Ontem não consegui dormir e só ao acordar percebi que foi por pensar no porquê que não o consegui. De manhã não consegui levantar-me por ter medo do que pudesse acontecer. Mesmo assim acordei e levantei-me... com grande custo e a chorar, levantei-me. Lá fora, numa perseguição maquiavélica, o sol insistia em brilhar e isso é como quando acordamos a sorrir e lá fora a chuva não pára de cair. Podia jurar que as pessoas estavam até mais simpáticas - o que me irritava freneticamente. Ninguém parava de olhar para mim. Hoje odeio toda a gente e porque não? Estando a jeito, pensei na morte, naqueles últimos instantes que temos de vida. O que nos passará pela cabeça quando sabemos que só temos um instante? Pensei também no sofrimento físico e nas suas mais variadas formas e pensei em matar. No entanto, rídiculo e inconsequente como sou, pensei em amar e sorrir, depois pensei em alguém… e outro alguém e, depois ainda, pensei em ninguém, fazendo força para que isso acontecesse e consegui. Logo a seguir, pensei naquele alguém. Merda! O carro chia: conduzo no limite da sustentabilidade. O carro chia. Hoje, alguém vai pagar a insustentabilidade de eu não compreender demasiadas coisas. Limite da sustentabilidade, insustentabilidade? A custo, sustento. Hoje, alguém que não merece, vai pagar. Mais tarde, voltei a pensar em alguém e agredi-me mentalmente. Não doeu e voltei a bater. É triste lidar com a minha dependência, não conseguir corresponder às expectativas que tenho dentro de mim para ser quem quero ser e pensar que, mesmo assim, o todo que sou é melhor do que todos os que me julgam e que não me alcançam. Detesto a voz que tenho dentro da minha cabeça mas é a única que me compreende (não me compreendendo). Hoje alguém vai pagar. É triste a minha dependência, mas hoje alguém vai ter de pagar e sentir na pele o que é sentir na alma a minha inocente demência.
(João Freire)
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