Acho que começará com o sol a entrar pelos buracos da persiana, o afastar dos lençóis, o sentar na berma da cama e coçar alguma parte do corpo (talvez o peito do pé, mesmo na junção com a perna), o espreguiçar, levantar e caminhar até à casa-de-banho… Acho que será assim! E será aí nesse instante que tudo se decide – Tudo sobre o que é a nossa vida e o que vamos fazer com ela. Depois, grande parte do dia será dedicada à normalidade rotineira do quotidiano: coisas práticas como tomar banho, lavar os dentes, tomar o pequeno-almoço, sair e trabalhar. Mas de certeza que algures nesse dia haverá um sorriso, uma gargalhada até, que ninguém compreenderá, mas que será a epifania da própria existência, um último alívio que confirma a decisão. Pode haver também uma parte de apreensão, nervosismo e até alguma tristeza… admito que alguém possa chorar nestas circunstâncias, mas penso que o sentimento de alívio será mais comum. Tudo o resto será esparso, dependendo da forma escolhida - eu escolheria uma rápida -, nunca dispensando muita preparação e algum trabalho manual, terminando tudo (como quase sempre termina) com um corpo rígido e uma carta de despedida num tom invulgarmente doce.
(João Freire)
11/06/2009
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6 comentários:
A forma mais rápida será a melhor solução?
Penso que não*
beijo*
Comparando um tiro de uma arma ou um impacto numa parede a 200 km/h com uma corda, o afogamento ou até o suicídio BASE jumping, eu escolheria o cheiro a pólvora ou o barulho das rodas a chiar no meio de um monte imperceptível de bocados do que foi outrora um carro.
Mas é uma daquelas coisas que só experimentando.
A forma que o David Carradine escolheu, embora tivesse recorrido ao enforcamento, também não parece ser má... afinal, morreu com um orgasmo.
Sempre que eu de manhã coçar qualquer que seja a parte do meu corpo... vou tentar concentrar-me muito bem... se é nesses instantes que tudo se decide, então eu quero estar bem lúcida para tomar tais decisões. =|
Outch!
Já ninguém deixa cartas de despedida. Quanto muito um mail ou umas linhas no word, com o computador ligado... ou um post-it (daqueles electrónicos, claro). Um sms também poderia ser... um último post no blog pessoal!
A decisão, embora muitas vezes tomada há algum tempo, só costuma ser interiorizada e passada à acção naqueles momentos "ah! Foda-se!"... Será um desses momentos, Ginger.
Quanto à forma da despedida, restam as cartas e a tinta das canetas para os puristas literários... ou para os obsessivo-compulsivos que não conseguiriam deixar de pensar que o computador poderia desligar-se, que a mensagem poderia não ter passado no filtro...
Estranhas formas de morrer, mas cada um sabe de si.
É mais um dos mistérios do cérebro, que por mais explicações que se tentem dar não se chega lá.
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