Tínhamos combinado encontrar-nos no metro dos Anjos.
(eu, Sara, mano dela e João)
Íamos ver a exposição "Centre Pompidou Novos Media 1965-2003" no Museu do Chiado.
Aos Domingos, até às 14h não se paga os € 3 de entrada.
É grátis.
No total, de 23 obras dos 19 artistas, posso dizer que gostei de 15.
As mais antigas, dos primórdios do vídeo, foram as que mais me cativaram pelo seu lado experimental. Assim, refiro que gostei e aprendi com o Jean-Luc Godard e o seu "Prólogo Posterior" ao seu filme Passión. Uma espécie de making-of juntamente com aula sobre vídeo com as suas teorias rebuscadas.
Ri-me com os bonecos de trapos do Tony Oursler, espalhados pelo museu em sítios inesperados com projecções de várias caras conhecidas na cara de cada boneco. Com diálogos estranhos que pareciam falar de nós, espectadores. Um deles, mesmo no início das escadas para o primeiro piso era o David Bowie que falava sobre o gajo que estava "ali atrás" de t-shirt a mexer-se demasiado.
Do Bruce Nauman, retive os vários vídeos de vigilância espalhados pelo museu e os diferentes espaços e tempos em que cada espectador aparecia. Éramos ao mesmo tempo o observado e o observador.
Do escritor Samuel Beckett gostei de o saber empreendedor nas novas tecnologias, quando um ano antes de morrer, preparou uma performance, "nervosa" de 4 figuras humanas que se envolviam num cubículo. À volta de um ponto no meio do chão. Equilibrado pelos sons dos pés a arrastarem-se. As 4 figuras vestiam capas coloridas.
Por fim, vou falar da obra que mais me tocou. Esta de 1989. Chama-se "Site Recite (a prologue)" e é do Gary Hill.
Uma televisão, com fones e um banco preto à frente.
Sentei-me já com os fones.
A imagem compreendia vários objectos desde, conchas, folhas, bichos mortos, caveira e papéis, dispostos numa mesa. A linguagem era horizontal. E cada objecto filmado em close up. Do último que estava atrás ao primeiro que estava à frente de todos os outros. À medida que se iam focando os mais próximos, os outros desfocavam-se. Era tudo muito rápido.
Grande experiência só por isto. Mas havia mais. Os fones, sim.
Havia som. Um poema do Gary Hill com 4 min ( o tempo do filme) pela voz ressonante de Lou Hetler, que transcrevo a seguir.
Lindo.
Site Recite (a Prologue)
"Nothing seems to have ever been moved. There is something of every description which
can only be a trap. Maybe it all moves proportionately cancelling out change and the
estrangement of judgement. No, an other order pervades. It's happening all at once, I'm
just a disturbance wrapped up in myself, a kind of ghost vampirically passing through the
forest passing through the trees.
A vague language drapes everything but the walls — what walls? The very walls that
never vary — my enclosure, so glorious from a distance, stands on the brink of nothing
like a four legged table. What is it? An island with a never ending approach? A stopgap
from when to where? Something to huddle over with my elbows like trestles without
tracks, the bases of which are scattered with evidence of unsolved crimes? The
overallness of it all soaks through, runs through the holes in my hands and continues to
run amok, overturning rocks that should not be overturned, breaking bread that should
not be broken.
The sun will rise and I won't know what to do with it. Its beak will torture me as will its
slow movement, the movement it invented that I can only reiterate.
The quieter and stiller I become the livelier everything else seems to get. The longer I wait
the more the little deaths pile up.
Bodily sustenance is no longer an excuse. Too much time goes by to take it by surprise.
So much remains. No doubt it can all be counted. Starting with any one, continuing on
with any other one until all is accounted for, a consensus is reached. That it can all be
shelved in all its quantized splendour, this then is the turf.
These sightings. This scene before me made up of just so many just views (nature's
constituency) sits with indifference to the centripetal vanishing point that mentality
posits so falsely. Brain, minding business, incessantly constructs an infinite series
of makeshifts designed to perpetuate the picture--the one like all others that holds
its breath for a thousand words, conversely exhales point zero zero one pictures.
This insidious wraparound, tied to the notion "I have eyes in the back of my head,"
binds me to my double, implodes my being to a mere word as it winds the world around
my mouth. A seamless scroll weaves my view back into place--back to back with
itself--the boomerang effect, decapitates any and all hallucinations leaving (lo and behold)
the naked eye, stalking each and every utterance that breaks and enters the dormitories of
perception. I must become a warrior of self-consciousness and move my body to move
my mind to move the words to move my mouth to spin the spur of the moment.
Imagining the brain closer than the eyes."
Existe apenas este excerto:
http://www.curatorforoneday.nl/art_play.php?id=2155
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