Em Portugal protesta-se pouco, já o tenho dito a quem quer ouvir. E não ironizo. É a mais pura das verdades. É certo que, em pleno clima de contestação no sector do ensino, dizer que se protesta pouco possa parecer ridículo, mas não é. E não é por uma simples razão: porque em Portugal não se protesta com boas ideias, mas sim com muita política* – a eterna discussão entre a quantidade e a qualidade, portanto, ou, nas palavras desse magnânime politólogo que é o senhor Quique Flores, “corre-se muito, mas nem sempre bem”. E ora bem, respeitando a analogia, é esse o sentido da minha crítica à forma de protesto que se faz em Portugal, que é, nalguns casos, abundante, mas raras vezes precisa e eficaz (Também não me desresponsabilizo). Os professores podem ter toda a razão do Mundo, mas apresentarem-se a terreiro, sob a batuta do sindicalista de bigode**, o senhor Mário Nogueira, com números recordes de participantes, parece-me, no mínimo, curto. E sei que haverá várias razões para discordarem com o modelo de avaliação, sei também que todos afirmam e reafirmam que não dispensam uma avaliação coerente, mas não consigo dissociar a partidarização da questão, desde logo, devido à concomitância eterna dos sindicatos com o Partido Comunista Português – e todos vimos o mesmo delegado Sindical de bigode ao lado dos seus camaradas no congresso do PCP, mas sobretudo pela intransigência nas negociações que transparece para a opinião pública e os pedidos de demissão da Ministra Maria de Lurdes Rodrigues, porque, por muita higiene política e ética que se possa ter, é inegável que tais artifícios não sejam mais do que simples armas de arremesso político, catapultas, por exemplo, à custa dos professores, que são arremessados com fins eleitoralistas. Proteste-se, mas com qualidade.
*A política de que se fala no texto não é a grande política, a filosofia política propriamente dita (antes fosse!), mas será a politiquice, numa definição mais pejorativa, logo, mais correcta.
**Recordo-me de alguém me dizer: "nunca confies numa pessoa de bigode", do latim Non confiare bigodum (?). Foi um conselho de alguém ou ouvi em qualquer lado, mas marcou-me e ficou para sempre, daí falar com alguma desconfiança do senhor Mário Nogueira, de quem não tenho a mínima razão de queixa, a não ser, lá está, essa desconfiança. A parte do Latim é treta, mas, no entanto, se querem latim e conjunto capilar facial, fica esta: Barba non facit philosophum***
*** Deve ser o primeiro texto no qual um asterisco tem o seu próprio asterisco, mas urge referir que tal necessidade por línguas mortas se deve à inveja pessoal. João Freire, Desde 1980 a copiar a mana, que também pôs no seu blogue uma expressão em latim no fim do texto de 29 de Novembro
(João Freire)
Ingenuidade
-
Não são só as crianças que são ingénuas.
Há um dia que perdemos essa qualidade (ou defeito).
Ninguém nos ensina a viver mas, a vida ensina-nos que, as ...
2 comentários:
A piada que eu acho a alguns protestos!
Um destes dias, vários professores protestavam em frente aos Armazéns do Chiado, balbuciavam qq coisa que não percebi bem, e só soube que eram professores pq cada um tinha uma t-shirt branca a dizer "professores blá blá blá". E enquanto uns "balbuciavam qq coisa que não percebi bem", dezenas de outros entraram para o quentinho do centro para fazerem compras. É assim que alguns protestam em Portugal.
Quanto às expressões em latim,(lembrei-me agora de comentar isto) uso-as pq parecem que me dizem ainda mais, ou com mais verdade, tudo o que quero transmitir. E acho que acabam em beleza o que quero dizer.
Línguas mortas ou vivas, acho-lhes piada. Tentei o russo autodidaticamente, mas perdi os ficheiros que já tinha gravados no pc... agora aborrece-me ter que procurar tudo. Enfim... sou um pouco de vontades e manias...
Houve em tempos uma expressão que usava muito, em situações que a "pediam":
"aquila non captat muscas"
(às vezes "capit" tb aparece no google e não sei ainda qual das duas formas está correcta)
Enviar um comentário