24/08/2007

A escrita

A escrita é apenas uma luta que persigo quando não tenho nada melhor para fazer. É como aquele ditado: Quem não sabe… escreve ou ensina, que vai dar ao mesmo. Quem sabe o que é o amor está neste momento a fazê-lo e não a escrever sobre ele. Para mim, a escrita, não sendo catártica, ou auto-flagelante, resume-se a um processo masturbatório de carácter catártico e auto-flagelante com consequências catárticas e auto-flagelantes. Mas nada do que escrevo é sobre mim. Não tenho nada em comum com aqueles que aparecem naquilo que escrevo e nada do que eles dizem faz sentido nas opiniões que eu defendo como minhas. É claro que eu estou lá. Podes encontrar-me em tudo o que escrevo. Podes encontrar-me nos c que não consigo arredondar, podes encontrar-me no excesso de vírgulas que tento abolir e podes seguramente encontrar-me nas contradições, nas incoerências de quem tenta ser inteligente, disfarçando que não escreve sobre o que escreve. Sobre o que escrevo? Escrevo por exemplo sobre ti e de como pensava que, independentemente de tudo, conseguiria fazer-te sorrir para toda a vida. Lembras-te das nossas cartas? Nelas descobrimos também como é mais fácil fazer chorar sem dizer grande coisa. Sim, tu também sabias isto tudo. As cartas de amor. Na realidade, pouca coisa numa carta é para o outro. Escrevemos para o outro e sobre o outro mas o que aparece nas cartas somos nós, basta procurar entre as linhas, nos borrões de tinta que são os acentos nos i, os traços dos t e os sinais de pontuação, como por exemplo o ponto final.

Sem comentários: