09/06/2010

A importância de (não) correr atrás de algo até à exaustão

Não gosto de jogos. Não quero dizer que não os faça – às vezes é impossível – mas não gosto da forma como me sinto quando entro neles. Talvez por isso, por efectivar esse meu desdém em relação às matérias de jogo onde ele não deva existir, deixei de correr atrás de algumas coisas. O amor não é um jogo, a amizade não é um jogo, a confiança nunca pode ser um jogo. Numa corrida há sempre alguém que não quer ser alcançado e só aí é legítimo tentarmos contrariar essa vontade de fuga perseguindo esse alguém até à exaustão*. Todas as outras corridas são insensatas, todos os outros jogos são desnecessários. Para quê jogar quando algo vale a pena. Às vezes um não é apenas um não e ninguém deve desprezar a bondade por trás de uma palavra que aparenta tanto negativismo. A sinceridade, por vezes também sobrevalorizada, magoa, mas é bem melhor do que o engano. Não há nada de positivo no engano. O engano retarda o sofrimento, abrindo lugar a expectativas e ilusões que mais tarde ou mais cedo se desvanecem, deixando um vazio denso que nos corrói de dentro para fora. A bola não anda de um lado para o outro quando um lado permanece quieto. E apesar de todo o sofrimento, a verdade é que mesmo quem desdenha o jogo sente falta do arremesso, seja porque o espera ou porque está habituado a ele, mas todos os jogos têm um fim e, apesar das atribulações e peripécias que lhe são características, há sempre um alívio regenerador no fim.

(João Freire)

*The Crawl





Para o tema "Estava vazio.." num desafio da "Fábrica de Letras".

17 comentários:

Pronúncia disse...

Destes jogos também não gosto. Não gosto e não os sei jogar. São desgastantes. Perde-se tempo que não se recupera. E a maior parte das vezes joga-se para perder.

Não gosto destes jogos.

(O vídeo é impressionante...)

Catsone disse...

Há jogos que valem a pena: FCP X SBL e afins. Esses jogos de relações e competições particulares não me interessam muito. Se calhar tb as evito ou, talvez, não precise de jogar.

Abraço

mz disse...

Tu tens de jogar sempre, Johnny...

Porque quer queiramos quer não tudo é um 'jogo'- salvo a confiança, essa tem de ser preto no branco!

O meu ponto de vista é este:
*Se queres amor, tens de o conquistar.

*Para o conquistares, tens de te revelar.
(porque ninguém está dentro do teu cérebro para adivinhar os teus pensamentos em relação às emoções, neste caso)

*Tens de agir.
(por vezes nem te apercebes, porque o fazes expontãneamente)

*Tens de definir estratégias.
(dás contigo a pensar... qual a melhor hora de encontrar aquela pessoa...)

O teu corpo e a tua mente têm de se manifestar.Um olhar, um toque, uma palavra, ou várias...

Tudo entra em jogo,Johnny... até a sensibilidade de se saber dizer... 'NÃO'

Moyle disse...

compreendo perfeitamente e consigo relacionar-me muito bem com o que dizes, mas considera uma coisa. dizes que a verdade dolorosa é preferível a viver no engano, por este só retarda o sofrimento. a questão está aqui. e se morreres no engano? arriscas-te a nunca sofrer realmente. não haverá na negação uma espécie de inteligência transcendente de auto-preservação emocional?

João Roque disse...

Tudo o que dizes está correcto, mas há uma questão mais ampla: é que a própria Vida é um jogo, e a esse não nos podemos furtar.

Vita C disse...

Podes não ser um jogador, mas este mesmo mundo onde existes é todo ele um imenso jogo. E como diria um Sigmund que ganhou notoriedade a mais, é como o xadrez, sabemos como começa e como pode acabar. Os meandros, esses são os teus graus de liberdade.
Jogar não é necessariamente mau. Os outros não serão necessariamente adversários a abater. Para mim, a questão é quando o jogo passa a manipulação e os adversários passam a marionetas face à nossa pontuação. E discordo. O amor é um jogo, a amizade é um jogo. E concordo, a confiança não é um jogo. Mas repito, o mal aqui não é o jogo.

Johnny disse...

Pois, Pronúncia, é mesmo desses de que falo, porque muita gente levou para outros, mas estes são mesmo os desgastantes e os não inocentes e seus sucedâneos... e esses são mesmo desgastantes e desnecessários. O vídeo é mesmo fixe, é :)

Ninguém precisa, catsone, mas às vezes é incontornável. Abraço.

