Na rua, 
No meio da avenida principal
Na chuva, 
Cheio de frio, 
Sem roupa e sem dentes 
- Sempre sem dentes -
Tão vulnerável, perante o olhar de todos os que conheces, 
Reduzido ao limite, à pena
À vergonha de quem tu amas a ver-te assim
Motivo de troça 
E apenas as mãos para tapar tudo:
O frio, a chuva, o corpo escanzelado que treme, o embaraço!
Porque não aquele sonho em que voas?
Sempre adorei sonhar que voava
O medo de saltar, o prazer de voar
Sentir
Mas não é esse o sonho que sonhas
Sonhas agora que és um nú desdentado e molhado 
Olhas para baixo na esperança vã do não reconhecimento
As faces ruborescem 
É o embaraço
E uma sensação de calor invade o teu corpo
Primeiro nas pernas, depois na alma
Só depois acordas, 
Lamentas-te pelos sonhos que não gostas
Tens oito anos e mijaste a cama
Lamentas o embaraço.
Sonhas com uma vida melhor sem teres sequer vida
Falta-te um termo de comparação, 
Que sabes tu da vida?
Daqui a oitenta anos, sem te aperceberes
O mesmo embaraço 
E tu a lamentar-te
A recordares a tua vida de criança 
Quando tinhas oito anos e tudo era perfeito
Mas é tudo um sonho
Nem oito nem oitenta
Algures pelo meio
E outros embaraços
(João Freire)
Reaproveitado para o desafio de Novembro da Fábrica de Letras, subordinado ao tema "Sonhos".
Escola Primária de Faiões - Chaves
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A escola primária de Faiões, no concelho de Chaves, é um dos mais belos 
estabelecimentos de ensino desactivados do país, pela sua dimensão, mas 
prin...

4 comentários:
LINDO! (caramba)
Grande veia filosófica, com mistura poética e uma excelente visão humanista!
Por falta de endereço:Miguel Salvado, Almada; filho de pai valverdense.
Johnny, caraças...! muito bem!!! Muuuito bem mesmo!
Briseis, obrigado :)
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