Um dia destes, logo de manhãzinha… ou madrugadazinha, dei por mim a ser vítima de um furto. Eu estava a ser vítima de um furto! E o cenário era este: Um homem de canadianas, ao lado do meu carro a mexer num prato das jantes, aqueles discos prateados que tapam as jantes, e eu olhava para ele da janela. Ora, eu não tenho um carro por aí além - como foi visto e lido neste blogue, é um simples Renault Clio - e, como tal, os pratos das rodas também não são grande espingarda (se é para embarcarmos em expressões populares, embarquemos), até porque a própria ideia desses objectos já não é em si uma ideia luxuosa. Luxo é ter umas jantes especiais. Isso é luxo - Aliás, isso até pode nem ser luxo e ser parolo - digamos que luxo é ter um carro luxuoso. Pratos de jantes são um remedeio ou uma inevitabilidade. No entanto, furto é furto e mais que não fosse por uma questão de orgulho tinha de dizer alguma coisa. Como estava ensonado, apenas disse, da janela até ao outro lado da rua: “o que é que está a fazer?” O homem não disse nada ou murmurou qualquer coisa (estava praticamente a dormir em pé e não me recordo. Não sei se já disse que isto se passou de madrugada?), mas lembro-me que pontapeava o prato, como se estivesse a encaixá-lo de novo por ter percebido que tinha sido apanhado em flagrante. Vesti-me rapidamente e fui confrontá-lo. Ele respondeu ao confronto com cobardia, dizendo que apenas estava a ver o carro, que tinha um igual e tal e que gostava de andar por ali até para ver o pessoal que vinha da discoteca e que roubava antenas dos carros, cadeiras das esplanadas dos cafés e essas coisas. Mas ele? Roubar? Nada! Ele não roubava, até porque era doente (por ter usado esta desculpa é que foi cobarde), tinha sido operado ao coração e mal podia falar. Eu disse que sim, que o percebia e até brinquei com ele, dizendo que o meu carro era melhor e mais bonito do que o dele (são iguais aparte do dele ser a gasolina) e que não adiantava andar a roubar – se andasse a roubar – coisas do meu. Disse estas coisas para ele perceber que eu não era nenhum sonso, mas, obviamente, não sei se funcionou. Deixei-o e fui trabalhar. A meio da manhã o meu pai e chefe diz-me que a minha mãe, que se deslocara ao local do crime, lhe telefonou reportando-lhe que faltavam dois dos ditos tampões (?) ao carro. De imediato comecei a pensar no que faria quando chegasse a casa para reaver o que era meu ou no mínimo castigar o autor do furto dos pratos das jantes. Passaram pela minha cabeça as seguintes ideias:
1ª - Chegar ao pé do carro do outro senhor e simplesmente retirar os pratos do carro dele, dirigir-me ao meu e colocar os pratos no meu carro.
(Nesta primeira ideia, imaginava gente ao meu lado, até mesmo o dito senhor, berrando ou gesticulando perante a minha despreocupação)
2ª - Cagar à porta de casa dele.
(É uma ideia habitual em quesílias, no entanto é também habitualmente infrutífera, é uma ideia que apenas faz sentir bem, estimulando o ego… e o esfíncter)
3ª - Deixar passar… ou quase! E mandar cartas insultuosas durante o tempo que ele levasse a devolver os pratos ou a morrer. Esta ideia era acompanhada de telefonemas às 3 e 4 da manhã, desligando antes que alguém atendesse ou deixando apenas que se ouvisse um intenso e assustador bafo de respiração; assim como o inevitável toque da campainha de casa às mesmas horas.
4ª - Por último, pensei em ir comprar um coelho pronto a cozinhar – quanto mais ensanguentado melhor – e deixá-lo pendurado na porta do senhor com uma faca de mato e um papel no qual se poderia ler: “Isto é o que lhe pode acontecer a si, à sua mulher ou aos seus filhos se não devolver os pratos!”
Claro que quando cheguei a casa e me dirigi ao carro vi que já estava tudo no seu devido lugar. Ao que parece, entre a hora que a minha mãe viu o carro e as horas a que eu cheguei perto dele, o homem terá pensado duas vezes – até porque sabia que eu o tinha visto – e devolveu o que roubara. As ideias ficaram apenas na minha cabeça. E depois não consegui deixar de pensar qual teria adoptado?
(João Freire)
Ingenuidade
-
Não são só as crianças que são ingénuas.
Há um dia que perdemos essa qualidade (ou defeito).
Ninguém nos ensina a viver mas, a vida ensina-nos que, as ...
4 comentários:
Obrigar o dito cujo a pendurar os dois pratos nas orelhas durante um ano para se recordar que o coração nada tem a ver com o cérebro.
cccp
Amigo johny já consegui criar mas tive que pedir "emprestado computador ", o meu não quer nada com a web. Aqui vai:www.abracadabra-cccp blogspot.com
Está feito amigo, falta o 1º ponto mas a seu tempo virá.
ahahahahha... seria sem dúvida uma escolha difícil.
Enviar um comentário