08/03/2022

 As mulheres são malucas dos cornos

Costumamos dizer que as mulheres são malucas dos cornos quando elas exageram nas suas reações ou pelo menos quando não se comportam da maneira que os outros - normalmente os homens - esperam delas. Mas nunca se diz que os homens sao malucos dos cornos quando fazem algo inesperado. E nós tendemos a justificar esse preconceito com as diferenças biológicas e sobretudo com a visão da mulher como um poço de hormonas que determina todos os seus comportamentos sem qualquer tipo de espírito crítico que possa sobrepor-se. Haverá bases cientificas para se dizer que as mulheres são mais emotivas, sensíveis e irritadiças quando, por exemplo, estão com o período, claro, até pelo simples facto de que tal condição provoca dor, mas também há estudos que dizem que em casais de lésbicas o síndrome da tensão pré-menstrual é menos evidente, nalguns casos até inexistente, o que poderá indicar alguma culpa do que normalmente rodeia uma mulher nesse, perdoe-se a redundância, período. Julgadas pela aparência, consideradas obsoletas a partir dos 40 no cinema, na televisão, na moda e em todos os trabalhos que vendem a juventude, nascem numa sociedade que ainda educa com preconceito, impede o acesso ao trabalho, remunera de maneira diferente, decreta o seu papel na família, no local de trabalho e na sociedade em geral com a pressão acrescida de ter de corresponder a expectativas irrealistas de beleza, até pode parecer fácil de compreender o porquê de se indignaram tanto, mas tal não significa que lhes possamos dizer que compreendemos porque é que são malucas dos cornos. Não funciona. E eu, por uma ou outra razão, meio a brincar ou a sério, sempre fui alinhando neste estereótipo, muito por causa de não perceber alguns comportamentos que me eram dirigidos. Sempre... até começar a notar, nesta minha busca incessante e chata de tentar (ter/compreender/arranjar) mulheres - e apesar de ter aprendido pouco -, que para além das desigualdades inerentes à condição feminina, há comportamentos que, aos olhos dos homens, parecem não fazer qualquer sentido mas com os quais qualquer mulher se identifica. O que nós achamos que é paranóia, obsessão, controlo ou irracionalidade por vezes é uma reacção perfeitamente justificável em determinadas situações que dizem respeito à sua própria segurança, algo que não passa pela cabeça de nenhum ou quase nenhum homem, mas que todas as mulheres já experienciaram no seu dia a dia desde desconhecidos que as seguem, a conhecidos que se acham no direito de lhes tocar sem respeito pelo seu espaço pessoal, passando por mensagens impróprias em que se insinuam e exigem reciprocidade, para não falar de casos mais exagerados de carros a meio da noite a circular devagar, de chips localizadores, agressões, violações e mortes. E nenhum homem sente isto. Nenhum homem pensa que talvez seja melhor cobrir alguma parte do corpo porque alguém pode pensar que o está a provocar. E sentir que pode ser qualquer um, desde o colega de trabalho de quem todos gostam, ao amigo virtual que é muito engraçado nos comentários do Facebook, por muito seguro que possa parecer, pobre ou rico, analfabeto ou ou instruído, gera desconfianças e receios que trespassam todos os relacionamentos. Há coisas concretas que diferenciam os sexos e que parecem estranhas a quem é diferente. Há estudos que comprovam este facto. E eu sei que dizer "há estudos que comprovam" não quer dizer nada, até porque os há para tudo e o seu contrário mas admitamos isso, que somos diferentes não por causa dessa dicotomia limitativa dos dois sexos, mas nas diferenças ilimitadas que nos tornam únicos, tentando compreender o outro sem condescendência e paternalismo - mais difícil para alguns, depois de escreverem textos como estes, do que para outros - mas com empatia (que é o que eu retiro do olhar do Jake Gyllenhaal para a Rihanna) não porque é homem ou mulher, mas, precisamente, porque é o outro. Feliz dia das mulheres e, como eu digo todos os anos na esperança de que se torne o lema oficial do dia das mulheres, que se fodam as mulheres! Mas bem, porque mal já estão elas fartas de o ser há muitos milénios.

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