21/12/2011

Across the Universe



Acordou com um bem estar inexplicável e algumas considerações avulsas sobre o tempo, esse rolo compressor que nos esmaga docemente. Depois sentiu um odor de antigamente, uma mistura de cheiros das brincadeiras, locais e pessoas da sua infância que se enleava com a memória de alguns acontecimentos perfeitamente casuais, como daquela vez em que caíra da bicicleta. Perseguiu essa mistura odorífica até à rua, sorrindo enquanto se preparava, com a imagem da bicicleta vermelha e a cicatriz que ainda o acompanhava, como se algo familiar o esperasse lá fora, mas nada apareceu. Apenas trapaças do seu cérebro. Por fim olhou o céu. Viu nos traços de condensação deixados pelos aviões as possibilidades que sempre o animavam, inspirou profundamente e sorriu. 

(João Freire)

Fiona Apple - Across the Universe

12 comentários:

Brown Eyes disse...

johnny o tempo é mesmo um rolo compressor que nos limita a criação. Criar lutando contra o tempo não permite grandes obras de arte. Já imaginaste o que poderias fazer se não andássemos limitados pelo relógio? Tantas vezes que penso nisso. Estar sempre presente precisa de disponibilidade e nós temos horas para tudo. A noite cai depressa demais.
Também tive uma queda de bicicleta quando era criança, na minha terra Natal. Lembro-me muito dela. Porquê? Disseram-me nessa altura as palavras certas, que me incentivaram a continuar a andar. Foi nas minhas primeiras viagens de bicicleta e por azar cai em cima de outra bicicleta que tinha um garrafão que se partiu. Já era demasiado responsável pelos actos que cometia e alguém pagar por eles, o meu pai teve que restituir o garrafão, foi algo que me fez balançar, quase desisti mas, aquelas palavras deram-me o incentivo que precisava. Coisas de uma criança que nunca se esquecem. Adorei João Freire.
Vim dar-te um beijinho, deixar-te um enorme pacote com PAZ, AMOR e SAÚDE para o novo ano. Virei renovar os meus votos sempre que o tempo me liberte. No pensamento estão sempre os amigos, esse o tempo não consegue parar, mas ele os amigos não conseguem ler, por isso há que dizer-lhes: Continuo a lembra-me e a estar aqui para ti. Beijinhos

! disse...

É o tempo tem destas coisas, não pára, não dá tréguas, e, é mesmo docemente que passa por nós ou nós por ele. Também dou comigo por vezes a pensar nisso... no tempo...
Essas recordações de infância, situações, os lugares, os cheiros, tudo isso tem uma carga extremamente grande e quer queiramos quer não irá acompanhar-nos toda a vida, claro que há uns dias que estamos mais predispostos a essas "pequenas" coisas, mas que nos fazem sentir tão bem.
Também tive uma bicicleta, e claro uma vez fui contra o contentor do lixo, acontece! Mas cair não, quando via que ía a cair saltava da bicicleta, ela que se aleijasse sozinha. Como tal, nenhuma cicatriz de queda de bicicleta me acompanha, mas tenho cicatrizes e uma delas é de acidente de automovél, um "pouco" mais grave que queda de bicicleta. Lá está, também um cheiro acompanha esse acontecimento, primeiras chuvas de setembro (dia 19) tinha 18 anos. Todos esses acontecimentos fazem parte de nós e mesmo que alguns sejam menos agradáveis, de vez em quando é bom recordá-los.
Bom texto, leve e airoso e olhar o céu é sempre bom.

Pronúncia disse...

É mesmo isso que o tempo é... um rolo compressor e dos grandes, mas por outro lado é ele que nos dá direito a sentir essas memórias odoríficas que sabem sempre tãaaaaao bem, não sabem?!

Por entre o luar disse...

http://www.youtube.com/watch?v=BvN70VZrfqY

Belo texto :) ***

ipsis verbis disse...

E é tão bom acordar assim. Tenho recordação de acordar assim em criança, quando antes de me levantar da cama me lembrava que era sábado. Nesses segundos antes de me levantar experienciava um bem estar absoluto :)

"o tempo, esse rolo compressor que nos esmaga docemente" - indeed

João Roque disse...

Já tantas vezes referi a importância do tempo na Vida, e principalmente, na minha vida...
Hei-de ser sempre um escravo do tempo.

Briseis disse...

Time is a bitch... mas é ele que não deixa banalizar estaspequenas coisas... e o cheiro da manhã de Natalé uma delas. Beijinho e tudo de bom não só nos dia de Natal mas todos os dias entre eles...

Johnny disse...

Mary, obrigado... és um anjo! Mal empregado garrafão, principalmente se estivesse cheio de vinho :) Olha, eu se tivesse mais tempo... dormia!

! Carro ou bicicleta... é tudo a mesma coisa :) ou não.

Pronúncia, sabem sim senhora!

Por entre o luar... e quem mostrou, quem mostrou? É isso... sou o maior!

Ipsis, isso acontece-me quando não vou trabalhar... ou quando vou mais tarde... são as pequenas conquistas... nem que seja 5 minutos à campeão!

pinguim, somos todos... até ao dia em que deixamos de ser :) ou :# não, é mesmo :(

Briseis, é o time, é a life... são as women :( é tudo bitch... Beijinho e bom ano... agora :)

! disse...

Pois... não sei... talvez... se tu o dizes és capaz de ter razão!
O meu foi mais chapa a rasgar e pára-brisas a partir com a cabeça, por isso é que eu sou assim... já era antes... fiquei pior!!!

Catarina disse...

Um texto com cor, odor e saudade... Gostei ;)*

Fê blue bird disse...

Há cheiros, sons e marcas no corpo, que no recordam com um sorriso nos lábios os ternos tempos da nossa infância.
Adorei!

beijinhos

Moyle disse...

e este tempo? fresquinho, hã? o nariz é que manda em nós e se o nariz manda, o dia corre bem. ainda que tenha mandado por equívoco.