21/12/2008

Será por amor

Foi em Guimarães.
Estava sentado com dois amigos numa mesa de um café e apenas duas pessoas partilhavam o mesmo espaço. Uma dessas pessoas estava atrás do balcão, o que a torna dispensável para a história - habituados a tudo, não ligam a nada, espera-se até que assim seja -, a outra era uma rapariga, provavelmente da mesma idade que nós.
Uma garrafa de água das pedras, um café e um cigarro. Nada mais. Tão normal que pouca atenção lhe dispensámos. Foi apenas quando as lágrimas começaram a verter que algo em nós mudou. Aquela rapariga deixara de ser uma rapariga normal para passar a ser uma rapariga com história. Sorrateiramente, olhámos para ela com atenção, um à vez para que não se notasse muito. Nenhum de nós entendia como uma rapariga tão bonita podia estar a chorar.
É o amor!
Pensamos (penso) sempre que quando alguém chora o faz por amor.
Problemas familiares resolvem-se em casa, com o resto da família (principalmente quando alguém morre), e doenças é com os amigos, do género "tenho cancro, vamos curtir ao máximo a vida". Toda a gente sabe disto.
Apenas o amor chama a solidão e isso acontece porque ninguém consegue perceber aquilo que sentimos - é isso que também pensamos sempre.
Pensamos muito, nós.
Seria, então, amor.
E uma necessidade cresceu dentro de mim, que me fazia pedir-lhe para se juntar a nós, no mínimo perguntar-lhe se estava tudo bem ou se precisava de alguma coisa. Foi essa vontade que partilhei com os outros dois, foi isso que eles, prontamente, me aconselharam a fazer, mas não foi isso que eu fiz. Porquê?
Porque tive medo.
Do quê?
Não sei. E já na altura não sabia.
Mas é um medo que nos acompanha a todos e com o qual não conseguimos lidar, porque apesar de todos procurarmos companhia, achamos sempre que os outros não vão querer a nossa. Não há razão, já o escrevera whitman*.
Sei que eu estava feliz. Já passou um ano e sei que estava feliz. E sei-o porque ela chorava. É sempre mais fácil vivermos a nossa felicidade perante a infelicidade dos outros.

* To you, de walt Whitman, lido aqui

(João Freire)

6 comentários:

Por entre o luar disse...

*O amor não tem sentido não tem explicação*
E concordo quando dizes que quando estamos a sofrer por amor procuramos a solidão e isso acontece porque ninguem percebe o que sentimos, e ninguém percebe mesmo, porque penso que as vezes nem nós própios percebemos!

"O amor tem razões que a própia razão desconhece", já dizia o poeta*

beijo*

Johnny disse...

Que procuramos a solidão, sim, mas que ninguém entenda... isso já duvido. Acho mesmo que toda a gente entende, porque: em primeiro, toda a gente passa pelo mesmo e, em segundo, há coisas que até se notam mais facilmente de fora do que estando por dentro.

Unknown disse...

Acredita que não entendem, cada qual tem o seu modo de viver os sentimentos e o sofrimento que eles podem trazer!
Como se costuma dizer: "Só quem está dentro do convento é que sabe o que la vai dentro"

Beijo*

ipsis verbis disse...

Não é bem medo... Mas nessas alturas,"quando as lágrimas começaram a verter" mesmo que não precisem da nossa companhia, lidamos melhor com a rejeição. Devias ter ido lá. :P

Anónimo disse...

O amor e consequentemente a sua perda, é um sentimento muito intimo. Todos (ou quase todos) já passarm pelo mesmo e acho que todos o entendem mas ha uma necessidade de estar só e de ir ate ao fundo do poço para apanhar balanço e subir novamente. Mas muito bonito o que escreveste:)

Johnny disse...

Mariana, em primeiro lugar, bem-vinda (acho que é a primeira vez que aqui vejo uma Mariana), em segundo, cada vez acredito mais que somos todos muito iguais e que a percentagem de diferença será, quanto muito, infíma... embora continue a achar que eu sou especial :)

Ipsis, pois devia... no entanto, não fui!

É intímo, mas não será muito diferente (insisto eu) e o que interessa é que seja bonito :)