de vida mais prejudiciais e a mulher subsistia durante mais tempo devido ao seu papel educador das gerações mais novas e à sua poupança nos malefícios da vida, agora já não é assim, havendo uma mitigação nas esperanças médias de vida, as quais, por sua vez, também se inverterão totalmente. Mas é claro que isto demora tempo. Ambos os sexos estão a aprender a lidar com esta nova situação e não é algo que mude de um dia para o outro, mas apenas e só uma tendência que se nota. Provavelmente, será de todo impossível almejar a uma sociedade igualitária, não ao nível dos direitos, mas dos poderes de interacção entre os sexos; a um paradigma de domínio do homem seguir-se-á um paradigma de domínio da mulher, depois do homem, da mulher e assim sucessivamente.
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Sendo assim, uma vez que já não é o garante da subsistência, o homem aproxima-se inexoravelmente da não existência, do homem que é apenas aceite, o homem objectificado, e que ao contrário da mulher não detém, no seu posto mais fraco, nenhum poder, pois a mulher, mesmo quando se encontrava numa posição inferior no ranking dos géneros, sempre se soube valer de “pérfidos” sistemas para ir aqui e ali dominando algumas áreas da existência humana, estratégia que os homens, por limitações várias e também por estarem ainda numa fase de habituação a esse papel secundário, não conseguem imitar, mostrando-se nitidamente afectados pela sua desvalorização ao mesmo tempo que denotam estranheza na sua situação.
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Por isso, nós, enquanto homens, não temos de nos preocupar, apenas temos de nos conformar em que nos escolham, em sermos o melhor possível para o papel que nos reserva e se aceitarmos esse papel até seremos bem sucedidos nas relações, com a noção de que caminhamos para uma sociedade pior (no sentido da perda do domínio), mas que ainda tardará. Não é, mais uma vez, uma mudança revolucionária e apenas uns indícios se assumem. Contudo, olhando à volta e também para dentro, já vejo aí muitos homens e mulheres a agirem de acordo com o que aqui está escrito.
(João Freire)
Reaproveitado para o tema de Janeiro de 2011, Preconceito, num desafio da "Fábrica de Letras"
9 comentários:
Preferia que as relações entre homem e mulher, entre crianças e adultos, entre pretos e brancos não fossem analisadas de acordo com quem detém o poder ou não, mas é a sociedade em que vivemos e só desta maneira nos podemos, se calhar, distinguir dos outros.
As diferenças de relacionamento entre os homens e as mulheres, o que os primeiros e as segundas desejam não é assim tão diferente, o problem é que queremos, muitas vezes, o mesmo e, se assim se realizasse, o mundo era capaz de tombar...
Em vez de esperarmos sentados que se estabeleça alguma semelhança (ainda que diferente), deveríamos tentar nos simples pormenores da vida tentar compreender e aceitar o "outro", sem cair no exagero claro, porque tudo o que é demais...
No geral, boa explanação e abordagem de ideias e bastantes boas imagens, algumas delas fizeram-me mesmo lembrar velhos tempos.
Frozen
Parecem dois sociólogos a discutir razoavelmente um assunto.
"A guerra dos sexos".
Lala, e esta ainda é mais perigosa que a dos Mundos... os extraterrestres são mais feios e maus :)
Puxa... Isto é uma tese...!
É muito interessante pensar nisto... Não sei é até que ponto essa ou qualquer outra reflexão poderá levar a uma conclusão... É um domínio um bocadinho pantanoso!
...e gostei muito das imagens!
B, não tem de haver uma conclusão... vamos nós fazendo as nossas próprias e pequenas concluões :)
O excelente texto retrata uma verdade: o papel das mulheres mudou no desenrolar dos anos!
É claro que ainda existem aqueles que pela força querem manter o domínio de séculos, chegando a extremos para mantê-lo, se não nesse mundo, no dos mortos...
Eu, por minha vez, sempre fui uma pessoa que busca o equilíbrio e, portanto, para mim foi mais fácil de me adaptar a essa nova realidade, pois nunca subjuguei uma mulher, sempre a tive com o mesmo carinho na minha mesma esfera, no meu mesmo patamar, igual a mim...
Parabéns pelo belíssimo artigo que nos trás! Recomendo-o!
Abraços renovados!
Joe Father, mas o equilíbrio também é difícil. acho que fica bem a toda a gente procurá-lo, por vezes andamos todos lá perto, mas é mais difícil o equilíbrio do que o desequilíbrio.
Obrigado e abraço.
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