Não gosto de políticos.
Não será só culpa dos ditos. Não gosto de muita gente e por isso os políticos não são excepção.
Sei que é feio generalizar, pelo que assumo a minha fatia de culpa. Mas o desdém com que eu encaro o ofício e as pessoas que o materializam é, se não o maior, um dos maiores ódios que posso nutrir por algo ou alguém e eles não contribuem muito para inverter esta minha opinião.
Por exemplo...
Não gosto de José Sócrates. Essa é fácil. Como diria a canção: “Não sou o único”.
Tudo em Sócrates parece artificial, desde o ar de galã à forma como fala, ou seja, a forma como trata o eleitorado como uma mulher que pretende conquistar: percebendo que as mulheres na faixa etária dos 18 aos 50 gostam de homens responsáveis (com filhos ou animais de estimação) disponíveis… e que têm muita lábia.
Não gosto de Manuela Ferreira Leite porque para além do ar de professora de colégio interno (com paternalismo incluído e tudo), pertence àquele grande núcleo de políticos que nunca sai completamente do espectro partidário, aliás, permanecem mesmo como espectros, aliás, parece mesmo um espectro (se bem que a aparência não possa servir de justificação para não se votar em alguém).
Não gosto de Paulo Portas porque é populista, demagógico, nacionalista e betinho. Tem tudo pensado para dizer o que as pessoas – algumas pessoas! – querem ouvir. Daí o seu sucesso em feiras.
Não gosto de Francisco Louçã porque é parecido ao Paulo Portas, mas com uma agenda diametralmente oposta. Francisco Louçã tem sempre razão – é daquele tipo de pessoas que nunca perde uma discussão, independentemente de ter ou não ter razão. Só difere do Paulo Portas nas feiras que frequenta.
Finalmente: eu até gosto de Jerónimo Sousa, acho que será até um sentimento comum a muita gente, mas ouvi-lo dizer, naquelas entrevistas à moda de teste americano que foram para o ar na SIC há umas semanas, que chora "com alguma facilidade perante situações de violência com os mais fracos" e que, quando a jornalista (Raquel Alexandra) lhe pergunta se já chorou a ver algum filme, responde rapidamente "Chove sobre santiago", dá-me arrepios de tanto panfletarismo comunista, impossibilitando-me assim de o levar a sério e de o tomar como hipótese de voto.
Ser político é assumir todas as falhas de carácter como virtudes:
- Só os políticos negam a humildade para se diferenciarem dos outros sem serem acusados de gabarolice;
- Só os políticos fazem do apontar o dedo um acto comum sem serem chamados queixinhas;
- Só os políticos evocam o passado em favor de um argumento sem se sentirem rancorosos;
- Só os políticos troçam dos outros políticos sem que ninguém lhes diga que isso é má-educação;
- Só os políticos generalizam qualquer facto como argumento para explicar uma parte sem ninguém lhes lembrar que isso pode ser discriminação;
Mas esta gente nunca ouviu os conselhos das suas avós?
A política, em Portugal, continua a ser a mesma politiquice do início da Democracia.
Sendo assim, enquanto atravessa a fase parva da puberdade, eu abstenho-me de a tentar compreender, recusando-me a participar nas suas aventuras de juventude.
Por estas e por outras, simplesmente não voto.
(João freire)
P.S. - Se ainda votasse na freguesia de onde sou natural, até seria capaz de votar nas eleições autárquicas que se avizinham, porque uma das listas contém gente que eu conheço e sei que vale mesmo pelo que diz.
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11 comentários:
Oh... ao menos vota em branco. :s
Eu vou votar PRPPTPTTD :D
kiss*
Clap! Clap! Clap!
Muito bem analisado.
Mas estou com a Ginger... e o voto em branco?! vai ser a minha opção...
Penso de que... na realidade, acho que um nível de abstenção de 60% ou 70% será mais provável do que um nível semelhante de votos em branco e, atingindo esse nível, acho que o sistema político teria de sofrer revisões e alterações
Essas alterações envolveriam, nomeadamente, na mais importante e que diz respeito a estas eleições, a alteração da forma de eleição dos deputados para círculos uninominais. (Actualmente, os deputados são eleitos por um Distrito onde provavelmente nunca foram sequer abastecer gasóleo.)
