Um dia, Syd Barret, excêntrico vocalista dos Pink Floyd com um historial de consumo de drogas e problemas mentais, juntou os seus amigos e colegas de banda num estúdio onde gravavam um álbum para lhes mostrar uma canção na qual andava a trabalhar. David Gilmour, que entrara recentemente na banda, e Roger Waters, tentariam acompanhá-lo. Barret começou por tocar algo aparentemente normal, começando depois a variar a melodia à medida que os outros a tentavam apreender. Ao mesmo tempo que ia tocando de improviso, numa longa sequência de acordes incoerentes, perguntava aos outros: “Have you got it, yet?" (algo como “já perceberam?”), ao que os outros, incapazes de seguir a melodia, respondiam: “no, no”, o que constituiria o refrão. A cena prolongou-se até que Roger Waters, apercebendo-se que aquilo não iria dar em nada, pôs o baixo no chão e saiu da sala de ensaios nunca mais tendo tocado com Syd barret, o qual, após a deterioração do seu estado mental, acabaria mesmo por deixar a banda.
Também a vida é como esta canção de Syd Barrett: toda a gente à procura de um sentido, toda a gente a tentar seguir os acordes, mas a vida a gozar connosco e a mudar as regras à medida que vamos andando, não porque queira, mas porque não tem sentido.
(João Freire)
Pink Floyd - Time
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14 comentários:
E de vez em quando os deuses descem à Terra, mesmo depois da morte. Seja por que razão for, é sempre bom relembrar um génio como Syd Barret, mesmo louco (e não serão todos?).
Os génios são sempre loucos... não são?!
Não tem sentido?! Se calhar até tem... nós, pessoas comuns, é que não o compreendemos!
Gostei de conhecer este episodio. O Syd podia ser louco que era, mas era também alguém com um talento muito especial, e é essa "vantagem competitiva" que muitas vezes marca a diferença e impede o comum mortal de caminhar ao mesmo passo. Por exemplo o Roger Waters, na minha opinião (eles são a melhor banda de sempre e ponto final) tem mais ego que talento (atenção q eu n disse q n tem talento, aliás já aqui tenho os bilhetinhos pra Março) e isso pode ser doloroso.
A vida troca-nos as notas às vezes? Verdade, mas como dizem os velhos cá na minha terra "conforme for o toque, assim é o balho"
Bêjo
Cirrus, há sempre alguma loucura na inovação e no génio, sim, pelo menos, eu concordo.
Pronúncia, e assim continuamos a seguir as notas aleatórias do génio louco.
Mel, eu acho que há dois tipos de pessoas, as que vão pelo David Gilmour e as que vão mais pelo Roger Waters, a minha ideia é precisamente a tua, pelo que gosto mais do David Gilmour, mas como nem sou grande fã nem tenho os bilhetes.... fico-me com isto. Os velhos é que a sabem toda e acho mesmo que é a única forma de encarar a vida.
Bem, também tenho os bilhetes. E essa questão também se põe com Waters e Gilmour. Gilmour é o artista perfeito, aquele que sabe compor e tocar de forma perfeita, que usa a cabeça para tudo. Waters foi assim no início. Depois cedeu ao coração. É mais emotivo, mais intuitivo, menos perfeito, mas com mais alma.
Será que os génios loucos não são aqueles que têm mais alma que os outros?
O Waters tem o mérito de ter composto as canções que hoje mais recordamos, já o Gilmour terá o mérito de lhes dar vida com a sua guitarra. Ainda para mais, terá sido ele a ensinar Syd Barret a tocar. Numa banda com a projecção dos Pink Floyd, todos serão geniais, incluindo o Nick Mason, que vocês verão, e o teclista, Richard Wright, que já faleceu. Quanto á pergunta que fazes, não sei.... digo apenas que os geniais são aqueles que fazem coisas geniais mais do que uma vez (às vezes é apenas sorte), independentemente do que as levou a fazê-lo.
:) uma boa maneira de começar o dia ... have you got it yet é como um esforço constante de alcançar algo que até podemos nem saber muito bem o que é. na música acredito que este "não saber muito bem", este "hunch", é o verdadeiro ponto de talento, como se pudessemos antecipar algo que ainda não existe até ser criado. Mesmo que não entendido.
Mas nestes "casos", o palpite não conduziu a lado nenhum, Vita C, apenas à frustração. Eu acho que é uma boa partida para os chicos-espertos, para aqueles que pensam que sabem... será um bom teste ao tal ponto de talento de que falas.
No início isso pode ser assustador, mas depois é muito libertador.
Clara Umbra, o gozo só é libertador para quem o pratica... para os outros é apenas frustrante. Convém notar que não era uma cena de improviso, mas uma canção normal com pontes, refrão, etc.... que ele próprio não conhecia, porque estava a gozar com os outros... e porque era maluco.
Ah mas o meu comentário não se referia ao episódio do Syd Barret e sim a estas afirmações tuas: "mas a vida a gozar connosco e a mudar as regras à medida que vamos andando, não porque queira, mas porque não tem sentido."; tendo a concordar com isto que dizes e a achá-lo cada vez menos assustador e cada vez mais libertador. : )
Ah, ok... mas, vendo bem, vai dar ao mesmo. Não consigo tirar a frustração e não consigo tirar o assustador da equação. Tudo acaba mal porque acaba. E nada nisso é libertador.
Compreendo, mas penso de forma diferente. Há coisas que podes controlar e coisas que não podes - e é libertador não poder controlar tudo (no início é frustrante /assustador, reconheço; depois, passa). As coisas não acabam, mudam, e quanto a isso não há mesmo nada a fazer; as coisas - pelo menos tal como as conhecemos - só acabam com a morte.
exacto, acaba com a morte... e isso é que é assustador, porque mesmo que mude (admitindo possibilidades extraordinárias) acaba o que conhecemos - o que basicamente somos nós, porque se formos energia, se formos para o céu, se sonharmos eternamente, etc, etc... deixamos de ser nós, com as nossas experiências, com a nossa vida e conhecimentos (amigos, família, amores, etc)... deixamos de ser nós - anda that's fucked up!
No entanto, pensei toda a tarde sobre isto e lembrei-me de duas coisas: um salto de bungee.... e um momento de desespero em que lutamos para salvar a vida (um daqueles de herói a gritar, todo magoado, enquanto enfrenta trinta inimigos de arma na mão pelo meio de um grito de revolta muito prolongado e que acaba por se safar). Passo a explicar: o facto de a vida terminar (de não conhecermos as regras) e de termos essa consciência pode ser assustador, porque temos medo de morrer ou medo de sermos atingidos por um desses criminosos - barões de droga e seus soldados - que nos encurralaram, mas pode ser libertador no sentido de mandarmos tudo para o c... e tentarmos (saltar, lutar) e nesse sentido concordo contigo :)
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