Os grupos de adeptos caminham pelas ruas separados, preparando-se. Está frio e há um burburinho adivinhador que cresce em cada esquina e rua da cidade. Mais à frente, mais próximos, há mais gente e menos espaço. As pessoas juntam-se, empurram... preparam-se. O medo da multidão dá lugar à sua força, à união. Já não há indíviduos nem pessoas, apenas uma massa indistinta de gente que se movimenta como uma onda.
Os de trás apertam os da frente, alguns gritam, outros devolvem o empurrão e a ânsia cresce. Na cabeça de todos um destino, o campo dos sonhos onde tudo se passa.
Da confusão nasce a ordem. Filas e mais filas ordenadas perfeitamente, de novo com indivíduos à espera da sua vez. E é lá dentro, quando caminhamos finalmente pelas entranhas do monstro, que o barulho, um trovejar dos céus que ecoa pelos corredores e escadas, se torna insuportável, provocando o fluxo de adrenalina. Tudo é antecipação e preparação.
Lá dentro, finalmente, o espaço amplo, o barulho, o verde, as bancadas inclinadas a afastarem-se, a esconderem o que ali se passa do exterior, e uma sensação de liberdade.
Ao sentarmo-nos na bancada tornamo-nos outra vez num corpo único.
Amor, ódio, identidade, partilha, egoísmo, guerra, todos os sentimentos se juntam em cada um dos que estão no estádio.
Começam as rezas, os cânticos, o prelúdio da batalha. Nós contra eles.
Tudo é antecipação, preparação, tudo é amor, ódio... a vida num momento. Mas nada disto é bonito.
O que se passa no campo é sagrado. Lá, tudo é permitido e é lá que tudo rebenta. É futebol.
(João Freire)
27/01/2008
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2 comentários:
Pois é joão, é pena as cenas de violência; violência gratuita perpetrada por individuos cobardes,animalescos e outros mais adjectivos que servem para qualificar pessoas deste género, que descarregam nos outros os seus ódios, frustrações e provocações gratuitas que não levam a lado nenhum senão a actos de vandalismo e que acabam com essa dita ordem.
Miguel Salvado
E é sempre triste ver crianças ao colo das mães a chorar de medo... mas faz parte do futebol e até acontece porque a devoção dos adeptos é maior. Na maior parte dos casos, as claques tentam cingir a sua violência às claques rivais, mas há casos em que extrapolam a simples adeptos da outra equipa.
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