O deputado tem de estar ao serviço do círculo eleitoral que o elegeu e não do partido a que pertence.
Mas isto é uma alteração administrativa, uma alteração que por exemplo está prevista no programa de alguns partidos (por exemplo, no programa do Movimento Mérito e sociedade), comoo haveria outras, respeitantes ao papel do primeiro-Ministro e do Presidente da República, a questão do multi-partidarismo, do poder local, da regionalização, da supressão de orgãos e serviços administrativos, etc. porque a maior alteração teria de ser a de mentalidade e essa só se consegue com um choque grande, um choque que eu penso que seria causado pela abstenção generalizada.
Posso não ter razão, mas participar em algo que não faz sentido para mim, é... não faz sentido.
(para além de tudo isto, mesmo que não fosse apolítico, devo estar a trabalhar e nunca poderia ir)
Obrigado, no entanto, por tentarem fazer de mim um cidadão exemplar.
Johnny, e se em vez da abstenção generalizada fosse possível mudar mentalidades e termos um VOTO EM BRANCO generalizado?! Teria mais peso, não?!... Digo eu!
Eu sei que sou utópica, mas não desisto facilmente... :)
Ia emendar o meu comentário e pôr 90%, mas já cá tinha uma resposta...
Não sei qual teria mais peso, sei por exemplo que nas últimas eleições se tem falado mais da abstenção do que dos votos em branco, mas admito a possibilidade de eu estar errado nas minhas conexões cerebrais e convicções morais, terminando apenas com a sensação triste de que me custa votar só por causa de um ideal de cidadania que no seu dealbar (andava há tempos para usar esta palavra) exigiria mais respeito pelo poder do voto e da representação democrática.
O meu voto vale muito e apesar de não votar, defendo todos os pontos de vista e a importância de cada voto... ou não voto.
Esta questão da abstenção activa e passiva e do voto em branco ser melhor do que ela (a abstenção) é uma discussão antiga que (ao que tudo indica) ainda não vai ficar resolvida nestas eleições.
Nunca desistas.
Boa noite.
Eu NUNCA desisto.
mas respeito, quem como tu não vota. consigo compreender a opção.
Eu no entanto continuo a acreditar que quando não votamos a mensagem que transmitimos é "Meus senhores, QUALQUER de vocês me serve", enquanto que se despender o meu tempo (e por vezes até é complicado) para ir votar em branco, apenas lhes digo "meus senhores, para mim NENHUM de vocês me serve".
Digamos que a mensagem é ligeiramente diferente, pelo menos para mim! ;)
A mensagem será diferente para ti, mas eu nunca ouvi nenhum comentador reflectir sobre os votos em branco, os quais, segundo penso, são distribuídos de forma proporcional pelos partidos concorrentes... acho, mas esse facto não interessa, o que interessa é que para quem ganha as eleições e para quem perde, os votos em branco e a mensagem perdem o sentido... no fundo, votar em branco ou não votar, acaba por ser o mesmo, duas faces da mesma moeda da indiferença perante o cenário político, só que não votar é mais fácil :) (estou a brincar, porque não é por aí) e, como disse, o meu não-alinhamento vai mais além do que os intervenientes, chegando ao modelo e ao sistema em si.
Cada um na sua, ficamos assim que ficamos muito bem.
eu voto sempre - pelo menos até agora - mas o que eu gostaria mesmo era de votar neles para uma qualquer câmara... de gás [já deixei este comentário noutro blog mas, como é verdade, repeti-o aqui]
Matar? Torturar ainda era capaz, mas matar não, acho que não... sempre tive pena dos animais irracionais... coitadinhos
Votar ou não votar? Eis a questão!
Exactamente.
E agora reparo que a ordem pela qual elenquei os candidatos correspondeu à ordem dos resultados das eleições. E esta, hein?
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