27/05/2007

O bilhete

Ao acordar dirigiu-se para a casa-de-banho. Precisava de um banho e de pôr as ideias em ordem.
No espelho, sob o lavatório, um papel pendurado dizia:

"Nem sei porque estou a escrever-te. Na verdade, nao me sinto culpada por te ter julgado, na altura foi o pior que me saiu e eu queria magoar-te... sei lá.
Já não sei o que pensas de mim... se calhar o que aconteceu foi deixarmos de ter a ver um com o outro.
(hmmm... nao sei se te deixo isto. No fim decido)

Sabes, é estúpido, quando não conseguimos dizer tudo a pessoas com quem partilhamos tempo e coisas.
Não sei se isto é um pedido de desculpas, porque mesmo que o seja, não sei se mudará alguma coisa.
A verdade é que também não sei se quero que mude.

Sei apenas que magoei uma das pessoas que mais amo.
(ainda nao sei se te deixo isto)
O que realmente me chateia, e acho que isso faz parte deste meu problema, (agora é que não deixo mesmo) foi nunca ter deixado de pensar em ti como possível marido e pai dos meus filhos...

Espero que por isto me perdoes um dia.

Sabes, se ela nascesse, dar-lhe-ia o nome de Alice. Sei que é uma das histórias que contas aos teus filhos, vi o livro no quarto da Joana...

Agora que consegui finalmente dizer-to, acho que resolvi o assunto que tinha por acabar. Adeus."

Ao voltar-se para trás, viu na banheira a mulher que tinha amado na noite anterior, a amante e a amiga que conhecia desde pequeno, com os pulsos cortados.



Lúcia Freire

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