04/04/2011

"Os cabrões lá ganharam" - Uma teoria unificadora do desportivismo

Estou em casa à espera que ninguém me incomode por causa do Porto ter ganho o campeonato. É normal. Uns ganham, outros perdem, uns vangloriam-se, outros chateiam-se, acusando os outros de não serem tão nobres quando eles são na hora da vitória. Mas não são. São todos iguais, somos todos a mesma merda de que são feitos os sonhos e os fracassos. É claro que todos achamos que somos diferentes, que somos melhores, mas tivesse eu ganho o campeonato e estaria neste momento a chatear todos os portistas que conheço, mesmo aqueles com quem não falo regularmente. Esse é o papel do adepto.
O desporto é assim: um lado ganha, outro lado perde, uns ficam contentes e os outros tristes. A nobreza na hora da derrota só existe para quem não compreende a essência do desporto. Respeito os adversários, acho que devem existir e daí faço o raciocínio que não os devo matar. Apenas isso. É tudo uma questão do que é aceitável e do que não é. Parece básico mas não será bem assim, como se viu hoje nos arredores do estádio da Luz. A verdade é que muita gente não compreende um aspecto importantíssimo do desporto: Sem adversários não há competição e sem competição não há desporto. Pode haver qualquer coisa... no circo não há adversários, por exemplo, no teatro também não, mas, havendo outras coisas, não há desporto seguramente. Muita gente tenta racionalizar a discussão clubística como se fosse possível convencer o nosso interlocutor que a nossa equipa é melhor do que a deles e aí é que está outro erro crasso. Claro que muito do que é referido como "paixão clubística" é sinónimo de ignorância, ainda assim, importa avisar que não existe nenhum caso documentado de alguém que, após ter ouvido os argumentos do seu interlocutor, tenha dito: "Realmente, estes argumentos técnicos e históricos que apresentas nesta discussão fazem sentido. O meu clube é inferior ao teu e amanhã de manhã vou rasgar o meu cartão de sócio e mudar de clube". Ninguém. Nenhuma racionalização é mais forte do que aquela assente na irracionalidade e a escolha de clube é a epítome da irracionalidade e não adianta tentarem subverter esta certeza natural, porque tal tentativa apenas conduz ao agravamento dos métodos argumentativos, isto é, à violência. A violência é apenas uma forma exagerada dessa racionalização inconsequente. Daí não fazerem sentido os debates semanais na televisão e rádio de interlocutores dos principais clubes de futebol, pois estes só alimentam e amplificam as discussões anteriormente infrutíferas e inofensivas de café, transformando-as num baluarte da razão aparente, acendendo frustrações e ódios recalcados que extravasam nos adeptos com consequências gravosas. Perguntem a algum membro das claques dos principais clubes de futebol o porquê de fazerem o que fazem e todos lhes darão alguns raciocínios (muitos fornecidos por esses comentadores de regime), uns mais lógicos, outros menos, claro, mas nenhuns suficientemente válidos para justificar as suas acções mais visíveis nesses estádios de futebol que se vão enchendo de medo e sangue. Sendo assim, importa dizer aos eternos idiotas que agridem, atiram objectos, insultam e que promovem a violência em geral que o desporto é o que acontece lá dentro do campo, com casos, injustiças, suor, lágrimas, risos, derrotas e vitórias características do próprio jogo e que nada do que acontece lá dentro pode ou deve ser alterado por aquilo que alguém faz cá fora.
Deixem o deporto, com a glória e o insucesso, para os desportistas e a alegria a a tristeza, com bocas, piadas, até insultos como os que titulam este texto, mas sem violência, para os adeptos.

(João Freire)

Faith No More - Ricochet

"It's always funny until someone gets hurt and then it's just hilarious!"

17 comentários:

Briseis disse...

O desporto, como a religião, tem os seus fanáticos extremistas que, achando que estão a "vestir a camisola" e a defender bem as suas cores, não hesitam em destruir aquilo que lhes é contrário. Causa-me repúdio e cada vez acho mais que deveria haver penalizações grandes para estes arruaceiros.

Cirrus disse...

A mim resta-me, com respeito, dar os parabéns ao FCPorto, que fez um campeonato fabuloso. O resto... é coração.

Vita C disse...

Eu, sportinguista confessa, entendo muito bem o que queres dizer: vá, o meu clube não faz nada de jeito desde que o Boloni saiu (e ainda assim, defendi o Paulo Bento com unhas e dentes).
O FCP Ganhou, mereceu ganhar, e mesmo assim fiquei triste. Ganhou o melhor e os comportamento na Luz foram uma desgraça. Mas desde que em 2004 vi a final da Taça no Jamor (entre o FCP e o Benfica), e saí de lá a gritar ésseélebê que percebi que algures depois do Sporting e do Belenenses, vem mesmo o eterno rival da 2a Circular. Não me importa quem foi melhor, importa que não ganhou quem quis.

