20/06/2010

Assim é. Assim seja.

«A viagem não acaba nunca. Só os viajantes acabam. E mesmo estes podem prolongar-se em memória, em lembrança, em narrativa. Quando o viajante se sentou na areia da praia e disse: “Não há mais que ver”, sabia que não era assim. O fim da viagem é apenas o começo doutra. É preciso ver o que não foi visto, ver outra vez o que se viu já, ver na Primavera o que se vira no Verão, ver de dia o que se viu de noite, com sol onde primeiramente a chuva caía, ver a seara verde, o fruto maduro, a pedra que mudou de lugar, a sombra que aqui não estava. É preciso voltar aos passos que foram dados, para os repetir, e para traçar caminhos novos ao lado deles. É preciso recomeçar a viagem. Sempre. O viajante volta já.»


José Saramago em Viagem a Portugal




Retirado do blogue Os outros cadernos de Saramago

30 comentários:

Pronúncia disse...

Nada permanece igual, por isso a viagem nunca acaba.

su disse...

eu acredito que esta vida é somente uma estação de uma viagem sem fim. já parámos em muitas estações e passaremos por outras tantas.

para o viajante, o seu tempo nesta estação terminou e deu início a uma nova caminhada até à próxima estação...

boa viagem, viajante...

Johnny disse...

As viagens não acabam, apenas acabam os viajantes, Pronúncia.

...ou os caminhantes, caminhante :)

Mas nunca se sabe. Talvez o Saramago já saiba agora... seria, a meu ver, um óptimo sinal.

Dylan disse...

Porra! Estava agora mesmo a transcrever este texto para o cabeçalho de um dos meus blogues! Aliás, é a minha obra favorita do falecido.

Moyle disse...

ET phone home!

só para citar qualquer coisa também

Helga Piçarra disse...

Se assim é, que assim seja.

Bonita homenagem.

Beijinho :)

Johnny disse...

Dylan, acho que não haverá mal nenhum que concretizes as tuas intenções. Original, nesta citação, só foi mesmo ele.

E até havia parecenças, Moyle!

Obrigado, Helga (ando para ler o Homem sem rosto há algumas semanas e ainda não consegui encontrar tempo... também não vai ser hoje)

Sandra disse...

And that's it. E nós tudo faremos para que os nossos "viajantes" preferidos, não se "acabem" também não é? Nem que seja, ao guardá-los, em cantinhos especiais, bem dentro de nós :)

beijo

Johnny disse...

Podem não acabar para nós, mas acabam para eles próprios, Sandra, tal como nós acabaremos para nós próprios ainda que não acabemos para quem cá fique... porque, como já disse várias vezes por aí nas 'nets' a memória dos e nos outros não alivia em nada a morte... apenas outras viagens, outros viajantes... a não ser que... logo se verá.

Um beijo de volta.

mz disse...

E nada termina no dia em que morre. Em seu nome fpermanecem os testemunhos e fica a palavra.

Sandra disse...

quem te disse que para nos acaba? se calhar o que aos olhos de todos é um "fim" pode ser o inicio de algo melhor :) acredito nisso, :)

beijinho

Helga Piçarra disse...

johnny, já me habituei à tua preciosa e sempre construtiva opinião, mas não há pressa. Lês quando tiveres um tempinho.

Beijinho :)

Johnny disse...

MZ, morre algo sim senhora, morremos nós!

Sandra, ainda bem que acreditas.

Helga, ainda não vai ser hoje :)

Por entre o luar disse...

- Ensaio sobre a Lucidez
“Não há maior respeito que chorar por alguém a quem não se conheceu.”
José Saramago

=)

Johnny disse...

Olha a desaparecida! Chorar, também não, Por entre o luar.

Brown Eyes disse...

E assim deve estar a ser para ele. Ele recomeçou. Espero que lá o valorizei mais que reflictam sobre as suas palavras. BJS

Por entre o luar disse...

Lol... desaparecida? nunca sai do mesmo sitio =)

Johnny disse...

Brown Eyes, "lá", onde? No nada? Tenho a impressão que lá para onde foi não acontece nada de especial...

O que torna o teu desaparecimento muito mais misterioso, Por entre o luar... mas isso até é uma coisa boa... o pessoal gosta de mistérios.

Por entre o luar disse...

Então desvenda-o ;D

Johnny disse...

Os mistérios só são bons quando se mantêm... vamos deixá-lo...

guida burt disse...

Que pena que seja esta uma viagem para lugar nenhum. Ele viajou, retornou, foi e veio e apreciou, durante tantos percursos, coisas belas e as horrendas também. Esta, agora, porém, é a viagem de quem partiu e jamais chegará - nem aqui nem lá ... Que pena! Resta-nos empreendermos a nossa "viagem" seguindo o roteiro que ele nos legou.

Johnny disse...

Não sabemos se será assim, "para lugar nenhum", mas todos temos de concordar que temos de tentar seguir o melhor "roteiro" possível, gb, seja o que ele nos legou ou aquele que vamos construindo debaixo do seu e de muitos outros legados.

marta, a menina do blog disse...

Uma obra excelente. A minha está autografada!

clara umbra disse...

Muito bem, bela homenagem. ; )

Johnny disse...

She's alive!!!!!!!!!!!!!


Thanks ;

clara umbra disse...

: D
Hiberno de vez em quando, é mais forte do que eu.

Johnny disse...

Acho que é uma coisa de mulher, isso de ter algo dentro delas - uma entidade qualquer - que é mais forte do que elas e que as obriga a fazer as coisas mais variadas e esdrúxulas...
Todas deviam ser exorcizadas!

Brown Eyes disse...

Será que não há nada lá? Não sei, não consigo prova-lo enquanto estiver viva. O que dizes ser um nada pode ser um tudo. Pensando bem, analisando a vida do ser humano, enquanto vive, pouco mais tem que trabalho e problemas, poucos se podem dar ao luxo de ter tempo para meditar, para viver. Quando o poderás fazer? Viverás quando morreres, aí sim, poderás ser livre e usufruir. Uma maçã depois de apodrecer acaba? Não apenas há uma transformação na sua aparência e ela vai-se tornar estrume que ajudará outra vida a fortalecer-se. Como dizia Lavousier: Nada se perde, tudo se transforma. Apenas se altera a forma original.
Beijinhos

Johnny disse...

Mary, esta é uma questão que abordei há algum tempo, acho que no teu período de retiro, mas é uma questão que a mim não me possibilita respostas. Só quando lá chegar é que (não) posso dizer, mas desconfio que não haja nada. Não sei... apenas desconfio. Quanto à maça, o meu problema é esse, deixar de ser maça para passar a ser estrume.

Johnny disse...

Maçã, eu escrevi maçã, a sério!