Ao entrares nessa porta – a mesma por onde saíste há dez meses – voltaram as dúvidas. Só por te ter duvido do teu amor. Só por te ter é que olho para ti com desconfiança e procuro os defeitos. Está tudo no mesmo lugar: a mesinha pequenina, que compraste e colocaste insistentemente ali, a fotografia no cimo dela, a televisão, que trouxeste de casa dos teus pais, na sala, que chamámos “de estudo”, com vista para o rio e o vestido, o único que ficou, como um resto de ti que não querias que deixasse de existir e que permaneceu pendurado no agora quase vazio armário de quarto da minha casa e da minha vida. Ao entrares nessa porta não te ligo. Já lá vai o tempo em que eras mais do que um mero vestido preto num amplo armário de cinco portas. Ao entrares nessa porta eu fico sentado. Fico sentado no sofá e tu passas por mim, sussurrando-me ao ouvido: “Vem ter ao quarto”. Eu vou. Sempre fui. Sigo-te, apanhando num molho a roupa que tu vais despindo e reparo que és mais do que um vestido… do que aquele tecido que embrulho nas minhas mãos. Sou aquilo que tu fazes de mim. O meu amor manifesta-se na capacidade que tenho de me anular para te ter. Mas agora é diferente e começo a perder essa capacidade. A única coisa que se mantém igual é o teu sorriso e aquele brilho no olhar que ninguém consegue retratar.
(João Freire)
22/06/2007
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