20/06/2010

Assim é. Assim seja.

«A viagem não acaba nunca. Só os viajantes acabam. E mesmo estes podem prolongar-se em memória, em lembrança, em narrativa. Quando o viajante se sentou na areia da praia e disse: “Não há mais que ver”, sabia que não era assim. O fim da viagem é apenas o começo doutra. É preciso ver o que não foi visto, ver outra vez o que se viu já, ver na Primavera o que se vira no Verão, ver de dia o que se viu de noite, com sol onde primeiramente a chuva caía, ver a seara verde, o fruto maduro, a pedra que mudou de lugar, a sombra que aqui não estava. É preciso voltar aos passos que foram dados, para os repetir, e para traçar caminhos novos ao lado deles. É preciso recomeçar a viagem. Sempre. O viajante volta já.»


José Saramago em Viagem a Portugal




Retirado do blogue Os outros cadernos de Saramago

15/06/2010

O moralista

Conheço muita gente com princípios.
Princípios morais, princípios políticos, princípios profissionais, princípios religiosos, princípios sociais, até princípios amorosos! Princípios.
Conheço muita gente com princípios, mas pouca gente com fins.

(João Freire)


Ornatos Violeta - Homens de Princípios

12/06/2010

A verdadeira cereja é a cereja do fundão



E a verdadeira festa da cereja, é em Alcongosta.


(Links roubados ao Dylan)

09/06/2010

A importância de (não) correr atrás de algo até à exaustão

Não gosto de jogos. Não quero dizer que não os faça – às vezes é impossível – mas não gosto da forma como me sinto quando entro neles. Talvez por isso, por efectivar esse meu desdém em relação às matérias de jogo onde ele não deva existir, deixei de correr atrás de algumas coisas. O amor não é um jogo, a amizade não é um jogo, a confiança nunca pode ser um jogo. Numa corrida há sempre alguém que não quer ser alcançado e só aí é legítimo tentarmos contrariar essa vontade de fuga perseguindo esse alguém até à exaustão*. Todas as outras corridas são insensatas, todos os outros jogos são desnecessários. Para quê jogar quando algo vale a pena. Às vezes um não é apenas um não e ninguém deve desprezar a bondade por trás de uma palavra que aparenta tanto negativismo. A sinceridade, por vezes também sobrevalorizada, magoa, mas é bem melhor do que o engano. Não há nada de positivo no engano. O engano retarda o sofrimento, abrindo lugar a expectativas e ilusões que mais tarde ou mais cedo se desvanecem, deixando um vazio denso que nos corrói de dentro para fora. A bola não anda de um lado para o outro quando um lado permanece quieto. E apesar de todo o sofrimento, a verdade é que mesmo quem desdenha o jogo sente falta do arremesso, seja porque o espera ou porque está habituado a ele, mas todos os jogos têm um fim e, apesar das atribulações e peripécias que lhe são características, há sempre um alívio regenerador no fim.

(João Freire)

*The Crawl





Para o tema "Estava vazio.." num desafio da "Fábrica de Letras".

04/06/2010

Doce avozinha


Para a minha avó Irene, que faz anos hoje, e para todas as avós que acham o melhor dos netos, que sonham os sonhos deles, que sofrem por eles quando não os realizam e que afinal de contas gostam mais deles do que aquilo que eles merecem.


Doce avzinha by Agrupamento Musical Lauro Palma