Rini Luyks disse...

Ontem o verdadeiro Benfiquista sentiu vergonha de o ser.
Perderam em campo, mau, mas o.k.
Mas o apagão depois do fim do jogo?
Onde é que está o fair play?
Benfiquinha pequenina, atitude miserável dos dirigentes.

Johnny disse...

Briseis, seria fácil evitar estas situações. Os estádios estão equipados com sistemas de vigilância que permitem identificar qualquer pessoa, pelo que bastaria tirar uma foto de quem provocasse desacatos e impedir que entrassem de novo em qualquer recinto desportivo, fosse por algum tempo ou para sempre, conforme a gravidade do acto.

Cirrus, resta nada... resta ficarmos caladinhos à espera de uma vitória do nosso lado. Se o benfica ganhar a Taça da Liga, a Taça de Portugal, a Liga Europa e se o Benfica apoiar o Passos de Coelho, já são vitórias suficientes para ofuscar o Porto :)

Vita C, como Sportinguista, resta conformares-te com o facto de terem a fama de anagariar as raparigas mais bonitas :) pelo menos, têm a fama!

Rini, a cena do apagão até poderia ser um episódio engraçado, não fosse o caso de ser um risco de segurança. Como foi um risco de segurança, foi lamentável, tal como o foram as agressões dos adeptos do Benfica à polícia, como foi o arremesso de objectos aos jogadores do Porto durante o jogo e tal como foi o episódio de os jogadores do Porto recusarem entrar de mãos dadas com os miúdos por estarem equipados à Benfica. Lamentável, é sempre lamentável.

ipsis verbis disse...

Ontem vi o filme Milk,um grande filme de um grande realizador, sobre a vida de um grande homem. But i digress... e no momento em que mostraram imagens dos confrontos entre a polícia e os homossexuais nos anos 70, a levar bastonadas e a serem levados para a prisão só por terem orientação sexual diferente, lembrei-me do que tinha visto antes nas notícias entre os adeptos do Benfica e a polícia.
Na altura, em que via estas cenas do filme, só me saíu: "Fogo, isto é injusto. Estes gajos não atiraram pedras a ninguém!"

Uma tristeza...

Johnny disse...

Não atiraram pedras a ninguém, mas são gays... e toda a gente sabe que ninguém gosta de ver os outros contentes!

Di Almeida disse...

a última frase resume bem o meu sentimento pelos benfiquistas.Sorry John.We still like you man ;)

Johnny disse...

Como dizem as senhoras mais velhinhas, isso sai da boca e não do coração.

Di Almeida disse...

Com a verdade te enganas...Também já ouvi esta!

Johnny disse...

Rai's parta as velhas que têm expressões para tudo!

João Roque disse...

Sou benfiquista como tu, e ninguém me venha demonstrar que o clube A, B ou C é melhor, pois está a malhar em ferro frio.
Dou os parabéns ao Porto, pois o começo do Benfica foi terrível e o Roberto continua a não inspirar confiança.
Agora o que importa é eliminar esse clube que tem uma aberração humana como presidente, da Taça, e seguir em frente na Europa Cup, para os apanharmos outra vez, nas meias finais.
O que se passou no final do encontro foi lamentável...

Johnny disse...

Não, pinguim, só os apanhamos na Final. Se todos ganharem, apanhamos o Braga na meia-final e depois vamos à Final a Dublin com o Porto. Eu até gostava.

Moyle disse...

os cabrões lá ganharam...

Johnny disse...

Moyle, e é verdade, com todo o desportivismo.

Di Almeida disse...

Oh John,pronto.Agora que já bateram com o pézinho no chão faz lá um post sobre o ser superior..Aquele,tu sabes!As mulheres.

(é desta que levo uma cacetada tão grande que faço o pino 3 dias.)

Johnny disse...

Di Almeida, a verdade é que a inspiração (que nunca foi muita) tem andado (ainda mais) fraca... mas se carregares ali na etiqueta "mulheres" tens lá muita coisa para te entreteres a gozar, argumentar criticar!
Claro que nunca se disse tudo sobre nada, muito menos sobre esse tópico tão abrangente como as mulheres e talvez apareça aí algo.

(pelo que se me dá a perceber, és mais de dar cacetadas do que de as levar, mas logo se verá)