11/10/2007

A propósito da vida quando estamos a morrer

"Eu morri no dia 6 de Janeiro de 2000.
7 dias antes, tinha-me despistado com o meu carro e por isso nessa noite não conduzi. Eu e um amigo meu. Um desgraçado a quem a vida lhe correu mal e hoje para sobreviver, faz parte do elenco dos Morangos com Açúcar. Tivemos um acidente a 190 Km. Há qualquer coisa nos carros potentes, que nos faz não reparar quando a velocidade é demais, pois o carro não se ouve, não vibra e às 06:30 com a estrada vazia não se nota mesmo.
(...)
Foi num momento, no momento exacto que o carro embate e ainda não sentimos que ele bateu, mas já não há luz. Foi nesse momento que me deu o flash, vi a minha vida. Tudo se passou como um show de Slides (ou diapositivos), milhares de fotos, organizadas por ordem cronológica das nossas memórias desde que nasci até àquele momento. Tudo se passa numa fracção de segundos que parecem minutos.
(...)
Lembro-me do meu pensamento quando vi a parede, antes de ter tido esse "flash back" e lembro-me de o ter pensado em voz alta, "já fui". Nem mais nem menos palavras. No momento que poderia ter morrido, cometi um erro gramatical, colocando na mesma frase "já" de agora, presente, seguido de "fui", verbo ser, passado."


in "Só me apetece cobrir"

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