09/06/2011

Explosões e implosões

Há as pessoas que explodem, não uma explosão literal, como a dos radicais suicidas ou a dos soldados portugueses aos pontapés em granadas na Bósnia (lembram-se?), mas uma explosão emotiva e irracional que nos impele a mudar. Essas explosões ocorrem quando se atingem certos limites, sejam eles de paciência, sofrimento… o que seja, que levam as pessoas a dizer um "basta", um rotundo "foda-se" ou, em alternativa, a partir para a chapada e ninguém pode questionar a capacidade libertadora de ambas. Depois mudam. Mudam de país, mudam de namorada, mudam de atitude perante a vida e isso tanto pode ser positivo, como negativo. Nestas coisas das pessoas nunca há duas iguais nem certezas absolutas (por muito que os livros de auto-ajuda queiram dizer o contrário) e se há pessoas muito contentes com as explosões que protagonizaram, também haverá algumas que não conseguiram mais nada do que afundar-se ainda mais na infelicidade do fracasso, como se de uma explosão de pólvora seca se tratasse... fogo de artifício!
E depois (como há sempre dois tipos de pessoas – garanto-vos que os há e que são só dois), depois, dizia, há as pessoas que implodem… ou melhor, que vão implodindo devagarinho graças a pequenos episódios de descalabro interior. Estas pessoas amargas, que se escondem por detrás do cinismo e arrotos de despreocupação e que têm geralmente um tremelique nervoso no olho, tanto podem ter fracassado em grande, como podem acumular pequenos insucessos psicossociais que os vão envenenando devagarinho enquanto esperam por um antídoto, como se os melhores dias, as soluções para os seus problemas se aproximem sem que façam muita coisa por isso. Às vezes acontece. Lá está, nestas coisas nunca se pode fiar, mas geralmente não. Por isso gosto do primeiro tipo de pessoas (e delas, claro, das pessoas), pessoas que arriscam para avançar, mesmo que antes de avançar dois passos tenham de retroceder um (em jeito do que a Finlândia fez e o Bloco de esquerda queria fazer num nível nacional e político que não é o que eu quero discutir). Por gostar dessas pessoas que explodem, não quero dizer que aconselhe esse modo de vida… não quero sequer dizer que esse seja o meu tipo de pessoa… se pensar bem, raramente explodi… tirando alguns episódios em que queria (o álcool queria)  andar à porrada e mais ninguém quis… mas também não quero dizer de todo que o segundo tipo de pessoa seja melhor, porque “Ficar a olhar com uma esperança ociosa equivale a deixar passar a vida em devaneios”, já dizia o Yann Martel n’A Vida de Pi… mas pensando bem, até um relógio avariado está certo duas vezes ao dia! Mas não sei… Sei que há limites! Sei que os há e que talvez todos tenham um limite. E sei que a forma de lidar com esses limites define aquilo que somos e a vida que levaremos daí em diante. Talvez alguns limites exijam explosões, talvez exijam um pouco de paciência… talvez as explosões devam ser controladas, mas isso do controlo até tem mais a ver com implosões, pelo que talvez…
Talvez, talvez… foda-se! Por agora, atingi o meu limite de escrita.

(João Freire)



Para o tema de Junho de 2011, subordinado ao tema "Os problemas resolvem-se à chapada" , num desafio da "Fábrica de Letras".

21 comentários:

ipsis verbis disse...

Explosões e implosões é tudo farinha do mesmo saco! é tudo a mesma merda!
Desculpa lá a linguagem mas também explodi há pouco e ainda estou a apanhar os cacos...

Moyle disse...

há pessoas que explodem e depois há a Sónia Brazão. (o resto do texto leio amanhã porque hoje não devo ter tempo)

Moyle disse...

já li o resto do texto e mantenho o comentário:)

Paula disse...

Há pessoas que explodem sim quando atingem o limite de algo que as incomoda, explodem, dizem/mostram o que lhes vai na alma e andam para a frente.
Há pessoas que remoem... e remoem e voltam a remorer, massacram, repisam, chateiam, nem atam nem desatam e vira o disco e toca o mesmo!
Acho, que elas até gostam de ser assim, nunca se deram foi ao trabalho de pensar ou tentar perceber porque é que são assim... chatas, "amargas" sim!
Também gosto mais das explosivas!

ipsis verbis disse...

