19/04/2012

Rastos

A morte deixa um rasto pequeno e um funeral, apesar da longa caminhada e do choro de algumas pessoas é a prova disso, restando no fim, depois de se baixar o caixão, um estranho sem qualquer ligação ou emoção perante o que ali sucede a encher um buraco com terra enquanto as pessoas se afastam, comentando que era boa pessoa e que foi tudo muito rápido. A morte deixa um rasto muito pequeno e muito do sofrimento de quem ali estava já passou, e talvez isso seja uma coisa boa. 

Quando eu morrer by GNR on Grooveshark


7 comentários:

Brown Eyes disse...

Depende. Há pessoas que deixam um rasto eterno outras que nem rasto deixam. Hoje as pessoas pensam mais no rasto monetário de quem morre. Pena que tudo esteja a ser banalizado, até a vida. Há tanto tempo que não passava por aqui! Beijinhos

Briseis disse...

Álvaro de Campos tem um poema genial que a dada altura diz:

"Depois (da morte, entenda-se), lentamente esqueceste.
Só és lembrado em duas datas, aniversariamente:
Quando faz anos que nasceste, quando faz anos que morreste;
Mais nada, mais nada, absolutamente mais nada.
Duas vezes no ano pensam em ti.
Duas vezes no ano suspiram por ti os que te amaram.
E uma ou outra vez suspiram se por acaso se fala em ti."

Mas, apesar de gostar do poema, não acredito nele. O rasto da morte passa, mas o da pessoa fica, profundo e definitivo. Terminado o cerimonial mórbido, cala-se cá dentro a revolta e o pesar... Do que tenho visto, caríssimo Johnny, o rasto fica. A queimar. Silenciosamente. Melhor seria se não ficasse.

Eva Gonçalves disse...

Deixa que te diga que isso só acontece quando as pessoas não são muito próximas... senão o rasto pode ser extenso e infinito, sei do que falo. Beijo

João Roque disse...

Isso é muito variável.
Se a pessoa é um ente querido o rasto é grande e perdura, podes estar certo.

Johnny disse...

Mary, Briseis, Eva e joão Roque, todos têm razão, mas também é verdade que isso se verifica mais quando não é 'natural', ou seja, quando é alguém mais novo ou um parceiro que foi antes do tempo, porque quando se insere no devir natural, aí o instinto apodera-se e aceita-se mais "facilmente". Ou nunca ouviram o "foi melhor assim" e o "também já não era muito novo"? e depois aí é como diz a Mary Brown Eyes em que se pensa "mais no rasto monetário".

Briseis, obrigado pelo poema, que não conhecia e que entronca perfeitamente no que queria dizer.

E obrigado a todos pelos comentários e desculpas a todos por não ir aos vossos blogues comentar tanto quanto queria e vocês mereciam... Ir lá até vou, mas comentar já é mais difícil.

ipsis verbis disse...

A morte deixa sempre um buraco.

Moyle disse...

se tivéssemos uma relação mais saudável com a morte, valorizaríamos bem mais a vida. Toda a gente acha que vai viver para sempre e recusa aceitar que não. é uma das tragédias dos nossos tempos não sabermos (no conjunto) lidar com a morte.