(Que procuras?).
Não sabia o que procurava. Tinha um sonho que a envergonhava.
- Desiste.
E dúvidas
- Desiste!
Muitas dúvidas, que, por sua vez, a enraiveciam.
Decidiu tirar uns dias. Pediu ao marido que a ajudasse. Ao menos ele nunca lhe tinha dito...
- Desiste.
Ainda que não dissesse nada de todo.
Ele ficaria com as crianças, sem perguntar nada - até porque era só um fim de semana - e ela voltaria Domingo à noite.
Pegou nos sacos, despediu-se dele enquanto as crianças dormiam e saiu.
Não passou da porta. Não havia nada para decidir. Tudo estava decidido há muito tempo.
- Está decidido.
Há dias em que nada acontece e nada do que possamos fazer consegue contrariar essa vontade superior. Dias que se transformam em semanas, meses e anos… uma vida de possibilidades, uma vida com mais perguntas do que respostas, mas uma vida apesar de tudo, uma vida com tudo lá dentro, de bom e mau, na esquizofrenia tão característica da natureza humana. Só o que falta conta. O fim é a marca do que fomos e pouco há para além do que é esperado de nós pela nossa condição. Ficam as certezas.
- Se não for uma escritora viajante, serei uma viajante que escreve, se não for uma apaixonada em viagem, serei uma viajante apaixonada, mas sempre a escrita, sempre a paixão e sempre a viagem.
Foge Foge Bandido - Ninguem é quem queria ser
(João Freire)
Reaproveitado para o desafio de Novembro da Fábrica de Letras, subordinado ao tema "Sonhos".