Encontramo-nos perante uma sociedade em que cada vez se dá mais importância aos media (e à televisão mais particularmente) e às imagens, notícias e publicidade por eles transmitidos e difundidos, sem termos o cuidado de filtrarmos informação e optarmos por alguns programas em detrimento de outros; partimos do princípio de que tudo o que nos é apresentado é verdadeiro e bom, caso contrário não seria permitido aparecer na televisão.Digo isto porque, por vezes, alguns de nós sofrem da ilusão da transparência, assistimos a programas, telenovelas, espaços publicitários e não distinguimos a parte do todo, é o exemplo de bebés, crianças e adolescentes com idades compreendidas entre os poucos meses de idade que algumas têm e os 16 anos, que constituem a parte de um todo indissociável, sendo isso considerado legalmente como inserido no trabalho infantil artístico.Torna-se cada vez mais complicado quantificar as crianças e adolescentes que se encontram nessa situação e, se por um lado, esse aspecto serve para comprovar que os seres humanos não são apenas números, por outro lado, transformam-se numa visibilidade invisível, ou seja, estão lá, aparecem com mais frequência nos televisores das nossas casas, mas recusamo-nos a falar e a ver nisso um problema, uma exploração do trabalho infantil, que poderá ter consequências maléficas no futuro, quer a nível escolar, quer a nível psicológico, social e cultural.E certo é que a retrospecção das emissões televisivas é de fácil análise, assim como os seus efeitos na vida das pessoas que as assistem, tornando-as, em alguns casos mais individualistas e noutros mais colectivizados, contudo a tarefa complica-se quando pretendemos descobrir o número de “actores” que participam activamente para que um programa, um filme, uma telenovela e mesmo uma estação televisiva inteira funcionem, nestes casos incluem-se as crianças.Crianças essas que, provavelmente, nos habituámos a ver em anúncios publicitários próprios para a sua idade, (para dar mais ênfase à verdadeira utilidade do produto); em telenovelas, inicialmente brasileiras (exemplo de «Gabriela», na segunda metade dos anos 70, «Escrava Isaura» e «Roque Santeiro»), e agora cada vez mais portuguesas (exemplo mais recente de «Morangos com Açúcar», mas também «Baía das Mulheres»); séries televisivas («Os Batanetes», «Inspector Max») e em tudo o que neste momento envolve o ambiente televisivo e passa para cá do ecrã.Não se trata aqui de estabelecer um tratado contra qualquer tipo de actividade que as crianças possam desenvolver enquanto jovens actores, ou manequins, mas sobretudo alertar para um facto que já vem acontecendo de há alguns anos a esta parte e, partindo do pressuposto que não se fazendo estudos, não haverá possibilidade de propagar o conhecimento, então nesta e desta área pouco ou nada se sabe, e os seus direitos caem no esquecimento.
Ana Melro
Socióloga. Mestranda em Sociologia da Infância
Mais artigos desta autora em http://www.apagina.pt/arquivo/FichaDeAutor.asp?ID=711
(Por acaso, é minha amiga e, por acaso, vai defender amanhã no Instituto da criança na Universidade do Minho uma tese sobre este tema.)
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1 comentário:
por acaso tenho uma foto dela...
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