02/11/2008

Sobre os filmes de Domingo

Há dias em que não apetece dizer nada, outros em que apetece dizer tudo, mas fica sempre a sensação de que muito do que dizemos não tem grande importância, porque descobrimos que não somos exemplo para nada, que não somos melhores do que ninguém, que somos, quanto muito, razoáveis e que o potencial que demonstrávamos redunda normalmente em nada, que o tempo passa por nós como passa por toda a gente e que no fim, vai tudo dar ao mesmo… que é nada.

Sendo assim, num dia em que muitas tretas passaram pela minha cabeça, fica aqui mais uma remessa delas, no embrulho pseudo-intelectual do costume, sobre os filmes de domingo.

Pensava o João:
Na vida real é mais difícil. Na vida real não só somos magoados como magoamos e não há final feliz que mitigue o sofrimento causado ao longo dos tempos. Experimentamos a nossa felicidade nos outros e apesar do nosso altruísmo, pensamos sempre e em primeiro lugar em nós. Admiro quem esquece, admiro quem ultrapassa os obstáculos que se vão colocando à frente sem olhar para trás – alguns nem sequer olham para o lado –, admiro também quem se conforma ou acerta à primeira e não precisa de tentar de novo, de destruir para construir, e admiro quem não chora. Cada vez estou mais convencido da nossa igualdade enquanto seres humanos e na nossa incapacidade em lidarmos com alguém para além da imagem deturpada que vemos no espelho. A comunicação, nomeadamente a que envolve formas de linguagem mais elaboradas como a fala e a escrita, é a maior conquista da espécie humana e poucos tendem a dar-lhe essa importância, embarcando por vezes em gritos mudos, amuos, zangas incompreensíveis por falhas que só nós vemos nos outros e depois, quando nos perguntam o que foi, o que se passou para estarmos assim, apenas respondemos um “nada”, como se fosse obrigatório compreender a evolução da nossa disposição. O que se segue é o ataque, uma resposta real a factos fictícios e é assim em todo o lado com toda a gente. É assim que nascem as discussões de namorados e as guerras entre estados.
Temos de apostar na sinceridade, na capacidade de pedirmos desculpa e aceitarmos os outros, enfim, num ecumenismo social trazido às relações humanas assente na aceitação e compreensão.

(João Freire)

8 comentários:

Anónimo disse...

Mas não será utópico esse tipo de pensamento?

Por entre o luar disse...

Um pensamento bom não podemos negar... mas infelizmente é raro a pessoa que consegue seguir em frente e que muito menos consegue, nem sequer olhar para o lado*

beijo *

Johnny disse...

Não concordo com nenhuma das opiniões. De facto, acho que nem sequer é difícil, acho até que eu sou o tipo de pessoa que faz isso frequentemente (perdoe-se a arrogância). Concedo sim que será utópico pensar nos resultados dessa sinceridade, já me vi na situação de concordar que a sinceridade nem sempre é muito boa pelas consequências que acarreta, até já me disseram que sou sincero de mais, mas há algo de positivo na assunção da sinceridade como deontologia: a ausência do sentimento de culpa ou, no mínimo, a atenuação desse mesmo sentimento de culpa.

Por entre o luar disse...

Vendo por esse ponto do vista arrogante ficas com razão! Mas eu não consigo ser tão "arrogante", infelizmente ha sentimentos que se sobrepõem à razão...

beijo*

Johnny disse...

Talvez, mas também podemos colocar os sentimentos ao lado da razão e a razão ao lado dos sentimentos. Pode ajudar ou não, mas para tirar nabos da púcara... só experimentando. Sei que, no dia em que deixei de me chatear por causa da forma como reagi a certas atitudes, sentimentos e emoções, dormi melhor. Isso eu sei.

Anónimo disse...

Cada a qual a sua opinião, mas, estava a falar de um modo geral, não individual.

Johnny disse...

Mesmo assim CCCP, mesmo de uma forma geral, continuo a achar que existem muitas pessoas assim. Portanto: haver? Há!
(Gosto da forma como os autores de blogues respondem aos comentários como se soubessem tudo sobre tudo, com uma certeza enciclopédica e acho piada a isso. Para clarificar - e evitar sentir-me como um idiota presunçoso -, entenda-se que é a minha opinião, que é seguramente bem fundamentada, mas, ainda assim, uma opinião)
Mas dizia eu que há muitas pessoas assim, que usam e abusam da sinceridade e que são mal-entendidas por isso. Muitas das pessoas sinceras que conhecemos são os anti-sociais, os chatos, os parvos e arrogantes da nossa vida.
(Lá está: as consequências perversas da sinceridade)

P.S. - CCCP já arranjavas um blogue próprio para comentarmos.

Não é que não comente o blogue de Valverde (que não tenho comentado), mas parece-me que tens umas ideias interessantes, pelo menos no que concerne ao que tenho lido nos comentários, e mais pessoas assim na blgosfera não fazem mal nenhum.

Anónimo disse...

Obrigado amigo johny, vou pensar e quem sabe... mas não tenho lá muito talento para a escrita... tipo a tua.
Abraço