MZ, eu admito que tudo seja um jogo, mas não precisa de ser um jogo mau, um jogo que favorece um engano. Isto tudo depende dos jogos que estamos habituados a jogar... haverá uns bons e uns maus, mas isso já fica ao critério de cada um... acho que nem gosto dos inocentes e bem intencionados :+
Quanto aos pontos, o amor não se deve conquistar. Deve haver amor, ainda que incerto, ainda que pouco, e depois agir sobre ele alimentando-o, mas sem forçar. Se existir floresce normalmente, mas sem esforço, sem luta... principalmente sem jogos e sem um otário a ter de fazer tudo e a ser julgado por isso :)

Tens de agir, mas podes agir de forma a que esclareças tudo... acho que é mais fácil. Os jogos podem depois ser até mais engraçados depois disso.

Podes definir estratégias para encontrares alguém, mas não são esses jogos de que falo. De quais falo? Também não sei, mas não são esses :) tu falas de jogos de conquista, eu falo de jogos de poder (às vezes até na conquista) que envolvem enganos e manipulação e sofrimento do tipo "vou fazer olhinhos àquele para chatear aquele, apesar de gostar daquele", "não lhe vou ligar, porque tem de ser ele a ligar", "vou dizer que não quero nada com ele, apesar de querer, para ver se ele quer mesmo", "vou-lhe dar uma chapada nos c@rn9s para ver como ele reage"... Deste tipo!

Moyle, respondendo à tua pergunta, sim! No entanto, convirás que isso também implica o acréscimo de um peso na consciência de quem enganou e que, em última análise, sofrerá com o engano. haverá auto-preservação, mas daí a chamar-lhe inteligência transcendente...

Pinguim, é um jogo, mas cada um joga como quer... até num jogo da batota pode haver honra e honestidade... e sinceridade!

VitaC, concordo contigo, a maior parte da culpa é dos jogadores, mas à partida, quando sabes mais ou menos as regras já sabes que aquilo não vai funcionar da forma que tu queres... porque também não se pode desresponsabilizar o jogo dos seus resultados... olha a roleta russa! Os jogadores de roleta russa terão muita culpa do resultado do jogo, mas o jog à partida também não oferece muitas possibilidades de êxito... ou oferece, mas a probabilidade de fracassso também é muito grande... e não é um fracasso qualquer!

Moyle disse...

inteligência do enganado, não do enganador.

Johnny disse...

Moyle, ya, do enganado.

Lala disse...

eu cá jogo. se não correr atrás, fico para trás. jogo, arrisco e, nem sempre petisco, mas assim vivo intensamente todos os sabores e dissabores da vida na vida real.
Gostei bastante desta pequena dissertação!

o vídeo está genial!

Johnny disse...

Admito todas as coisas boas e más do jogo, Lala, mas prefiro todas as coisas boas para além do jogo. Não há verdades absolutas, há verdadezinhas que cada um de nós prefere e com as quais lida melhor. Admito que para ti, apesar dos dissabores, sejam jogos frutíferos, mas eu acho que não...
No fundo, apesar das curvas e dos caminhos escolhidos, todos procuramos e todos caminhamos para o mesmo.

Lala disse...

A felicidade momentânea, a realização pessoal o meu bem-estar e o bem-estar dos meus, que no meu caso se resume "quase" à minha filha. Estes são os meus objectivos primários.
Também concordo contigo quando falas nas verdadezinhas que cada um de nós prefere... resumem-se aos sabores da vida. os dissabores, sabem-me bem... depois... quando passam e vejo que aprendi algo com eles. são formas de estar e de agarrar as pedras que se nos atravessam no caminho que escolhemos. digo eu.

mz disse...

BEm... depois das cerejas...

Até me ía engasgando... então eu disse que o amor se conquista!
Também se conquista sim... leva isso para onde quizeres, pronto... e tu não deixas escapar nada!
E eu não falo de jogos de sedução, ou da conquista pura e simples, Johnny...
Falo de relações humanas em que muita coisa está em jogo...
E pronto!

su disse...

por mais que não queiramos, a vida só por si é um jogo. e há que aprender a jogar o mais cedo possível, correndo o risco de sermos atropelados pela bola da vida, se não aprendermos rápido, se não formos bons jogadores.

[e quando nos tornamos exímios, o jogo da vida até que pode ser bem divertido...]

Johnny disse...

Ai... que não era desse jogo que falava... mas compreendo que as meninas (e alguns meninos) gostem de jogar... mas continuo a dizer que há jogos que não valem a pena.

Marcelo disse...

Linda postagem
Parabens.

Johnny disse...

Obrigado, Marcelo.