Moyle,

Ahahahah, explosivo!

Johnny disse...

Ipsis, por acaso, acho que não se devem escrever comentários sob o efeito de álcool... e explosões!

Moyle, por acaso, gosto muito dessa actriz... parece ser fixe, não sei porquê... sempre gostei dela... e não apreciei muito a piada - não porque não tenha piada, mas porque foi acerca da Sóninha.

Paula, também há gente que explode por tudo e por nada... e essas explosões não deviam acontecer... ainda hoje fui vítima de uma dessas... infelizmente... explosões essas que me vão fazendo explodir... qualquer dia rebenta tudo e toda a gente perde. E isso é mau.

Catsone disse...

Johnny, afinal há um 3º tipo de pessoas: as mistas, que implodem e explodem, certo?
É que se não houver fico no limbo...

Paula disse...

Sim é verdade, há gente que explode por coisas que não teem importância nenhuma.
Mas não sei se foste vítima de uma explosão, se de um recalcamento explosivo... será?
Nesses casos não vale a pena explodir... é melhor ignorar... o recalcamento fica maior e é muito mais giro!!!
E sim, todos perdem e é mau!

Moyle disse...

deixa lá johnny, não fiques melindrado pelo mau gosto dos outros.

Johnny disse...

Catsone, há uma tendência dicotómica. Claro que há alturas em que actuamos em desacordo com essas tendências - eu até já vi benfiquistas assobiar o Benfica??????? - mas somos tendencialmente explosivos ou implosivos... até porque só h+a dois tipos de pessoa!

Paula, o problema das explosões é o de haver danos colaterais. Se uma pessoa está perto, tende a magoar-se, mas eu não costumo importar-me muito com as explosões de pessoas que me dizem pouco, em momentos que me dizem menos... só chateia, um pouco.

Moyle, OK, eu não fico, mas que SEJA A ÚLTIMA VEZ!!!!

mz disse...

Finalmente Johnny!
Estás a ver como existe sempre alguém que nos leva a algum tipo de explosão?
Se nós não te picarmos tu nem escrevias este texto e nem tinhas o prazer de atingires o climax final com um F grande!

Valeu o esforço :)))

Catsone disse...

Isso dos benfiquistas a assobiar o SLB é o que mais há (e espero continue assim por muitos mais anos :D)

Johnny disse...

Mz, não é bem picar... mas prontos... lá se faz a vontade :)

Catsone, no teu caso, seria mais Portistas a assobiar o Porto.

Paula disse...

"Duas pessoas olham através das mesmas grades. Uma vê a lama, e outra, estrelas".
Frederic Lambridge (Escritor Inglês)

Moyle disse...

compreendo-te mas, conhecendo-me, não posso garantir grande coisa

ipsis verbis disse...

Johnny,

Tens toda a razão, mas na altura foi uma espécie de catarse e soube-me a cerejas.

Johnny disse...

Moyle e Ipsis... artolas!

Briseis disse...

É sempre tão bom ler o que escreves! =) E adorei que tivesses citado a frase dos relógios parados! Já escrevi no meu blog sobre ela... num outro contexto, muito diferente...

Johnny disse...

Briseis, muito, mas muito obrigado. já agora, aproveito este meio para pedir desculpa de não consultar os outros blogues tanto quanto gostaria... na realidade, tem sido quase nada... mas estão à espera e hei-de lê-los (quase) todos.

Roselia Bezerra disse...

Olá,
Esses altos e baixos nos torturam... com o tempo aprendi a compreender os meus motivos... isso me acalmou nas implosões e explosões...
Hoje em dia... sou mais equilibrada e INTEGRADA... mas requer auto conhecimento e tempo...
Abraços fraternos de paz

Johnny disse...

orvalho do ceu... uma explosão por dia, nem sabe o bem que lhe fazia :)