28/05/2007

Sobre desertos na margem sul, camelos, diplomas e outros afins

O meu voto é algo a que eu dou muito valor. No entanto, sinto que os políticos em geral não fazem muito por o merecerem. Desde quando a política se centrou nas discussões entre as pessoas e não nos caminhos para a resolução dos problemas? Se calhar desde sempre… Após uma breve reflexão, chego agora à conclusão de que nunca se centrou na resolução dos problemas. Tudo ou quase tudo na grande política é teórico. Assumem-se posições, argumentam-se posições, criticam-se as posições dos outros e depois roda tudo. Luta-se pala razão individual, o poder pelo poder e não pelo bem geral. Rousseau, também ele um teórico, pretendia uma coisa totalmente diferente. "O sistema não é perfeito, mas é o melhor que temos", costuma dizer-se. Não o será certamente. Basta vermos outros países para encontrarmos alguns sistemas melhores. Até o americano, com as suas Casas, os seus dois partidos e os seus lobbies funciona melhor. A única altura em que vi alguém comprometer-se pelo bem geral foi quando um político de Ponte de Lima afrontou o seu partido ao alinhar com um da oposição. Um voto por um acordo que beneficiou os seus eleitores. Isso é política. Os círculos uninominais são uma boa solução. Uma pessoa, um responsável, alguém que (em princípio) tem de zelar pelos seus eleitores. Outra mudança salutar é a importância crescente dos referendos, pois eles são a verdadeira cracia (poder) do demos (povo), mas há muita coisa que poderia ser diferente e melhor. Dizem que o facto de não votar (só votei no referendo ao aborto) é algo que me devia envergonhar e que é uma afronta àqueles que lutaram pela liberdade, mas será que esses que lutaram pela liberdade estão satisfeitos com o rumo que esta nova política assente na liberdade tomou? O facto político mais importante das últimas eleições tem sido a abstenção e não os votos em branco ou qualquer bloqueio às urnas numa aldeia remota. Se a abstenção chegar aos 70 ou 80 por cento dos eleitores de certeza que haverá uma reflexão importante a fazer e aí ninguém se furtará á discussão. É certo que há riscos, nesgas por onde um Salazar pode surgir, mas para isso basta estarmos atentos e não votar não quer dizer que estejamos desatentos.

(João Freire)

2 comentários:

ipsis verbis disse...

tiraste-me as palavras da boca.

tito_c disse...

É uma cracia do demo, é. Mas eu acho que temos que nos voltar a Jesus neste caso. Suponho que qualquer político, tendo algumas células humanas, é passível de ser tentado. E uma vez que o sistema se baseia no poder, e no que ele proporciona, é impossível um homem (ou mulher) notoriamente sofrendo de deficiência ,pois não consegue ganhar a vida a trabalhar, resisitir à tentação de ter o poder e as posses materiais que lhe acariciam o ego. E foi esta a frase mais longa que escrevi na vida. É um jogo, e quem é filho de boa gente não joga com gentalha dessa. Eu voto em branco, para que saibam que estou atento, e a cagar para a conversa deles.