Foi em Guimarães.
Estava sentado com dois amigos numa mesa de um café e apenas duas pessoas partilhavam o mesmo espaço. Uma dessas pessoas estava atrás do balcão, o que a torna dispensável para a história - habituados a tudo, não ligam a nada, espera-se até que assim seja -, a outra era uma rapariga, provavelmente da mesma idade que nós.
Uma garrafa de água das pedras, um café e um cigarro. Nada mais. Tão normal que pouca atenção lhe dispensámos. Foi apenas quando as lágrimas começaram a verter que algo em nós mudou. Aquela rapariga deixara de ser uma rapariga normal para passar a ser uma rapariga com história. Sorrateiramente, olhámos para ela com atenção, um à vez para que não se notasse muito. Nenhum de nós entendia como uma rapariga tão bonita podia estar a chorar.
É o amor!
Pensamos (penso) sempre que quando alguém chora o faz por amor.
Problemas familiares resolvem-se em casa, com o resto da família (principalmente quando alguém morre), e doenças é com os amigos, do género "tenho cancro, vamos curtir ao máximo a vida". Toda a gente sabe disto.
Apenas o amor chama a solidão e isso acontece porque ninguém consegue perceber aquilo que sentimos - é isso que também pensamos sempre.
Pensamos muito, nós.
Seria, então, amor.
E uma necessidade cresceu dentro de mim, que me fazia pedir-lhe para se juntar a nós, no mínimo perguntar-lhe se estava tudo bem ou se precisava de alguma coisa. Foi essa vontade que partilhei com os outros dois, foi isso que eles, prontamente, me aconselharam a fazer, mas não foi isso que eu fiz. Porquê?
Porque tive medo.
Do quê?
Não sei. E já na altura não sabia.
Mas é um medo que nos acompanha a todos e com o qual não conseguimos lidar, porque apesar de todos procurarmos companhia, achamos sempre que os outros não vão querer a nossa. Não há razão, já o escrevera whitman*.
Sei que eu estava feliz. Já passou um ano e sei que estava feliz. E sei-o porque ela chorava. É sempre mais fácil vivermos a nossa felicidade perante a infelicidade dos outros.
* To you, de walt Whitman, lido aqui
(João Freire)
Ingenuidade
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Não são só as crianças que são ingénuas.
Há um dia que perdemos essa qualidade (ou defeito).
Ninguém nos ensina a viver mas, a vida ensina-nos que, as ...
6 comentários:
*O amor não tem sentido não tem explicação*
E concordo quando dizes que quando estamos a sofrer por amor procuramos a solidão e isso acontece porque ninguem percebe o que sentimos, e ninguém percebe mesmo, porque penso que as vezes nem nós própios percebemos!
"O amor tem razões que a própia razão desconhece", já dizia o poeta*
beijo*
Que procuramos a solidão, sim, mas que ninguém entenda... isso já duvido. Acho mesmo que toda a gente entende, porque: em primeiro, toda a gente passa pelo mesmo e, em segundo, há coisas que até se notam mais facilmente de fora do que estando por dentro.
Acredita que não entendem, cada qual tem o seu modo de viver os sentimentos e o sofrimento que eles podem trazer!
Como se costuma dizer: "Só quem está dentro do convento é que sabe o que la vai dentro"
Beijo*
Não é bem medo... Mas nessas alturas,"quando as lágrimas começaram a verter" mesmo que não precisem da nossa companhia, lidamos melhor com a rejeição. Devias ter ido lá. :P
O amor e consequentemente a sua perda, é um sentimento muito intimo. Todos (ou quase todos) já passarm pelo mesmo e acho que todos o entendem mas ha uma necessidade de estar só e de ir ate ao fundo do poço para apanhar balanço e subir novamente. Mas muito bonito o que escreveste:)
Mariana, em primeiro lugar, bem-vinda (acho que é a primeira vez que aqui vejo uma Mariana), em segundo, cada vez acredito mais que somos todos muito iguais e que a percentagem de diferença será, quanto muito, infíma... embora continue a achar que eu sou especial :)
Ipsis, pois devia... no entanto, não fui!
É intímo, mas não será muito diferente (insisto eu) e o que interessa é que seja bonito :)
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